Sempre que falamos da redução do uso de agrotóxicos no Brasil, recebemos uma enxurrada de mensagens, críticas e ameaças de ruralistas e suas milícias digitais, dizendo que safras inteiras se perderiam e o brasileiro passaria fome se não utilizassem venenos. Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que é possível e viável produzir sem agroquímicos. Em segundo, temos que lembrar que o Brasil voltou ao mapa da fome, mesmo com recordes na produção de grãos, ou seja, o agro não alimenta.
Hoje existem inúmeras políticas públicas para fomentar o agronegócio. Cito como exemplo as isenções e benefícios tributários para a cadeia do veneno, na casa dos bilhões de reais ao ano. Imaginem se a agroecologia, a agricultura familiar e orgânica recebessem o mesmo apoio, financeiro, tecnológico e até assistência técnica, por parte do governo. Seguramente os produtos orgânicos não seriam tão caros para o consumidor final, mas este é apenas um dos ganhos do investimento no pequeno produtor rural.
Outros benefícios estão ligados à qualidade do alimento; à redução dos gastos em saúde; à preservação do meio-ambiente e dos recursos naturais; à manutenção do trabalhador na roça; ao fomento à economia local; à distribuição de terras e de renda, só para citar alguns exemplos. Ao ler estas linhas, muita gente irá perguntar: “como então fazer esta transição, de um modelo baseado no latifúndio, na monocultura e no uso intensivo de agroquímicos para um modelo sustentável?”. Se eu disser que a solução é simples, estarei mentindo, o que não quer dizer que seja impossível. Há um caminho e ainda há tempo.
Ao mesmo tempo em que tramitam no Congresso projetos para liberar mais venenos, há propostas no sentido contrário, como a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA). Trata-se de um instrumento que prevê a diminuição dos agroquímicos; implementação de políticas públicas, de financiamento e capacitação dos pequenos produtores, respeitando seu modo de vida e o ambiente em que estão inseridos. O resultado é a produção de alimentos saudáveis; um meio ambiente equilibrado; geração de emprego e renda, colocando o País novamente no rumo do desenvolvimento sustentável. Vamos nessa?
Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)