Na Câmara, petistas cobram fim de ódio racial nos estádios de futebol

Reprodução Twitter /Fifa World Cup

Deputada Maria do Rosário. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Parlamentares da Bancada do PT na Câmara se revezaram na tribuna da Câmara, nesta terça-feira (30), para pedir o fim do ódio racial e do fascismo dentro dos estádios de futebol e para dizer que basta de racismo no Brasil e no mundo. Os discursos foram proferidos durante comissão geral que debateu ações e soluções para os reiterados casos de racismo ocorridos na Espanha contra o jogador de futebol Vini (Vinícius) Júnior, que atua no Real Madrid.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), 2ª secretária da Mesa Diretora da Câmara, ao protestar contra as atitudes racistas contra Vini Júnior, disse que era preciso exaltar a inteligência e a capacidade de um jovem de 22 anos, “brilhante no seu fazer futebolístico e que demonstra uma atitude de cidadania e busca da dignidade humana que não se curva, não se dobra diante de nenhuma opressão”. Ela destacou que não são poucas as atitudes de racismo que têm sido realizadas contra Vini Júnior. “E quando essas atitudes são realizadas contra ele, o são em grau cada vez maior, exponencial, contra todos os jovens negros em todo o mundo, na Espanha, no Brasil, em tantos lugares”, completou.

SOS Racismo

Maria do Rosário citou dados do último relatório da organização espanhola SOS Racismo, que indica que a Espanha chegou ao pico de casos racistas desde que começou a registrá-los, em 2013. “E as atitudes contra Vini Júnior têm sido terríveis. Ele sofreu pelo menos 10 insultos racistas no último período. Um boneco com a sua camisa foi pendurado em uma ponte de Madri antes do clássico entre o Real Madrid e o Atlético de Madrid, em janeiro, pela Copa del Rey”, denunciou.

No penúltimo domingo, relembrou Maria do Rosário, ele ouviu a torcida chamá-lo de macaco. “Não se calou, contestou e, ao contestar, recebeu um ‘mata-leão’ de um adversário e foi expulso de campo. O que precisa ser expulso de campo, expulso dos estádios, realmente o que precisa ser expulso é o racismo. O que precisa ser expulso é o ódio racial, é o ataque às pessoas pela cor da sua pele, é a atitude tomada, por exemplo, no mínimo leniente, por aquele que é responsável pelo futebol espanhol, pela liga, Javier Tebas, que, não ao acaso, integra historicamente o partido Fuerza Nova”, desabafou.

Consciência social e racial

Deputada Reginete Bispo. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A deputada Reginete Bispo (PT-RS) disse que o que choca, “além do racismo de todo dia que nós, negros e negras, vivemos no Brasil e no mundo, é saber que um país do dito primeiro mundo, do mundo avançado, hoje, podemos afirmar com certeza, difunde o ódio racial, o fascismo dentro dos estádios de futebol!”. A deputada prestou solidariedade ao Vini Júnior, que, na sua avaliação, além de ser um atleta excepcional, demonstrou uma elevada consciência social e racial. “Isso é o que nós precisamos, de uma elevação de consciência nacional sobre esse tema tão perverso no nosso País e no mundo. E vejam bem, não é no terceiro mundo, é no primeiro mundo, aquele mundo que escravizou, que colonizou, que enriqueceu às custas do sangue e suor do povo negro e hoje se sente à vontade, num estádio de futebol lotado, para chamar um dos melhores atletas da atualidade de macaco, na tentativa de desumanizá-lo”, protestou.

Reginete avaliou que Vini Júnior é atacado, não por ser um menino de 22 anos, mas por causa da sua excelência. “Porque o que agride os racistas é quando somos excelentes, quando somos bons, quando nos sobressaímos. Porque o racismo define estruturas e relações de poder aqui no Brasil e no mundo. E quando somos bons naquilo que fazemos — e somos —, isso agride a autoestima e o ego daqueles que estão há séculos se deleitando no privilégio, sendo racistas”, denunciou.

Para Reginete, mais do que se pronunciar em uma comissão geral no Parlamento, era preciso tirar alguns encaminhamentos importantes, entre eles exigir pelo menos que o governo espanhol se pronuncie. Ela protestou pela ausência de representantes da Embaixada espanhola na sessão, mesmo tendo sido convidados.

