Em uma live com muitas recordações, músicas e depoimentos foi comemorado na quarta-feira (12), os 20 anos da Marcha das Margaridas, mobilização que desde o ano 2000 traz a Brasília mulheres do campo, das florestas e das águas para reivindicar melhores condições de vida e de trabalho. Realizada de quatro em quatro anos, as mais recentes edições levaram cerca de 100 mil mulheres à capital do País. Durante o ato, realizado de forma virtual por conta da pandemia, foram relembradas as lutas, as conquistas e apontados os desafios para o movimento. Dezenas de lideranças do setor e personalidades participaram da live, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidenta Dilma Rousseff.
No início do ato foi apresentado um vídeo em que uma atriz interpreta o discurso feito pela líder sindical camponesa Margarida Maria Alves, no dia 1º de Maio de 1983, em Sapé, na Paraíba. Na ocasião, ela denunciava ameaças sofridas por ela e membros do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade por causa das reinvindicações que faziam por melhores condições de trabalho e de vida para os trabalhadores do campo.
Foi neste discurso que a líder camponesa, que dá o nome a Marcha, proferiu a frase que virou lema das atuais Margaridas. “Da luta eu não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”. Margarida Maria Alves foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983, aos 50 anos, na porta de sua casa, com um tiro de espingarda de calibre 12, no rosto. O Ministério Público concluiu à época, que fazendeiros da região contrataram um pistoleiro para assassiná-la.
A luta da sindicalista inspirou a organização das Marcha das Margaridas, movimento de mulheres camponesas organizado pela Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), mais especificamente pela Secretaria de Mulheres da entidade, com participação de milhares de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais e entidades parceiras, do campo e da cidade, de todo o País.
A coordenadora da primeira Marcha, no ano 2000, Raimunda Celestina de Mascena, disse que a ideia de organizar uma mobilização nacional surgiu na Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais em 1999. “O primeiro desafio foi organizar uma Marcha só de mulheres, em conjunto com sindicatos e federações de todo o País. A partir daí, construímos o lema, ‘2000 mil razões para marchar contra a fome, a pobreza e a violência sexista’. Então decidimos marchar para tirar as mulheres rurais da invisibilidade que vivíamos naquele momento”, ressaltou.
Esperança
Já a segunda edição da Marcha (2003), também coordenada por Raimunda Celestina de Mascena, e a terceira (2007), organizada por Carmem Foro, foram marcadas pela esperança e pelo reconhecimento do governo do primeiro presidente operário do País. Em depoimento, o ex-presidente Lula lembrou com carinho da Marcha das Mulheres realizadas durante seus dois mandatos.
“Tenho saudades do movimento de vocês, e agradeço pelo que vocês simbolizam na luta das mulheres brasileiras. É extremamente importante que a sociedade brasileira compreenda a relação que tivemos com vocês, que todo ano apresentavam suas pautas, nós discutíamos, e quando acontecia a Marcha apresentávamos o que iria ser atendido. Isso pra mim era a consagração da relação entre o governo e seu povo, e o significado do que o povo pode conquistar quando está unido, politizado e consciente do que deseja”, disse Lula.
Titulação e moradia
Já durante os mandatos de Dilma Rousseff, as duas Marchas, de 2011 – coordenada por Carmem Foro – e de 2015 – por Alessandra Lunas – tiveram tons diferentes. Enquanto a primeira reivindicou e colheu vitórias como a titulação de terras e do Minha Casa Minha Vida Rural em nome das mulheres do campo, a de 2015 levou 100 mil mulheres a Brasília para denunciar o golpe em curso contra a presidenta Dilma Rousseff.
A ex-presidenta Dilma Rousseff também recordou com saudade do movimento das mulheres e disse que será sempre grata às ‘Margaridas’. “De mim, as ‘Margaridas’ receberão sempre solidariedade, apoio e gratidão. Terão sempre o meu reconhecimento pelo que desempenharam na luta das mulheres por justiça, igualdade e democracia. Vocês foram e continuam sendo uma inspiração para mim e para todas as mulheres do Brasil”, ressaltou.
