A semana da cultura nordestina é um convite para a celebração das festas, música, dança, literatura e culinária de uma região rica em saberes. Antes que os olhares do senso comum cristalizem a data, cabe fazer algumas considerações sobre o artista que soube se vestir com a tradição e, ao mesmo tempo, inovou o sentido de pertencer ao Nordeste.
Os primeiros dias deste mês serão de muitas homenagens ao eterno Luiz Gonzaga. O nobre pernambucano nos deixou no dia 2 de agosto de 1989 e, por isso, desavisados do sul-maravilha serão bombardeados com as inesquecíveis canções desse artista que, com sua voz, sanfona e trajes de valente vaqueiro, elevou ao patamar de arte o modo de falar e de viver do sertanejo.
Quando os versos de Asa Branca começaram a ecoar no rádio, as Vidas Secas de Graciliano Ramos eram comentadas com a mesma ênfase que se discutia a Geografia da Fome, mapeada por Josué de Castro. Eram tempos de intensos debates e amplas temáticas eram formuladas por intelectuais que se debruçavam sobre os problemas sociais que assolavam o Nordeste.
O cancioneiro apresentado por Luiz Gonzaga propagou-se entre as décadas de 1940 e 1960 trilhando a rota do cotidiano, narrando as aventuras de uma gente que precisava lutar para existir. Naquele momento, os paus-de-arara cortavam o país de norte a sul, levavam famílias que migravam com seus sonhos para outras regiões do país em busca de uma vida mais digna. A música de Gonzaga embalava as viagens e reconfortava a saudade daqueles que desembarcavam e se estabeleciam em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e tantos outros destinos.
Pode-se afirmar que Luiz Gonzaga expandiu a noção de regionalismo de modo muito particular, o artista soube enredar delicadamente o Nordeste na trama da cultura nacional sem esquecer as especificidades de suas origens. O velho Gonzaga demonstrou que é possível resistir mantendo o sorriso no rosto; sua grande inovação foi mostrar aos nordestinos e nordestinas que a simplicidade é uma força e é com ela que se deve caminhar.
E os caminhos? Bem, seguindo a receita do filho de Januário, “vai oiando coisa à grané, coisa que pra modivê o cristão tem que andar a pé”.
Professora Rosa Neide, é deputada federal PT-MT
Foto: Gabriel Paiva/Arquivo