“A injustiça tem um nome nesta terra: Latifúndio. E o único nome certo do Desenvolvimento aqui é a Reforma Agrária.”
Pedro Casaldáliga
Há 25 anos, no ano 1995, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST chegou ao estado de Mato Grosso, para construir uma proposta popular de ocupação da terra e desafiar o latifúndio, após uma decisão da plenária do seu 7º Encontro Nacional.
A equipe de lideranças que veio de Rio Grande do Sul, Rondônia e Mato Grosso do Sul iniciou o trabalho de base na região sul de Mato Grosso. A primeira ocupação do Movimento foi realizada no dia 14 de agosto de 1995, 1.110 famílias ocuparam a fazenda improdutiva “Aliança”, localizada no município de Pedra Preta.
No ano de 1996 o trabalho organizativo se estendeu para os municípios de Tangará da Serra e Cáceres. Foi neste segundo município que aconteceu uma das maiores ocupações já realizadas em Mato Grosso pelo MST; 1.503 famílias ocuparam a Fazenda “Santa Amália”, segundo o INCRA e foram por ele cadastradas.
Nos anos seguintes o Movimento continuou sua jornada de formação e lutas na região Baixada Cuiabana e Norte do estado (municípios de Claudia e Sinop). Durante estes 25 anos são mais de 5.010 famílias que conquistaram a terra através das lutas do MST-MT. São aproximadamente 50 Assentamentos, numa extensão de 200 mil hectares de terra que saíram das mãos do latifúndio e que passaram às mãos de agricultores familiares, dos sem-terra; esta é uma conquista importante.
Nos seus Assentamentos são mais de 15 mil pessoas entre jovens, crianças, idosos e mulheres, vivendo com dignidade e possibilidades de uma vida melhor, com escolas municipais ou estaduais, garantidas com muito esforço e que oferecem educação de qualidade. Os Assentamentos que não tem escola tem um razoável atendimento na educação porque no processo de luta e conquista da terra, os trabalhadores apreendem a questionar e reivindicar o direito à educação pública e crítica.
Uma outra conquista importante do Movimento são os postos de saúde na maioria dos Assentamentos ou a visita do profissional da saúde nas comunidades.
A partir da organização das famílias assentadas foram criadas 03 cooperativas que atuam na organização da produção e da comercialização dos produtos da Reforma Agrária e que mantém diálogo permanente com as escolas nos Assentamentos.
O MST-MT, com organização e dedicação, organizou seu Centro de Formação “Olga Benário Prestes”, localizado no município de Várzea Grande. Este espaço tem servido não somente para a formação dos camponeses e camponesas do Movimento, mas os de outros movimentos e organizações da classe trabalhadora. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) realizou neste espaço 03 Cursos de Especialização em Educação Ambiental, Educação Camponesa e o de Políticas Públicas para Reforma Agrária, constituindo assim este Centro em importante instrumento de Formação dos trabalhadores e trabalhadoras.
Quero aqui reconhecer com imensa gratidão a importância da presença do MST em Mato Grosso. Durante esses 25 anos o Movimento tem criado possibilidades concretas para o acesso ao direito à terra para muitas famílias; tem fortalecido a soberania e segurança alimentar, com oferta de alimentos saudáveis através da agricultura agroecológica. Tem contribuído para com a organização, reflexão e luta por vida mais digna para essas trabalhadoras e trabalhadores humildes, aproximando-nos da concretização da justiça social com que tanto sonhamos.
Sabemos que os desafios também são diversos para o Movimento, e mais ainda no processo instalado no País de desvalorização das lutas e organizações populares. As instâncias que cuidam das políticas de efetivação da Reforma Agrária no Brasil estão paralisadas por este desgoverno Bolsonaro, que é contrário ao processo de regularização fundiária para os mais pobres. Depois de mais de 04 anos de luta por um pedaço de terra ainda, em Mato Grosso, o Movimento tem 03 acampamentos, com cerca de 300 famílias em luta, nos municípios de Jaciara, Nova Olímpia e Cáceres.
O MST-MT tem, com sua criticidade, compromisso e ousadia, construído pontes de solidariedade com toda a classe trabalhadora do nosso estado e do País; a voz de lutadoras e lutadores do campo tem ido para além das questões agrárias e se faz escutar vigorosa nos debates e propostas da forma de desenvolvimento que queremos, do Mato Grosso que construiremos para as futuras gerações.
Reitero minha aliança com vocês e com todas as lutadoras e lutadores do Povo. Vida longa ao Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Sem Terra em Mato Grosso!
Professora Rosa Neide é deputada federal (PT-MT)