Em abril, momento de alta contaminação e mortes pelo coronavírus, o médico neurocientista Miguel Nicolelis alertou para o risco de o Brasil atingir a triste marca dos 500 mil mortos em decorrência da Covid-19. “A pandemia está assolando o Brasil e, por todas as previsões, nós podemos chegar a mais de 500 mil mortos em 40 dias”, previu à época, Nicolelis. A previsão do neurocientista está batendo à porta dos brasileiros: Até ontem (17), o País registrou 496 mil vidas perdidas para o vírus.
Dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) corroboram ao triste diagnóstico do neurocientista. Segundo o Conass, o Brasil registrou nas últimas 24 horas 2.997 óbitos, o maior número de mortos por covid-19 desde 4 de maio. O Conselho aponta ainda que, também em 24h, o número de novos infectados chega a 95.367. Tanto os óbitos quanto as infecções ultrapassam as médias móveis calculadas nos últimos sete dias, revela o levantamento.
“O que a realidade está mostrando é aquilo que nós já dizíamos desde o início do ano: a vacinação sozinha não tem capacidade de acabar com a pandemia. O Brasil tá chegando a 100 mil novos casos diários e voltando a bater 3 mil mortos diários. O que acontece aqui é o caldeirão para o surgimento de variantes mais resistentes às vacinas, e só tem nos restado rezar para que isso não ocorra”, lamentou o deputado Jorge Solla (PT-BA).
Saída
Na opinião do parlamentar, ainda não inventaram outra saída para barrar a proliferação do vírus que não seja um lockdown nacional. “Hoje é o que efetivamente funciona, combinado com uma aceleração da vacinação. Reduz as transmissões a quase zero, e aí a vacina funciona ao impedir que o vírus volte a se espalhar”, avaliou.
Para isso, um dos aliados apontado pelo petista é o governo colocar o auxílio emergencial como prioridade. “Lockdown, no Brasil, só é possível com auxílio emergencial de R$ 600 e ajuda às empresas. Tenham certeza, é a melhor saída para todos, para salvar vidas e para a economia. Em agosto ou setembro já poderíamos gozar de cenas de um mundo que vence a pandemia, que hoje só vemos na TV, em outros países”, observou Solla.
Luta para salvar vidas
Jorge Solla, que também é médico, disse que apesar de o governo Bolsonaro nunca realizar o que precisa ser feito para salvar vidas, “nós continuaremos falando sempre aquilo que precisamos fazer, para que nunca haja dúvidas de que sempre houve outro caminho que preservava vidas”.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) lamentou o fato de o Brasil caminhar a passos largos para atingir número recorde de mortes pela Covid. “Até o próximo sábado, o Brasil, infelizmente, deve atingir a dolorosa marca de 500 mil mortes por Covid”, afirmou.
Ela disse que é em nome de tantas vidas perdidas que o povo irá às ruas no próximo sábado (19). “E será em nome desses 500 mil brasileiros e brasileiras vítimas da Covid e do governo Bolsonaro que iremos às ruas reivindicar comida, vacina, auxílio digno e a queda desse presidente genocida. Não podemos assistir que mais pessoas percam suas vidas por causa da necropolítica desse senhor que ocupa a Presidência da República. Vamos à luta!”, conclamou Benedita.
Subnotificação
Os dados apontam para uma nova escalada da pandemia, a chamada “terceira onda”, já alertada por cientistas. Diante dessa tendência, e iminente o risco de colapso do sistema de saúde de todo o País, tal como aconteceu entre março e abril deste ano.
O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana alertou para o fato de esses dados terem sofridos subnotificações. “É muito provável que este número seja bem maior. Nossa capacidade de detecção de casos novos não é das melhores. Tanto em função das limitações da tecnologia, como das dificuldades de fazer rastreamento dos contatos”, afirmou.
Benildes Rodrigues com informações da RBA