Com Paulo Freire, a educação é processo dinâmico, jamais evento unilateral. Ela envolve estudantes e profissionais da educação a partir da realidade em que vivem. É construção coletiva do conhecimento, mas também individual, pois tem de ser capaz de observar e respeitar as particularidades de cada pessoa. É fenômeno político. Não no sentido partidário, mas no sentido da pessoa que é parte da polis (cidade, nação) e que dela participa de modo crítico e proativo.
Por isso mesmo, enquanto é festejado no mundo, Paulo Freire é negado e causa temor ao bolsonarismo. Fácil de explicar a atitude destes, pois pensamento crítico não combina mesmo com a postura de gado que o fascismo impõe à população.
Motivo de grande preocupação e tristeza é constatar que no centenário do grande mestre Paulo Freire, o Ministério da Educação no Brasil oscila entre a incompetência e o fundamentalismo.
Mas igualmente triste é que o Brasil, quase todo, esteja indiferente ao sacrifício que a pandemia impôs aos estudantes, especialmente aos das redes públicas.
Afastados da aulas presenciais por quase dois anos, a grande maioria se vê ainda mais distante dos caminhos que levam à promoção social.
Enquanto os Países da OCDE e mais alguns ampliaram o investimento em educação pra reduzir os impactos negativos da pandemia, o Brasil reduziu investimentos e se conformou com a alternativa do ensino à distância, que embora seja pedagogicamente viável, é excludente quando se considera a condição social concreta da maioria dos estudantes das redes públicas.
Neste momento em que o país ensaia o retorno às aulas presenciais é necessário um grande mutirão pelo resgate da educação pública, que vá muito além das aulas normais e contemple aulas de reforço escolar, assim como variadas iniciativas de incentivo ao esporte e à cultura nas escolas.
Como financiar este mutirão de reforço escolar? Não dá pra esperar pela reforma tributária. Mas considero possível estruturar uma contribuição emergencial e temporária para a educação. Ou recorrer ao caminho da dívida pública. O endividamento público para este fim seria muitas vezes menor do que a dívida pública que é rolada a cada ano para pagar juros e amortizações ao sistema financeiro.
Merlong Solano (PT-PI) é deputado federal