Em entrevista exclusiva à Pública, Lula fala de Bolsonaro, Amazônia, Rede Globo, eleições 2020 e diz “O PT tem que fazer prevalecer a sua vontade e decidir quem vai ser candidato”
Havia um clima de discreto otimismo entre os assessores e advogados de Lula. Ontem, uma decisão do STJ suspendeu o julgamento de uma questão sobre o processo do sítio de Atibaia — o que foi visto como vitória porque levaria o caso de volta às alegações finais, mas não anularia o processo, como quer a defesa do ex-presidente. Além disso, a votação em andamento no Supremo Tribunal Federal sobre a prisão em segunda instância traz, pela primeira vez, uma possibilidade concreta de liberdade para Lula, ainda em novembro.
Mais do que a esperança, porém, é a ironia que aparece na entrevista concedida pelo ex-presidente na sala da PF, onde, ladeado por policiais ele recebe os jornalistas — obrigados, pela polícia, a ficar a pelo menos três metros de distância dele. Ao comentário sobre a gravata com as cores do Brasil que usa com blazer e calça jeans dispara: “Essa gravata tem história, rapaz, é de quando conquistamos as Olimpíadas em Copenhagen. Eu ganhei 18. Como vou viver até os 120 anos tenho gravata para usar o tempo que quiser”, provoca.
E não há sinais de comemoração em sua resposta sobre suas primeiras vitórias na Justiça: “Eu deveria ficar até carrancudo quando você faz uma pergunta dessa, mas é tão hilário o que aconteceu na minha vida… Estou agarrado pelo monstro e estou rindo”, diz, antes de prometer: “Podem perguntar o que quiserem, não ficarei nervoso como o Bolsonaro ficou ontem à noite”, referindo-se à live do atual presidente depois da reportagem da rede Globo sobre o depoimento do porteiro do condomínio da Barra da Tijuca, dizendo que um dos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco havia procurado Bolsonaro na noite do crime.
Bom humor, indignação e alfinetadas aos adversários políticos se alternam nesta segunda entrevista do dia — antes da Pública, ele tinha recebido uma equipe de TV francesa. O tempo apertado de 60 minutos marcados no relógio, por imposição das regras da prisão, pressiona ex-presidente e entrevistadores, mas ele sabe do que quer falar. “Nesse país, pode ter certeza, só tem um partido político que funciona como partido político: é o PT”, diz, para emendar: “Você percebe que o partido do Bolsonaro não existia ontem e que agora, por causa de uma eleição, eles vão receber R$ 400 milhões ou mais do fundo partidário? Qual a empresa que vai ganhar R$ 400 milhões do nada? ”, cutuca.
Entre os muitos temas abordados na entrevista, a relação com Dilma e as decisões sobre as próximas eleições deixam claro que Lula, preso ou solto, vai dar as cartas em 2020. “Num partido como o PT o partido tem que fazer prevalecer a sua vontade e decidir quem vai ser candidato. Como é que você vai ganhar o carnaval se você não se apresenta? ”
Por Agência Pública