Em discurso na tribuna da Câmara, nesta terça-feira (10), o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), analisou o mea culpa das Organizações Globo em relação ao seu apoio à ditadura militar iniciada em 1964. No último dia 31 de agosto, os veículos do sistema Globo publicaram editorial informando que o “apoio editorial” ao regime militar foi um “erro”.
O parlamentar petista lembrou que a sociedade nunca teve dúvidas quanto ao apoio que empresa de mídia agora assume como equívoco. “Qualquer cidadão poderá ver como [o jornal] O Globo apoiou com editoriais, manchetes e tratamento diferenciado dos fatos os 21 anos de ditadura; como divulgou as odiosas versões oficiais saídas dos porões dos assassinatos e desaparecimentos de opositores; como promoveu a heróis os abomináveis torturadores das Forças Armadas, das polícias políticas e da Polícia Federal; como apoiou a instituição do terror de Estado como o AI-5”, citou Nilmário.
“O jornal está admitindo que foi um erro ter estimulado, apoiado, conclamado a sociedade para a ruptura com a ordem democrática inaugurada com a Constituição de 1946”, apontou o deputado.
Nilmário lembrou também que o regime de exceção também contou com o apoio de outros veículos da grande mídia. “A Folha chegou a manter um veículo a serviço direto dos porões da tortura”, citou.
Ainda que tenha mantido o tom crítico, Nilmário reconheceu a importância da autocrítica da Globo. “As organizações Globo, por tudo que receberam do regime militar, mantiveram o apoio até 1984, já nos estertores do governo autoritário, e seu chefe fez editorial de capa defendendo a desmoralizada tese da revolução que teria salvado a democracia. Por isso mesmo e por ter se beneficiado tanto da ditadura, acho que é muito relevante o mea culpa do Globo. Chamar o golpe de 1964 de golpe é importante para a condenação moral da ditadura civil-militar”, afirmou o parlamentar, que foi preso e torturado durante a ditadura e, durante o governo do ex-presidente Lula, foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos.
Nilmário ainda falou da Comissão Nacional da Verdade, que apresentará no próximo ano o seu relatório sobre as violações de direitos humanos ocorridas na ditadura, justamente no momento que marcará os 50 anos do Golpe Militar de 1964.
O parlamentar mineiro encerrou fazendo um apelo às Forças Armadas, que jamais pediram desculpas à sociedade brasileira pelo Golpe. “Acho que é uma ótima oportunidade para que as Forças Armadas apresentem a sua autocrítica. Por que uma instituição respeitada e respeitável, como são as Forças Armadas, ainda se recusa a colaborar para indicar os locais onde foram enterrados desaparecidos políticos? Que as Forças Armadas deixem, de uma vez por todas, a indefensável tese de chamar de golpe contra as instituições democráticas de revolução democrática”, concluiu Nilmário.
Rogério Tomaz Jr.