“Se a Espanha não tem legislação para enfrentar o racismo, existem os tratados internacionais que ela deve respeitar. E são esses tratados internacionais, sobretudo, de enfrentamento ao racismo e à xenofobia que a Espanha tem que considerar. Assim como para nós esses tratados passam a fazer parte da Constituição, acredito que na Espanha devem fazer também. Então, não há desculpa de que não existe legislação. Espero também que os responsáveis sejam severamente punidos. Porque pega o autor, tira depoimento, solta e a coisa continua de forma impune”, protestou.

Racismo é crime

Deputada Benedita da Silva. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) disse que Vinícius Júnior foi mais uma das tantas vítimas de racismo que, continuamente, desta tribuna, ela tem denunciado. “Existe racismo no Brasil. E não adianta dar tapinha nas nossas costas, dizer: ‘Vocês são lindos, maravilhosos’, se não se é antirracista, se cala diante do racismo, não denuncia, não faz absolutamente nada”, desabafou.

Benedita observou, no entanto, que no Brasil existem ações, principalmente do governo federal, para combater o racismo. “O presidente Lula não manifestou apenas a sua solidariedade ao Vini Júnior. Em janeiro deste ano, ele sancionou a Lei nº 14.532, que tipifica a injúria racial como crime de racismo, que já era considerado delito no País pela Lei nº 7.716, de 1989. E, pela Constituição brasileira de 1988, racismo é crime. E nós temos muitas outras ações que fazem com que haja, didaticamente, uma compreensão do povo brasileiro, principalmente do Congresso Nacional”, explicou.

Para Benedita, além das manifestações de repúdio, era preciso falar com os patrocinadores desses jogadores e dos clubes e pedir que eles exijam que essas entidades do futebol possam cumprir o que diz a nossa Constituição Federal, que o racismo é crime. “É preciso dar um basta nisso, é apoiar e não financiar absolutamente nenhum clube, no qual o seu atleta, tenha passado por um momento de discriminação por qualquer que seja a sua modalidade no esporte”, defendeu.

“Nós somos gente. Nós somos brasileiros e devemos dar as mãos e juntos banirmos de vez o racismo. Mas não basta escrever na Constituição, tem que ter atitude, e atitude se faz com atos, com leis, sobretudo quando respeitamos as nossas diferenças”, ensinou.

Omissão da La Liga

Deputada Carol Dartora. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A deputada Carol Dartora (PT-PR) destacou que Vini Júnior foi violentado, atacado com palavra e gestos. “Quero saudar a determinação desse jogador, esse homem preto brasileiro, forjado numa sociedade extremamente racista”, afirmou. Ela lamentou a omissão da direção do time de Vini Júnior, da La Liga e das autoridades espanholas sobre esse e outros casos de racismo no futebol. “Mesmo com a existência de regras na Constituição e no Código Penal espanhol para coibir e para reprimir atos discriminatórios, foi evidenciado o quanto precisamos avançar no combate ao racismo em todo o mundo. Nós não toleramos mais o racismo em qualquer instância daquele país, como ficou demonstrado pela rápida atuação do nosso governo federal”.

Dartora elogiou a atitude do governo Lula, que rapidamente se pronunciou contra esse “ato bárbaro que aconteceu contra o Vini Júnior”, e da Câmara, pela aprovação da moção de repúdio aos ataques o jogador brasileiro. “Não dá mais! Basta de racismo!”, pediu.

As deputadas Erika Kokay (PT-DF) e Jack Rocha (PT-ES) e os deputados Bohn Gass (PT-RS), Dr. Francisco (PT-PI), Tadeu Veneri (PT-PR) e Zé Neto (PT-BA) também protestaram contra o racismo e se solidarizaram com Vini Júnior.

Além de parlamentares de vários partidos, também participaram da comissão geral: Marcelo Carvalho, fundador e diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol; Rafael Araújo de Andrade, pesquisador do Programa de Desenvolvimento e Educação; Diogo André Silvestre da Silva, Assessor Especial do Ministério do Esporte; Alex Sandro Gomes, coordenador da Diretoria de Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte; e Ronaldo Tavares, diretor da Diretoria de Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte.

 

Vânia Rodrigues

 

 

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