O ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran denunciou hoje (5) que há um verdadeiro esquema suspeito em torno da Operação Lava Jato que deve ser investigado, pois envolve comércio de delações, proteções, extorsões, tráfico de influência e seletividade nas decisões da força tarefa comandada pelo juiz Sérgio Moro.
Em depoimento em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Tacla Durán afirmou que o esquema movimenta milhões de dólares e também pôs em xeque a veracidade de provas apresentadas pela Odebrecht a partir dos sistemas de planilhas Drousys e MyWebDay – largamente utilizados pela Lava Jato para condenar réus.
O advogado garantiu, com base em perícia feita na Espanha, que o sistema de planilhas que controlava as propinas pagas pela Odebrecht a autoridades foi adulterado antes do início da investigação da Operação Lava Jato.
Vítimas – Arrolado como testemunha de defesa de Lula, Durán foi impedido de depor por Moro. “Não querem me ouvir porque têm medo do que vou dizer”, disse Durán por vídeo conferência direto da Espanha, onde mora. Segundo ele, ao não permitir seu depoimento, Moro cerceia o seu direito de defesa e o de outras vítimas da força tarefa de Curitiba. Todas as denúncias de Tacla Durán estão documentadas.
O deputado Wadih Lula Damous (PT-RJ), autor do requerimento que propôs a audiência pública, disse que durante quase quatro horas de depoimento Tacla Durán pôde mostrar “o lado oculto da Lava Jato que a TV Globo e a grande mídia não mostram”. Todos os documentos apresentados por Durán já na CPI da JBS, no ano passado, e revelados hoje atestam “que a Lava Jato virou uma organização criminosa”.
Wadih lamentou que as denúncias do advogado não sejam apuradas pela Procuradoria-Geral da República, apesar de representação encaminhada pela Bancada do PT em dezembro e há poucos dias arquivada pela procuradora-geral Raquel Dodge.
O líder do PT na Câmara, Paulo Lula Pimenta (RS), frisou que o depoimento de Tacla Durán mostrou não só “esquemas criminosos e de enriquecimento de pessoas no entorno da Lava Jato”, como a seletividade de Moro. “O juiz da República de Curitiba não quer ouvir Durán pois sabe que seu depoimento fará ruir toda a narrativa e as teses construídas pela Lava Jato”, disse o líder. Na expectativa de Pimenta, esses pontos suspeitos deverão ser esclarecidos por uma CPI na Câmara que vai apurar a máfia das delações na Lava Jato.
“Proteção” – Mas além de fraudes nos sistemas eletrônicos de contabilidade da Odebrecht, Tacla tocou num ponto sensível para Sérgio Moro: o seu amigo, padrinho de casamento e ex-sócio de sua mulher, Rosângela Moro, o advogado Carlos Zucolloto Junior.
Segundo Durán, no momento em que negociava uma delação, Zucolotto ofereceu-lhe a venda de proteção na Lava Jato. Disse que Zucolotto lhe ofereceu reduzir sua multa de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões se o pagamento fosse feito em uma conta bancária em Andorra. O pagamento era para “melhorar” o acordo de delação de Durán com os procuradores da Lava Jato, liderados por Deltan Dallagnol. “Percebi que as preocupações eram estritamente financeiras”, destacou o advogado.
Tacla Durán frisou que Moro tem um lado obscuro, que é o de cercear o direito à defesa. “Desde 2016 quando me apresentei à força tarefa da Lava Jato para dizer que era advogado da Odebrecht sou tratado como criminoso. Nunca apresentaram provas contra mim. Aqui na Espanha já arquivaram acusações contra mim por falta de provas”, disse.
CPI – O advogado acusou a Lava Jato de se tornar um polo de poder político capaz de moer reputações, de destruir empresas e instituições”. “Digo isso com tranquilidade, pois jamais fui filiado ou militei em qualquer partido político”. Criticou também o método de Moro, adotado por ditaduras, de forçar delações com ameaças a familiares de envolvidos em suspeitas de irregularidades.
O próprio deputado Paulo Pimenta listou mais de 20 casos de pessoas submetidas a torturas psicológicas de Moro e procuradores da Lava Jato. Para o parlamentar, dona Marisa Letícia, mulher de Lula, morreu em meio à perseguição promovida contra si pela “república de Curitiba”.
Durán contou aos deputados que já respondeu a três oitivas do Equador, uma de Andorra, uma da Suíça, uma de Antigua e Barbuda, uma do México, uma do Peru, uma da Argentina e uma do Brasil. No caso da oitiva solicitada pelo Ministério Público Federal, marcada para 4 de dezembro de 2017, na presença de um juiz e de um procurador espanhóis, Tacla Durán compareceu mas os procuradores brasileiros simplesmente não foram — dentre eles, Roberson Henrique Pozzobon e Orlando Martello Jr. O MPF não explicou o motivo da desistência.
Em novembro de 2016, Duran teve a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sérgio Moro, foi preso na Espanha, mas libertado porque tem dupla cidadania, o que impediu a extradição. Durán trabalhou como advogado para a Odebrecht entre 2011 e 2016.
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