Você seria favorável à reprodução seletiva de cães com a única finalidade de reduzir o tamanho de seus focinhos, mesmo que isso tornasse miserável a vida deles? Pois é o que acontece com algumas espécies, chamadas braquicefálicas, como as raças Pug, Shih Tzu, Buldogue Francês, Buldogue Inglês, Pequinês, Lhasa Apso, Boxer, Cavalier King Charles Spaniel e Boston Terrier, por exemplo.
Diferentemente de outras raças, estas são criadas para ter focinhos e testas praticamente planas. Tais características fazem com que os cães braquicefálicos tenham inúmeras dificuldades, sofrimento e dor ao longo de suas vidas. O problema é que estas mesmas características tornaram estes animais fofos e muito procurados pelo público, movimentando o mercado pet. Segundo a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), das cinco raças mais registradas em 2018 no Brasil, três são braquicefálicas.
Desenvolvimento incompleto
A braquicefalia nos cães envolve, entre outras anormalidades, a redução dos orifícios nasais e o desenvolvimento incompleto da traqueia (que filtra, umedece e conduz o ar aos pulmões). Outro problema é o palato mole prolongado, que “vibra” durante a respiração do animal, produzindo um barulho que lembra um ronco, que prejudica ou compromete a respiração. Além disso, o maxilar superior recuado destes animais, não deixa espaço para os dentes, que acabam crescendo em ângulos diferentes, podendo causar doenças dentárias.
Outra situação grave enfrentada pelos cães braquicefálicos é a redução do tamanho do seu crânio, fazendo com que seus olhos fiquem sempre arregalados, as pálpebras incapazes de cobri-los completamente e a produção de lágrimas comprometida. Por fim, entre as complicações mais severas que estes animais enfrentam está a dificuldade de arquejar (respirar profundamente), recurso utilizado pelos cães para regular sua temperatura, o que os torna extremamente propensos a desmaios e insolação.
Tudo isso nos permite concluir que continuar reproduzindo e comercializando estes animais forçadamente, sabendo do sofrimento e da dor imputados a eles, com a única finalidade de obter lucro, é no mínimo, desumano.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)