O ex-juiz Sérgio Moro, em audiência na Câmara nesta terça-feira (2), voltou a fugir do debate sobre as acusações de irregularidades na Operação Lava Jato feitas por Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht. Segundo Duran, o advogado Carlos Zucolloto Junior, ex-sócio da esposa de Moro, Rosangela Moro, lhe propôs a venda de proteção na Lava Jato, no momento em que negociava uma delação.
Questionado pela presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) e pelo líder da Bancada, deputado Paulo Pimenta (RS), sobre Duran e Zucolloto, o ministro se esquivou e disse apenas que Duran “é acusado por ter lavado dinheiro para a Odebrecht, que ele fugiu do Brasil e se encontra refugiado na Espanha”.
A resposta sucinta de Moro talvez se explique porque Tacla Duran anunciou que vai processar Moro por injúria, calúnia e difamação, de acordo com matéria assinada pelo jornalista Jamil Chade, correspondente da Folha de SP na Europa. Em audiência no Senado, no dia 19 de junho, Moro chamou o advogado de “lavador profissional de dinheiro”.
Zucolloto
Em seus questionamentos [vídeo abaixo] ao ministro da Justiça, a presidenta do PT foi incisiva em apontar a suspeita sobre Carlos Zucolotto. “O senhor já afirmou algumas vezes nesta sessão que o advogado Zucolotto é seu amigo e não teria qualquer relação com a Lava Jato. No entanto, diversos órgãos de imprensa publicaram reportagens demonstrando que Zucolotto trocou mensagens com Tacla Duran e propôs ajudá-lo na negociação de um acordo de delação premiada com a Lava Jato de Curitiba, desde que houvesse um pagamento por fora”, listou a deputada.
A parlamentar destacou ainda que a imprensa já tornou público que, após as negociações entre Zucolotto e Tacla Duran, o MPF mandou um e-mail a este último, da conta oficial do Ministério Público, com proposta de delação nos exatos termos que foram propostos por Zucolotto. “O senhor chegou a analisar esses documentos apresentados por Tacla Duran? Conversou com Zucolotto sobre eles? Conversou com Deltan Dallagnol sobre esses documentos apresentados por Tacla Duran?”, indagou.
Também ficaram sem resposta os questionamentos de Gleisi sobre o motivo que levou Moro a tentar minimizar as acusações de Tacla Duran, sob o argumento de que ele é acusado de crimes, mas aceitou delações de diversos criminosos enquanto era juiz da Lava Jato.
Compra de delações
Tacla Duran é autor da denúncia que aponta um esquema suspeito em torno da Operação Lava Jato que envolve comércio de delações, proteções, extorsões, tráfico de influência e seletividade nas decisões da força-tarefa comandada por Deltan Dallagnol e subordinada, na prática, ao juiz ex-juiz Sérgio Moro. Parte das denúncias de Duran já estão sendo reveladas pela série de reportagens do site The Intercept Brasil, que mostram conversas do então juiz orientando os procuradores para realizarem ações no âmbito de processos que depois ele mesmo julgaria.
Tacla Duran, que foi impedido por Sérgio Moro de ser testemunha de defesa de Lula, afirmou também que o esquema movimenta milhões de dólares e pôs em xeque a veracidade de provas apresentadas pela Odebrecht a partir dos sistemas de planilhas Drousys e MyWebDay – largamente utilizados pela Lava Jato para condenar réus. O ex- advogado da Odebrecht garantiu, com base em perícia feita na Espanha, que o sistema de planilhas que controlava as propinas pagas pela Odebrecht a autoridades foi adulterado antes do início da investigação da Operação Lava Jato.
A Bancada do PT, em ação assinada pelo líder Pimenta, pediu que a Procuradoria-Geral da República investigasse as denúncias de Duran, mas a representação foi arquivada pela procuradora-geral Raquel Dodge.
“Tacla Duran mostrou não só esquemas criminosos e de enriquecimento de pessoas no entorno da Lava Jato, como a seletividade de Moro, mas lamentavelmente o juiz da ‘República de Curitiba’ não quer ouvir Duran pois sabe que seu depoimento fará ruir toda a narrativa e as teses construídas pela Lava Jato”, afirmou Pimenta, à época da representação.
Vânia Rodrigues