Modelo de Previdência de Bolsonaro deu errado no mundo inteiro, afirma ex-ministro

O debate sobre as regras da Proposta de Emenda à Constituição (PEC6/19), do governo Bolsonaro, que altera profundamente a estrutura da Previdência Social brasileira, está cada vez mais acalorado. Tanto que o governo já acena com possíveis mudanças para tentar angariar apoio no Congresso Nacional.

No entanto, na avaliação do ex-ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, nos governos Lula e Dilma, e funcionário de carreira do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) desde 1985, a proposta do governo está totalmente fora da realidade do País e não há ajuste possível para evitar um desmonte no sistema.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Gabas explica que a ideia de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, tem como princípio uma visão financista, que incentiva o individualismo, com risco eminente para os trabalhadores, e afasta os conceitos de solidariedade, proteção e combate à desigualdade social, que fazem parte do modelo e repartição, adotado no Brasil e na maior parte dos países do mundo.

Paulo Guedes propõe trocar um sistema que tem três fontes de financiamento – empregadores, empregados e governo –, por um modelo financiado apenas pelos trabalhadores.

Por outro lado, muito convenientemente, a proposta de Bolsonaro não fala sobre Reforma Tributária e taxação do capital para financiar o sistema previdenciário, como foi a proposta levantada no Fórum Nacional de Trabalho e Previdência, convocado no governo Lula, em 2015.

 

 

 

Confira trechos da entrevista do Brasil de Fato com o ex-ministro Carlos Eduardo Gabas:

 

Brasil de Fato: O PT, no governo, fez um fórum para debater a Reforma da Previdência. Agora, o partido é contra a reforma do Temer e do Bolsonaro. O que mudou?

Carlos Gabas: Somos contra o que ele está chamando de reforma, ou nova reforma, porque ela não tem nada a ver com reforma e muito menos é nova. É um modelo que nós sabemos que deu errado no mundo inteiro: onde foi experimentado deu errado e ele quer impor ao Brasil. O que ele apresenta é uma reforma fiscal. Não é outra coisa. Não tem nada a ver com reestruturação para dar sustentabilidade. É balela, é pano de fundo.

 

O que é então?

O que o Bolsonaro e o Paulo Guedes estão propondo é entregar a Previdência para os bancos, para a iniciativa privada e para o capital especulativo, o que vai aumentar a desigualdade social, a exclusão e a concentração de renda.

 

E qual a alternativa que o PT quer discutir para a Previdência?

Criamos o Fórum Nacional de Trabalho e Previdência para discutir o tema. Esse sistema de proteção social é tão importante para a sociedade, ele alcança tanta gente, que você não pode fazer qualquer mudança sem um diálogo com as partes que serão alcançadas pela medida. Por isso, montamos o fórum e trouxemos para a mesa os trabalhadores, os aposentados, os patrões e o governo. Aí, com transparência, com os números na mesa, com todo o acesso à informação, vamos debater com muita tranquilidade qual o modelo que queremos, qual é justo, qual é o que protege e de onde vai sair o dinheiro para custear este modelo.

 

Qual o problema nas propostas de Temer e Bolsonaro?

O Temer fez uma proposta que é um desmonte. De um lado, propôs tirar direitos e do outro perdoar dívidas de sonegadores. Por isso, somos contra. Errou na forma porque não teve diálogo; errou no conteúdo, porque penaliza o trabalhador. O Bolsonaro e o Guedes fazem pior. Eles erram na forma porque não tem diálogo e, no conteúdo, eles desmontam o sistema de proteção social. O que eles chamam de reforma é um desmonte de uma lógica consagrada na Constituição, que protege o cidadão quando ele mais precisa. Se a reforma do Temer já era ruim, porque faziam mudanças que chamamos de paramétricas, a do Bolsonaro e a do Paulo Guedes é pior porque ela muda o modelo e isso depois não tem volta.

 

Por que os mais pobres, os idosos e as pessoas com deficiência são os mais prejudicados?

Não tem nenhum ponto na reforma que ataca de verdade os privilégios. Os altos salários e as mordomias de quem tem no serviço público vão continuar. E não mudam a regra de tributação do país. Na nossa proposta de reforma onde estávamos debatendo mercado de trabalho, relações de trabalho, financiamento da Previdência e regras de acesso a benefícios, a gente levava em conta a necessidade de uma reforma tributária. Por que? Porque os privilegiados do país vão continuar privilegiados, ganhando altos salários sem pagar imposto de renda. Quem paga Imposto de Renda é o assalariado, é o pobre. No limite, a classe média. Os ricos não pagam Imposto de Renda, nem imposto sobre fortuna, herança, sobre a transmissão dessa fortuna, sobre propriedade de veículos como iates, barcos, aviões, helicópteros. Isso tudo é isento. Nós temos uma política no país que privilegia os donos de capital, quem tem muito dinheiro e penaliza o mais pobre. Nós não podemos concordar com isso.

 

O modelo de repartição solidária é o mais comum no mundo. Por que mudar agora para o modelo de capitalização?

