Mergulho de 9,7% do PIB é prenúncio de que crise será longa, para desespero do povo

O ministro Paulo Guedes (Economia) continua a vender ilusões. Depois de enganar o País com a patética reforma previdenciária que permitiria uma economia de R$ 1 trilhão em 20 anos com a redução de aposentadorias e do sacrifício dos mais pobres, agora o Posto Ipiranga diz que uma reforma administrativa será suficiente para fazer a economia brasileira voltar a andar. Isso mesmo depois de o IBGE divulgar o tombo histórico de 9,7% da economia no 2º trimestre de 2020 – um recorde histórico e o pior desempenho do Brasil em 120 anos. Em comparação com o mesmo trimestre de 2019, o PIB recuou 11,4% – um colosso do tamanho da estupidez do presidente Jair Bolsonaro, que já pode se orgulhar de alcançar o maior feito de todos os presidentes: a mais brutal queda da economia na história do Brasil.

O País está em recessão e dificilmente conseguirá se recuperar no segundo semestre deste ano, mas o ilusionista que está à frente do Ministério da Economia mantém-se alienado da realidade. Nesta terça-feira, 1º de setembro, IBGE refez os cálculos da queda do PIB no primeiro trimestre de 2020, aumentando de 1,5% para 2,5% o tombo. Ou seja, mesmo antes da pandemia paralisar toda a atividade econômica do país, a crise já estava instalada. Agora, o governo prevê que a economia vai cair “apenas” 5% no ano – isso equivaleria à uma retomada da atividade dos principais setores do país – indústria e serviços, mais precisamente – quase próximos a 10% neste segundo semestre, o que parece uma miragem diante do fraco desempenho do consumo das famílias, que caiu 12,5%, entre abril e junho, e do baixo investimento estatal, que teve queda de 15,4%. O consumo do próprio governo caiu 8,8%. E a indústria recuou 12,3%. Com sorte, o país conseguirá virar em 2021 com desempenho próximo ao que o país exibia em 2009.

Resumindo, o Golpe de 2016 que retirou a petista Dilma Rousseff da Presidência da República, não melhorou em nada a economia. E nem a vida do povo brasileiro. Pelo contrário. As condições de vida da maioria da população não param de piorar. O país tropeça de pibinho em pibinho, andando de lado desde 2017, e hoje apresenta os principais indicadores sociais com piora progressiva – desde o desemprego, que saiu de 4,3% em 2014 – quando Dilma foi reeleita – para mais de 12,7% em junho de 2020 – uma massa de 13 milhões de desempregados. E 40 milhões de brasileiros hoje não têm renda.

Como se não bastasse, a desigualdade social no País aumentou de maneira indecente. Dados do FGV Social dão a dimensão da piora na concentração de renda no país: do fim de 2014 a junho de 2019, a renda per capita do trabalho dos 10% mais ricos subiu 2,5% acima da inflação. Já a renda do topo da pirâmide social brasileira – os 1% mais ricos – subiu, 10,1% acima do custo de vida no mesmo período. Enquanto isso, o rendimento dos 50% mais pobres despencou 17,1%. A vida da classe média também só piorou. O rendimento de cerca de 40% daqueles que estão situados entre os mais ricos e os mais pobres, caiu 4,2%. Segundo o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, o Brasil é hoje o país que mais concentra renda no 1% do topo da pirâmide. Só o Qatar, emirado árabe absolutista de 2,6 milhões de habitantes, governado por uma mesma dinastia desde meados do século 19, supera o Brasil.

Bel Pedrosa_Wikicommons

Luta pelo auxílio emergencial

O resultado do PIB só não é pior devido ao auxílio emergencial de 600, garantidos pelo PT e a oposição no Congresso Nacional, ainda no começo da crise sanitária. O presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Aloizio Mercadante, ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma, critica Bolsonaro, porque não há qualquer perspectiva de retomada do país, pela simples ausência de propostas da equipe de Paulo Guedes. “O PT apresentou um salário mínimo, enquanto Bolsonaro não propunha nada – propôs R$ 200 e nós chegamos a R$ 600, podendo ser mais R$ 600. Essa foi a grande conquista desse processo, porque injetou na economia R$ 250 bilhões em cinco meses”, aponta. “Então, o auxílio amorteceu a queda do PIB, dinamizou o consumo popular, preservando alguns setores com uma política anticíclica. Mas, é preciso lembrar que isso só aconteceu por iniciativa da oposição e uma decisão do Congresso Nacional”, disse.

Mercadante avalia que a redução em 50% do auxílio emergencial, apresentada pelo governo, cortando de R$ 600 para R$ 300 o seguro-quarentena vai agravar a pandemia e prejudicar a possibilidade de recuperação da economia. “Nós podemos ter alguma recuperação? É provável, em razão do patamar. A expectativa é que isso se reverta com uma pequena recuperação, mas sem esse estímulo e sem o crédito para as pequenas e micro empresas, que não chegou na ponta e o consumo mostra isso, nós vamos agravar a crise”, afirmou. “O problema central agora é o Congresso ter uma atitude firme e defender os R$ 600, obrigando o governo a manter até o final de dezembro”, defendeu.

Segundo o ex-ministro, o problema para a retomada da economia é a política de ortodoxia fiscal, um dogma defendido com unhas e dentes pelo mercado e pelos principais integrantes da equipe econômica de Paulo Guedes. “Com as regras ficais ortodoxas, como o teto de gastos declinante, a regra de ouro e o resultado primário, que são três travas autoimpostas pelo país, a perspectiva de 2021 é muito restrita”, avalia o economista. Ele defende que a primeira grande disputa seja pela manutenção do auxílio de R$ 600 e, a segunda, a reversão da política fiscal. “Nós precisamos de outro tipo de controle sobre as contas públicas. Esse sistema é insustentável, é inviável, sem falar nas sequelas que nós vamos ter nos diversos ministérios pelo orçamento que foi apresentado, que tira recursos dos principais programas sociais. Ou seja, será muito difícil a gestão da política pública se for mantida essa Lei Orçamentária que ele apresentou”, disse.

 

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