Receber mesada de R$ 120 mil paga com dinheiro desviado de Furnas. Ser o “mais chato” cobrador de propina da empreiteira UTC, investigada na Lava Jato. Desviar R$7,6 bilhões da saúde quando foi governador, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Construir cinco aeroportos em municípios pequenos, todos eles nas proximidades das terras de sua família —um deles na fazenda do tio, que custou R$ 14 milhões. Receber pelo menos R$ 4,4 milhões no esquema original do mensalão.
A ficha corrida acima não pertence a um “perigoso petista”. São as acusações contra a insuspeita figura que na noite da última terça-feira (6) protagonizava a cena de explícito entrosamento — quiçá escancarada ternura — com o maior símbolo de combate à corrupção do momento, o juiz federal responsável pela Operação Lava Jato, Sérgio Moro. Sim, o alentado currículo, construído inclusive a partir de seis delações no âmbito da Lava Jato, pertence ao senador e candidato derrotado à presidência em 2014, o tucano Aécio Neves (PSDB-MG).
Delações contra tucanos, porém, não pegam. Nem neles, nem nos que os orbitam: basta ver a expressão de Moro na imagem que correu o planeta – figurou a maior parte do dia como um dos assuntos mais comentados do Twitter no mundo – para ver que o magistrado não estava nada constrangido.
Oscar do Golpe – Moro e Aécio se encontraram na exótica cerimônia de premiação dos “Brasileiros do Ano”, uma espécie de Oscar do Golpe montado pela revista IstoÉ. E o vencedor foi… Michel Temer, ex-vice decorativo que “recebeu a missão de assumir o comando do País em um momento conturbado política e economicamente”, segundo os organizadores.
Sem recato – “Além de o juiz não zelar pela discrição que se espera de um magistrado, as fotos também revelam exacerbada simpatia por agentes políticos do PSDB”, afirmam os advogados do ex-presidente Lula, que nesta quarta-feira (7) juntaram as imagens ao processo que já corre no Tribunal Regional Federal da 4ª Região no qual apontam a suspeição de Moro para julgar o ex-presidente.
Na véspera do encontro com Aécio, Moro já havia demonstrado pouco recato em confraternizar com tucanos citados em delações, foi a um evento do governo do Mato Grosso (comandado por Pedro Taques, do PSDB), ocasião em que rasgou elogios ao único parlamentar do estado a votar contra a lei que prevê punição a juízes e procuradores que pratiquem abuso de autoridade. Apesar da “boa ação”, o deputado Nilson Leitão é acusado de ter recebido dinheiro desviado da Secretaria de Educação do estado.
Ato – Na Câmara, parlamentares do PT abriram faixa no plenário com reprodução da imagem que escandalizou o País. “A imagem escancarada do Golpe que correu o mundo! Imparcialidade? Imunidade longa aos delatados por propina do PSDB!”, registrou no Twitter o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que estendeu a faixa de protesto junto com as deputadas Erika Kokay (PT-DF) e Alice Portugal (PCdoB-BA) e o deputado Zé Geraldo (PT-PA), durante pronunciamento da Líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Em discurso na tribuna, Zé Geraldo (PT-PA) também criticou o “enrosco público” de Moro com o tucano. “Enquanto persegue Lula, sem provas e mesmo diante de todas, absolutamente todas as testemunhas de acusação o inocentarem, Moro escarnece todos os brasileiros com seus corruptos de estimação”, disse o petista, que não esqueceu de citar Aécio Neves como o “mais chato” cobrador de propina, segundo um dos delatores da Lava Jato.
PT na Câmara com PT no Senado