O nosso modelo foi baseado no modelo alemão do século passado e grande parte dos países do mundo adotam a mesma lógica. Qual é essa lógica, que a gente chama de solidariedade, regime de repartição? Por que ele tem esse nome? Quem tem mais contribui com mais para equilibrar as relações da sociedade. O Brasil é um país desigual com mais de 202 milhões de habitantes. Desigual nas relações de trabalho, no emprego, nos salários, na vida, regionalmente é desigual. Portanto, não dá para ter uma regra que trata todo mundo igual. Isso é injusto. Eu tratar o executivo de uma grande empresa com a mesma regra do peão de obra, que começa cedo, que tem um desgaste na sua saúde maior, que trabalha no sol, no pesado, isso é muito diferente, eu preciso ter regras diferentes.

 

Então por que o atual governo usa essa justificativa?

Quando ele fala que este modelo está ultrapassado é do ponto de vista do capital, do ponto de vista da especulação. E quer mudar esse modelo onde a sociedade é responsável pelos seus entes. A sociedade protege os seus. E isso é o correto. A sociedade é responsável por diminuir desigualdade, na medida das suas contribuições, quem ganha mais contribui mais, essa é uma lógica socialmente defensável. É uma lógica humanista. A lógica deles, no entanto, é a do capital especulativo. Além da sociedade produzir miséria, porque nós não temos a ilusão de que o filho do trabalhador braçal vai ter a mesma oportunidade que o filho da classe média, a tendência, infelizmente, e sempre foi assim, é que a classe mais pobre vai produzir mão de obra para servir a classe mais rica. Ora, eu preciso ter um mecanismo na sociedade para quando esse pobre não conseguir mais trabalhar, ele precisa ter o mínimo de proteção social. E é isso que o governo Bolsonaro ataca. Vou dar um exemplo: o benefício que é pago ao idoso pobre, ao deficiente pobre, que hoje é de um salário mínimo, na proposta é reduzido para R$ 400. Ele propõe que esse trabalhador braçal que começou com 13 ou 14 anos, trabalhe até os 65 anos e para ter a aposentadoria integral precisa ter 40 anos de contribuição. Isto é cruel. Isso não é factível no nosso mercado de trabalho, na nossa sociedade.

Foto: Agência Brasil

 

A proposta do governo cria vários entraves para o segurado especial rural. Como são e como ficariam os direitos daqueles que trabalham com a agricultura familiar para o Brasil?

A Constituição fez questão de proteger os trabalhadores rurais no capítulo da Seguridade, a partir do artigo 194. Trata-se do trabalhador e trabalhadora da produção em regime de agricultura familiar, pequenas propriedades de até quatro módulos fiscais. É a família que trabalha na terra e produz o nosso alimento, os responsáveis por colocar alimentos saudáveis e frescos na nossa mesa, 73% do que a gente come vem da agricultura familiar. Mas como eles se aposentam, qual é a regra? Eles têm que comprovar 15 anos de trabalho na terra. Ele produz, comercializa esse alimento e as notas fiscais indicam o desconto do INSS, é uma contribuição indireta. A prova do trabalho rural é o atestado do sindicato. Mas a medida provisória 871, do Jair Bolsonaro, acaba com isso e cria uma grande dificuldade para estes trabalhadores terem acesso à aposentadoria. E a crueldade vai além: a proposta diz que o agricultor precisa ter uma contribuição regular para ter a aposentadoria. Nós sabemos que no campo não tem as mesmas condições da cidade. Não tem salário, não tem dinheiro todo mês. Como é que ele contribui? Na medida da comercialização da produção. Ele é responsável pela nossa segurança alimentar. Nós não podemos desproteger este cidadão. Ele precisa ter condições para continuar no campo e produzindo. E o Bolsonaro, que quer tratar todo mundo igual, vai tratar esse trabalhador como o trabalhador urbano. Isso vai aumentar a desproteção social no campo.

 

Quais são os desdobramentos da Reforma Trabalhista, que cortou as regras de proteção dos empregados, no modelo da Reforma da Previdência?

Se o governo realmente está buscando a sustentabilidade da Previdência, uma das primeiras medidas seria revogar a reforma trabalhista. Ela flexibiliza, no mau sentido, as regras de contratação. Ou seja, ela institucionaliza a informalidade. Ela aumenta a incidência do bico. E neste caso, não existe contribuição para a Previdência. Quando você cria posto de trabalho sem a contribuição para a Previdência, você fragiliza a arrecadação da Previdência.

Por Brasil de Fato

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Postagens recentes

CADASTRE-SE PARA RECEBER MAIS INFORMAÇÕES DO PT NA CÂMARA

Veja Também

Jaya9

Mostbet

MCW

Jeetwin

Babu88

Nagad88

Betvisa

Marvelbet

Baji999

Jeetbuzz

Mostplay

Melbet

Betjili

Six6s

Krikya

Glory Casino

Betjee

Jita Ace

Crickex

Winbdt

PBC88

R777

Jitawin

Khela88

Bhaggo

jaya9

mcw

jeetwin

nagad88

betvisa

marvelbet

baji999

jeetbuzz

crickex

https://smoke.pl/wp-includes/depo10/

Depo 10 Bonus 10

Slot Bet 100

Depo 10 Bonus 10

Garansi Kekalahan 100