Publicada pelo Jornal Valor Econômico, pesquisa realizada pela XP/Ipespe: 61% avaliam gestão de Bolsonaro contra pandemia como ruim ou péssima.
Fico me perguntando o que leva os demais 39% a avaliarem a gestão de Bolsonaro como regular, boa ou ótima? O percentual acima é um pouco menor, pois há aqueles que “não sabem, não opinam”.
Brasil ruma para 300 mil mortos pela Covid-19. Na verdade, em poucos dias, superará essa marca nefasta. Não quero crer que considerem isso natural, que repitam a frase do presidente: “e daí?”, ou que considerem o choro e o sofrimento de tantos com tantas mortes como manifestação de um Brasil de “maricas”, como vaticinou o capitão-presidente.
Além do desdém diante da tragédia, o presidente manifestou total incapacidade de compreender a gravidade da pandemia, que classificou como “gripezinha”.
E o que dizer da sua postura diante da vacinação? A proposta de seu governo numa única vacina continua um fracasso que se expressa no fato de que até agora o Programa Nacional de Imunização só recebeu 4 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford.
Enquanto isso, a Coronavac, que o presidente afirmou que não compraria de modo algum, já chegou a quase 14,5 milhões de doses entregues pelo Butantan ao Ministério da Saúde. Não é muito, mas sem essas doses a vacinação estaria completamente parada.
Atrasado e sem política internacional de compra de vacinas pelo governo federal, o Brasil depende agora da iniciativa dos governadores do Nordeste, que assinaram contrato de compra de 37 milhões de doses da vacina Sputnik V.
Saúdo a iniciativa dos governadores, mas precisamos entender que não é possível abrir mão das responsabilidades do governo federal em relação à vacinação, que é necessariamente uma resposta nacional a um problema nacional.
O Programa Nacional de Imunização do Brasil se tornou referência no mundo com uma estrutura baseada na compra das vacinas e de insumos pelo governo federal; na coordenação da distribuição e apoio aos municípios pelos estados e na aplicação das vacinas pelos municípios. Foi seguindo esse modelo que o Brasil vacinou 80 milhões de pessoas em três meses contra a H1N1, durante o governo Lula.
Face à total insensibilidade do governo Bolsonaro e sua incapacidade técnica de coordenar uma campanha nacional de vacinação, estamos patinando e vendo a morte chegar a um número crescente de famílias brasileiras.
Essa situação justifica muito bem a atitude dos governadores do Nordeste, assim como justifica também a lei 14.125/21, recentemente sancionada, que autoriza a iniciativa privada a comprar vacinas, mediante entrega de metade das doses ao SUS e aplicação gratuita da outra metade.
Sem governo federal e sem Ministério da Saúde, diante da maior pandemia de novas vidas, o Brasil está como um navio sem capitão. Por isso, a busca de alternativas baseadas na cooperação é fundamental.
Precisamos mais do que nunca que o enfrentamento à Covid-19 seja uma resposta coletiva e também individual: usar máscara, manter a higiene das mãos, evitar aglomerações.
Precisamos mesmo de todos, inclusive daquelas pessoas que ainda estão com sua capacidade de discernimento afetada e diminuída pela mensagem de ódio e de intolerância do capitão e de uma elite muito reduzida que coloca o dinheiro na frente de tudo, inclusive da vida.
Merlong Solano é deputado federal (PT-PI)