Marcha das Margaridas de 2019
A última Marcha das Margaridas, realizada em 2019, também levou 100 mil mulheres às ruas de Brasília. Desta vez, além das reivindicações o tom da Marcha foi de denúncia contra o governo Bolsonaro, que apresentava uma pauta machista, misógina, homofóbica e destruidora de direitos.
“A primeira Marcha foi um divisor de águas nas conquistas das mulheres trabalhadoras rurais por terra, por crédito personalizado, incentivos à agroecologia e fortalecimento da agricultura familiar, e no empoderamento das mulheres no movimento sindical. Porém, a Marcha vai continuar na luta em defesa dos direitos, da democracia, da justiça, igualdade e contra a violência”, ressaltou o presidente da Contag, Aristides Santos.
Durante a live, também ocorreram várias apresentações musicais com artistas como Zélia Duncan, Tábata Amaral, Grupo Batalá (de percussão formado apenas por mulheres) e Carol Carneiro, que entoou a música que se tornou o “hino” da Marcha das Margaridas. A letra da música diz: “Olha Brasília está florida, estão chegando as decididas. Olha Brasília está florida, é o querer, é o querer das Margaridas”. Atrizes que apoiam o movimento, como Letícia Sabatella, Maria Casadevall e Pally Siqueira também saudaram os 20 anos da Marcha das Margaridas.
As deputadas Benedita da Silva (RJ) e Erika Kokay (DF) também participaram da live. Benedita ressaltou a importância das “Margaridas” para o País ao dizer que elas defendem “a agricultura sem veneno, os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, e que produzem alimento saudável”. Por sua vez, Erika Kokay lembrou que esteve junto com as ‘Margaridas’ desde a primeira Marcha em 2000.
“Foi ali na primeira marcha que lembrávamos de Margarida Alves, assassinada em 1983 na porta de sua casa. Tentaram calar Margarida, mas não imaginavam que ao arrancar uma margarida, não poderiam impedir a chegada da primavera. Hoje, são milhões de ‘Margaridas’ pelo Brasil inteiro, e que trazem a Brasília suas reinvindicações”, explicou.
Também participaram da live a governadora do Rio Grande do Norte, a petista Fátima Bezerra; a ex-ministra da Secretaria Especial de Mulheres no governo Dilma, Eleonora Menicucci; e a deputada distrital Arlete Sampaio (PT-DF). Dezenas de lideranças de entidades parceiras da Contag na Marcha das Margaridas também felicitaram os 20 anos da Marcha.
Outros parlamentares do PT saudaram os 20 anos da Marcha. O coordenador do Núcleo Agrário do PT, deputado João Daniel (PT-SE), destacou que a Marcha das Margaridas é um dos mais importantes movimentos da classe trabalhadora do Brasil.
“A Contag, as federações e os sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais estão de parabéns por realizarem essa atividade que já faz parte da história da classe trabalhadora e em defesa das mulheres do nosso País”, afirmou.
Já o deputado Valmir Assunção (PT-BA) destacou as conquistas obtidas pelas ‘Margaridas’ no passado. Porém, destacou que na atual conjuntura de pandemia da Covid-19 as mulheres do campo têm sido mais impactadas.
“A Pandemia revelou ainda mais a necessidade de políticas específicas para as mulheres no campo. A violência doméstica e a falta de incentivo para a produção são questões muito sérias e precisam ser enfrentadas”, disse.
Ele observou que o PT conseguiu aprovar no Congresso, de forma emergencial, o projeto de lei “Assis Carvalho”, que garante recursos para auxílio e fomento às agricultoras familiares. Porém lembrou que existem outros problemas que ameaçam as trabalhadoras rurais no atual momento de pandemia.
“No entanto, precisamos dar mais respostas, principalmente no que se refere ao direito à terra. Despejos durante a pandemia são atos desumanos e, diria, até criminosos. Além disso, impacta na produção de alimentos, cujo trabalho das agricultoras é primordial!”, ressaltou.
Héber Carvalho
Foto: Lula Marques/Arquivo
Assista aqui a live dos 20 ANOS DE MARCHA DAS MARGARIDAS
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