Diante de mais de mil delegados e delegadas, além de parlamentares e representantes de movimentos sociais que participaram da abertura do 12º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), nesta segunda-feira (13), em Brasília (DF), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva direcionou sua fala para fazer duras críticas à agenda de retrocessos e arrocho imposta pelo governo golpista de Michel Temer.
Lula foi enfático ao dizer que o que está em risco no atual momento é a própria soberania nacional e que vai se engajar na luta para superar a conjuntura adversa. “Eu estou disposto a voltar aos meus 35 anos de idade, a andar por esse país alertando o povo brasileiro sobre o que está em jogo. E o que está em jogo não é pouca coisa, é a soberania desse País, é a gente voltar a decidir o destino desse País”, preveniu o petista, citando medidas como a venda de terras e a abertura indiscriminada do espaço aéreo para estrangeiros.
O tratamento dispensado ao Brasil no exterior também foi tema da exposição de Lula. “Enquanto a gente tinha um metalúrgico analfabeto que não sabia falar inglês, nem francês, nem espanhol, mas que era respeitado no mundo inteiro, você tem um doutor que não tem coragem de sair do País, com medo de não ser recebido”, recordou.
Transposição – Lula fez referência ao oportunismo dos golpistas em relação a um dos principais projetos de iniciados durante a sua gestão. “Será que eles têm noção do que significa a transposição das águas do rio São Francisco? Não têm porque nunca fizeram. Dom Pedro dizia que daria a última joia da coroa para fazer, mas não fez. Tinha outro presidente que ia na Bahia e era contra, ia na Paraíba e era favorável, ia no Rio Grande do Norte e era favorável, mas ia em Sergipe e era contra, porque dizia que tinha estado doador e estado receptor, mas o rio era nacional, era do povo brasileiro”, ressaltou, ao tempo em que confirmou que estará em Monteiro (PB) no próximo domingo (19) para celebrar a obra.
“Eu quero dizer para eles: sabem por que só eu que fiz aquilo? Porque, de todos que passaram pela presidência da República, só eu tenho a experiência de carregar um pote de água na cabeça”, explicou Lula.
Gastos – “Essa gente que agora ocupa os cargos do governo – que não deveria estar ocupando, porque não conquistaram o governo e nem fizeram por merecer – parece não conhecer o significado de um salário mínimo para um trabalhador rural ou para um aposentado na maioria das pequenas e médias cidades do território nacional”, disse Lula.
Nestas cidades, continuou o ex-presidente, os recursos dos assalariados “é praticamente a maior composição da receita das prefeituras, é o que faz o comércio funcionar, é o que faz o banco funcionar e muitas vezes é o que faz pai, mãe, filho, neto e bisneto comer arroz, feijão e pão todo santo dia”.
“Para eles, isso é gasto. Para nós, isso era investimento”, comparou Lula, repetindo a sua conhecida tese que a melhor saída para recuperar a economia é “incluir o povo pobre na economia brasileira”, em vez de encarar os orçamentos das áreas sociais meramente como gastos.
“Quando nós começamos o programa Fome Zero, na cidade de Guaribas, no Piauí, era apenas 50 reais que a gente dava para mãe. E nós éramos esculhambados pela grande mídia, por setores mais esquerdistas que diziam que aquilo era assistencialismo, a burguesia dizia que era esmola. Diziam que eu tinha que fazer obras, mas eu respondia: ‘Se o povo comesse cimento, eu faria estradas, mas o povo come feijão, come farinha, come pão e é exatamente isso que eu vou fazer como prioridade’… e agora eles resolvem colocar quase tudo que foi conquista do povo brasileiro como gasto”, lamentou Lula.
Previdência – “Educação é gasto, saúde é gasto, a previdência é gasto. Se eu pudesse, com meu diploma de primário, dizer para eles: ‘Querem resolver o problema de finanças da previdência? Gerem 22 milhões de empregos como nós geramos! Aumentem o salário mínimo todo ano, aumentem a renda do trabalhador’, porque aí a gente vai fazer a previdência ser superavitária”, acrescentou.
“Por que cobrar do pequeno agricultor, que não tem como pagar? Por que não cobra do agronegócio exportador, que exporta tanto e que ganha tanto dinheiro?”, questionou Lula, fazendo menção à reforma da previdência do governo golpista, que vai penalizar fortemente os trabalhadores rurais.
Incômodo – “Eu até pensei que eles deram o golpe porque queriam derrotar o PT, porque era preciso destruir o PT, o PCdoB, os partidos de esquerda. Não. Era apenas um pretexto. O que incomodava não era o PT, não era a Dilma, era saber que o filho de uma trabalhadora rural estava cursando a universidade federal do seu estado, ocupando o lugar de um deles. Quando pobre começa a ter direito, incomoda”, observou Lula.
O líder mais popular da história do Brasil também lembrou que o golpe substituiu uma presidenta eleita democraticamente por “um presidente não eleito, que quase não se elege deputado” para retirar todas as conquistas do povo na última década.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, assim como Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), participaram da solenidade. Lá estiveram ainda os deputados Bohn Gass (PT-RS), Enio Verri (PT-PR), Erika Kokay (PT-DF), José Guimarães (PT-CE) e Paulão (PT-AL), além dos senadores Humberto Costa (PT-PE), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Paulo Rocha (PT-PA).
A fala completa de Lula pode ser assistida no vídeo abaixo, a partir de 1h59min da transmissão:
Rogério Tomaz Jr.
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara