Há neste momento, nas ruas de todo o Brasil, milhões de pessoas unidas numa mesma consciência democrática. Elas formam uma multidão de homens e mulheres – inclusive, de opositores do PT – que estão em defesa da democracia e contra o golpe. Ao traduzir dessa forma o clima que toma conta do País neste domingo (17), o deputado Afonso Florence (BA), líder do PT na Câmara, rebateu todo o repertório golpista que se baseia na fragilidade de um relatório para criminalizar Dilma Rousseff sem qualquer evidência de crime de responsabilidade.
“Por isso, cada vez mais, [os deputados] indecisos estão se posicionando a favor da democracia, porque não querem manchar suas biografias, não querem legar para seus filhos nem enfrentar seus eleitores como portadores da mácula de terem respeitado o voto popular, de jogar o Brasil na incerteza, de aprofundar os conflitos vigentes”, afirmou Florence. “Esses deputados, assim como fez o vice-presidente dessa Casa [Waldir Maranhão], vão votar ‘não’, porque querem rechaçar o risco posto para o futuro do Brasil, que é a derrota do Brasil”, completou.
A máscara do golpe caiu, segundo avaliou o líder petista, não apenas para a população brasileira, mas para a imprensa internacional, que enxerga na tentativa de derrubar Dilma Rousseff um conluio de pessoas que foram feridas em seus interesses. “Os jornais do mundo publicaram: ‘corruptos querem derrubar a presidenta Dilma, uma mulher honesta’. Essa é a visão que cada vez mais brasileiros têm dessa votação, que muitos deputados querem dar ares de votação de chapa para Presidência da República, como se tivéssemos uma eleição indireta, e não temos”.
Afonso Florence também mostrou que esse golpe, que buscava se lastrear num discurso anticorrupção, também perdeu essa legitimidade. Lembrou que vários dos apoiadores do processo golpista – como os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin – foram expulsos das manifestações que eles mesmos convocaram. “Aécio é citado várias vezes em delações premiadas, Alckmin é alvo de várias investigações, do metrô, da merenda”, recordou.
O líder pontuou que toda essa investida contra um mandato legitimamente conferido por 54 milhões de brasileiros se deve também ao fato de os governos petistas terem fortalecido as instituições republicanas para combater a corrupção. “Isso ficou claro quando o procurador da Lava-Jato [Carlos Fernando dos Santos Lima] e ex-procurador-geral da República [Roberto Gurgel] disseram que Dilma e Lula tratavam a Polícia Federal e o Ministério Público como estadistas. Foi Lula quem deu autonomia à PF, foi Dilma quem mandou o projeto de lei que tem o combate à corrupção na sua origem, incluindo o estatuto da delação premiada”.
Diferentemente dessa postura, Florence disse que Michel Temer e Eduardo Cunha representam todo o retrocesso no combate à corrupção. “Michel-Cunha é a ‘chapa’ que tem no seu histórico um procurador-geral que ficou conhecido como ‘engavetador-geral da República. São profissionais da comunicação que dizem hoje que o objetivo dessa ‘chapa’ é parar as investigações de corrupção. A Lava-Jato chegou num lugar que tem PSDB, que tem DEM”, explicou.
O parlamentar desmontou ainda o discurso segundo o qual o impeachment se justifica em uma necessidade de o Brasil “melhorar”. “Na verdade, pretendem jogar o Brasil numa incerteza, porque os regimes de exceção se iniciam com esse discurso. Foi isso que aconteceu em 1964, com esse mesmo apoio de setores da mídia. Depois, os mesmos setores fazem a autocrítica e lavam as mãos, e os políticos golpistas vão para o lixo da história”.
Diante de todos os argumentos, Florence disse que a ‘chapa’ Temer-Cunha será derrotada. “As pessoas estão nas ruas dizendo ‘impeachment sem crime de responsabilidade é golpe’. Impeachment sem crime de responsabilidade fere um fundamento inalienável da República e da democracia que é a vontade popular”, defendeu.
O caminho – defendeu Afonso Florence – é atender à conclamação feita pela presidenta Dilma Rousseff para reaglutinar e pacificar o Brasil a partir desta segunda-feira (18). “Essa pacificação será feita através da execução do programa eleito no segundo turno, a partir do respeito do voto, com a estabilização política, com o fim da pauta bomba, com o fim da desestabilização a partir da Presidência da Câmara e com a retomada da normalidade institucional. Vamos retomar a geração do emprego e da renda, vamos garantir a conquista maior do povo: o voto. Impeachment é golpe”.
PT na Câmara
Foto: Gustavo Bezerra