Em novembro de 2021, o Brasil se tornou o primeiro País do mundo a permitir a importação de farinha produzida com trigo transgênico. Até aquele momento, o HB4, desenvolvido e cultivado pela Argentina, sequer tinha uma confirmação oficial sobre a liberação efetiva para a comercialização em seu próprio território. Na última semana, no entanto, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), especializada em formular normas para organismos geneticamente modificados, aprovou o cultivo e a comercialização do HB4 aqui no Brasil.
A decisão vem sendo contestada por especialistas e movimentos da sociedade civil, que consideram um verdadeiro crime fazer do Brasil o único País do mundo, além da Argentina, que desenvolveu o produto, a liberar o cultivo desta variedade de trigo, quando nenhum outro permitiu. Apesar de garantir maior produtividade e ser mais tolerante às condições climáticas extremas, o trigo transgênico HB4 é também mais tolerante ao glufosinato de amônio, um dos agrotóxicos mais perigosos para a saúde e o meio ambiente.
No ano passado, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), publicou a segunda edição do estudo “Tem veneno nesse pacote”, revelando que alimentos de origem animal como frios, requeijão, hambúrgueres, salsichas e linguiças, contêm resíduos de agrotóxicos. A primeira edição, publicada um ano antes, analisou bebidas, biscoitos, pães e salgados, constatando que quase 60% dos produtos apresentavam resíduos de venenos agrícolas. Isso significa que, seguramente, mais da metade dos produtos produzidos com a farinha transgênica, terão resíduos de um dos venenos mais perigosos do mundo ainda em uso.
Para piorar, um levantamento inédito da Agência Pública e da Repórter Brasil, apontou que pelo menos 439 pessoas morreram por intoxicação causada por agrotóxicos entre 2019 e 2022. Outro estudo, da professora Larissa Bombardi (USP), aponta que para cada caso notificado de intoxicação por agrotóxicos, há pelo menos 50 que não foram notificados. Estamos falando de dezenas de milhares de casos e esta decisão só tende a aumentá-los.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)