Medidas entreguistas pós-golpe deixaram país indefeso na crise mundial

Foto: Site do PT

O projeto de destruição do Estado brasileiro, iniciado com o golpe de 2016 e aprofundado pelo desastre do governo Bolsonaro nos últimos três anos, toma proporções, no atual quadro de crise internacional, de uma tempestade perfeita. Graças aos ataques à soberania nacional, o país encontra-se completamente indefeso diante do cenário de volatilidade provocada pelo conflito na Ucrânia. Especialistas já enxergam, por exemplo, o risco de o preço do barril de petróleo ultrapassar U$ 200. Enquanto isso, o Brasil, que é um dos maiores gigantes da produção agrícola do planeta, hoje depende totalmente de fertilizantes importados, graças ao fechamento de fábricas por Temer e Bolsonaro. Com o agravamento da guerra, os desdobramentos serão catastróficos para o setor no país, afetando estoques de suprimentos e o preços dos alimentos.

Em janeiro de 2020, Bolsonaro encerrou as atividades da fábrica da Petrobras, em Araucária (PR). Dois anos antes, Temer dava o caminho das pedras ao sucessor, fechando a fábrica de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA) e de Sergipe (Fafen-SE). Assim, a Petrobras deixou de ser a maior produtora mundial de nitrogenados, abandonando o Brasil, que é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, à mercê dos humores do mercado internacional.

Na semana passada, o ex-presidente Lula respondeu a uma declaração cínica e equivocada da ministra da Agricultura Tereza Cristina, para quem o Brasil “errou” ao abandonar a produção de fertilizantes. “Foram os governos de Temer e  Bolsonaro que erraram, não o Brasil, fechando fábricas de fertilizantes na Bahia, em Sergipe e no Paraná”, criticou Lula.

“Também abandonaram a construção de novas fábricas de fertilizantes em Minas e no Mato Grosso do Sul. O governo atual aprofunda a dependência de derivados de petróleo importados, como fertilizantes e combustíveis, ao mesmo tempo que destrói empregos e desmonta o setor no Brasil”, explicou o petista.

Conflito

Para piorar, a Rússia e a Ucrânia, atores do conflito que vem abalando as estruturas da ordem geopolítica mundial, são justamente dois dos principais países produtores de fertilizantes do planeta. Por causa da disputa entre os vizinhos, as exportações ficarão restritas, podendo resultar em uma crise mundial na cadeia de abastecimento. “Metade da população mundial obtém seus alimentos graças ao uso de fertilizantes, e se isso for retirado de alguns cultivos, essa produção pode cair até 50%”, previu o chefe de uma empresa norueguesa do setor, Svein Tore Holsether, em declaração à BBC.

Atualmente o Brasil importa 85% dos fertilizantes utilizados, sendo que 23% são comprados da Rússia. “Nós já estávamos em situação difícil antes da guerra, e agora há essa quebra da cadeia de suprimentos, enquanto nos aproximamos do período mais importante da temporada para o hemisfério Norte, que é quando muito fertilizante precisa ser transportado e isso provavelmente será impactado”, avaliou o executivo.

“Não é mais uma questão de ‘talvez vamos ter uma crise de abastecimento’”, assegura o consultor da StoneX, Marcelo Mello, também em depoimento à BBC. “Nós certamente vamos ter uma crise. Certamente haverá desabastecimento, não só no Brasil, mas mundial”, observa.

PT recorreu ao STF por reabertura de fábricas

Em janeiro e março de 2021, o Partido dos Trabalhadores apresentou pedidos, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), para a reabertura da Fafen-PR. Na época o PT alertava para o risco de um colapso no abastecimento de oxigênio hospitalar na rede pública de saúde de todo o país, a exemplo do que ocorreu em Manaus (AM).

Na petição, o PT apontou ainda que a fábrica possuía capacidade de produção de 30 mil m³ de oxigênio por hora mas seguia fechada. “A fábrica, fechada por Bolsonaro, permanece montada, tem condições de produzir oxigênio para contribuir com às necessidades do país”, argumentou a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, na petição de janeiro. A fábrica, no entanto, permanece fechada.

“A gente já alertava sobre isso lá atrás. Em 2020, quando Bolsonaro fechou a Fafen, alertamos que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos”, advertiu o diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Gerson Castellano, em depoimento ao Portal da CUT, em outubro passado.

“Pressionamos pela volta da Fafen do Paraná e que terminem a construção da Fafen Mato Grosso do Sul. Isso envolve também a recontratação dos profissionais demitidos de forma injusta no ano passado”, atestou Castellano.

PTNacional, com BBC

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