A Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara aprovou nesta terça-feira (20) requerimento do deputado Alexandre Padilha (PT-SP) que convida o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, para prestar esclarecimentos sobre declarações do embaixador brasileiro na França, Luís Fernando Serra. Na semana passada, a coluna do jornalista Jamil Chade – portal de notícias UOL – publicou matéria sobre uma entrevista de Serra à imprensa francesa em que ele culpa “a falta de investimentos da esquerda em saúde” pelo colapso nos hospitais no Brasil, ignorando os efeitos da pandemia no País.
A declaração do diplomata ocorreu durante entrevista ao vivo à emissora de TV Francesa BMFTV, após ser questionado sobre a decisão do governo francês de suspender os voos com o Brasil por causa da pandemia. O embaixador chegou a ser cotado para substituir Ernesto Araújo como chanceler.
“Temos grandes expectativas sobre a vinda do ministro das Relações Exteriores para esclarecer a posição do governo brasileiro nas orientações que tem dado aos embaixadores em todo o mundo a respeito de qual é o papel do SUS, o trabalho que é feito por ele e o que foi construído pelo SUS durante décadas. Chocou-nos a declaração do embaixador brasileiro na França dizendo que a culpa do colapso do SUS é culpa da esquerda no Brasil”, disse Padilha.
Segundo Jamil Chade, na entrevista à emissora de TV Francesa o embaixador Luís Fernando Serra minimizou a suspensão de voos entre França e Brasil, ao relatar que o turismo não representa uma parte significativa da economia nacional. Ao ser questionado sobre a percepção na França de que o presidente Jair Bolsonaro “não faz muita coisa” para lidar com a pandemia, o embaixador brasileiro distorceu dados tentando convencer o entrevistador de que o Brasil tem bons resultado no combate à pandemia.
O embaixador Luís Fernando Serra disse, por exemplo, que o Brasil é o quinto país do mundo que mais vacinou, ignorando que em proporção ao tamanho da população o Brasil não aparece nem entre os 50 países que mais vacinaram. Ele ainda afirmou na entrevista que as vacinas aplicadas no Brasil seriam obra do presidente Bolsonaro, sem revelar que mais de 80% das vacinas aplicadas no País fazem parte do acordo entre o Instituto Butantan e a Sinovac, cujo vacina (CoronaVac) foi sistematicamente desacreditada e boicotada pelo próprio Bolsonaro.
Confinamento
O embaixador brasileiro também prestou declarações distorcidas à emissora francesa sobre a responsabilidade das ações de confinamento no Brasil durante a pandemia. Ao responder o jornalista francês se a superlotação dos hospitais poderia ser evitada por um lockdown nacional, o embaixador respondeu que o STF “decidiu que o presidente não tem o poder de confinar” e que esse poder foi dado apenas aos govenadores. A decisão da Suprema Corte não impede o presidente brasileiro de adotar qualquer medida de confinamento, apenas concede o mesmo direito aos governadores.
Héber Carvalho