O inadiável impeachment de Jair Bolsonaro foi sem dúvida contaminado pelo afastamento ilegal da ex-presidenta Dilma Rousseff, que há 5 anos atrás levou o País à uma encruzilhada, principalmente pelo processo ter sido aberto e concluído sem comprovação de crime de responsabilidade, conforme prevê a lei. A espetacularização daquele julgamento criou um expediente cruel e ilegítimo: a ignorância aos preceitos legais para atender parte da opinião pública, induzida pela mídia corporativa e por um juiz parcial.
Se Dilma foi afastada sem ter cometido crime, com Bolsonaro acontece o contrário: abundam os crimes mas falta compromisso dos parlamentares, seja o presidente da Câmara ou deputados da base governista, com a Constituição Federal e o futuro do País. Mesmo cansado de receber denúncias, Arthur Lira não colocou em discussão até agora, nenhum dos mais de 100 pedidos de impeachment protocolados na casa. Se colocasse, talvez o processo não prosperasse, já que o presidente construiu e aparentemente mantém, com expedientes espúrios, maioria entre os 513 deputados.
Isso não significa que os pedidos devem ser engavetados, mas ao contrário, que além de urgente é imprescindível a pressão popular em cima de cada deputado eleito, cobrando uma postura honesta e democrática. Enquanto a base do governo na Câmara estiver confortável, jamais irá querer mudanças, a não ser que a estagnação comprometa a reeleição daqueles que se entregaram ao bolsonarismo. A premissa é simples: é muito pouco provável que os parlamentares que apoiam Bolsonaro por ocasião, arrisquem seu futuro político para defender o indefensável.
O afastamento de um presidente verdadeiramente corrupto, criminoso e notadamente genocida, é peça fundamental para o reestabelecimento do estado democrático de direito, tão maltratado no Brasil nestes últimos anos. Não é a solução definitiva, uma vez que serão necessários esforços imensuráveis para reverter o estrago causado pelo miliciano no Planalto, mas pode ajudar a resgatar a confiança dos brasileiros nas instituições e no próprio País.
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)