A jornada de mobilização das mulheres teve início no 08 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, com encerramento neste dia 14/03, quando completam-se três anos do brutal assassinato de Marielle Franco e é marcada por um amplo processo de unidade política entre as diversas organizações dos movimentos de mulheres e da esquerda. Um dos temas que constitui essa unidade é a denúncia da crescente violência contra as mulheres na política.
Historicamente, as relações sociais de gênero destinaram aos homens o espaço público, portanto, da política, e às mulheres o espaço privado, doméstico e de cuidados. Sujeitas da sua história, as mulheres romperam o cerco do patriarcado e se colocaram na esfera pública através de muitas lutas, que lograram na conquista do direito ao voto e na participação política, ainda que, até hoje, exista um hiato entre a população feminina e sua representação nas casas legislativas e também no executivo.
A presença de mulheres nesses espaços sempre foi objeto de contestação do imaginário patriarcal. Fazendo um recorte mais recente da história e, ao mesmo tempo, emblemático, lembremos do golpe político, misógino e patriarcal que impediu a continuidade do mandato da presidenta Dilma, primeira mulher presidenta da República, quando os ditos representantes da família chegaram a fazer apologia à tortura, ao justificar seu voto. E não para por aí. Foi nesse mesmo parlamento que o então deputado Jair Bolsonaro disse que minha colega de bancada e companheira de partido, Maria do Rosário, sequer merecia ser estuprada.
O assassinato de Marielle Franco, há três anos atrás, constitui-se como um feminicídio político. A vereadora acabara de sair de um debate intitulado “Jovens negras movendo as estruturas” quando teve a vida ceifada por aqueles que não aceitavam que uma mulher negra, lésbica e militante de direitos humanos ocupasse cadeira no parlamento carioca, desafiando milícias e antigas estruturas de poder. Ainda em 2018, durante a campanha presidencial, a candidata a vice-presidente, Manuela D’Avila, foi alvo de inúmeras fake news que ofenderam sua honra e legitimaram o discurso conservador e odiento que culminou na eleição de Bolsonaro.
Sob o governo Bolsonaro e uma conjuntura absolutamente adversa para o bem viver, os direitos humanos e a luta das mulheres, as eleições de 2020 foram marcadas por uma polarização política, que teve a misoginia, mais uma vez, como marcador. Infelizmente, assistimos a novas variantes do bolsonarismo, travestidos de progressistas ou democratas, mas que se utilizaram também de machismo e mentiras para desqualificar candidaturas de mulheres. Assim, eu mesma fui vítima de injustos e misóginos ataques por parte do candidato dito Trabalhista; em Recife, Marília Arrais foi vítima do mesmo tipo de discurso, tal qual Manuela D’Avila, em Porto Alegre, e tantas outras!
Já no começo deste ano, várias paramentares negras receberam ameaças de um mesmo hater; Carolina Iara e Erika Hilton, ambas mulheres trans, também sofreram graves agressões. Outro fato gravíssimo foi o assédio sexual sofrido pela deputada Isa Penna, durante sessão parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo. A punição para seu agressor foi receber férias remuneradas por 119 dias!
Como se não bastasse tudo isso, em pleno dia 08 de março, o ex-ministro Ciro Gomes declarou que a presidenta Dilma seria um aborto na política, repetindo a mesma postura misógina que teve comigo ao dizer que, durante a minha gestão, Fortaleza era um puteiro a céu aberto!
Por tudo isso, seguiremos na luta e em jornada permanente contra o machismo, a misoginia e por mais participação de mulheres na política! Não seremos silenciadas! Fora Bolsonaro e suas variantes! Lugar de mulher é na política!
Luizianne Lins é deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza (PT/CE)