O líder da Bancada do PT, deputado Reginaldo Lopes (MG) repudiou, da tribuna da Câmara, nesta quinta-feira (31), a carta do ministro da Defesa, Braga Netto, de exaltação ao golpe militar de 1964. “Nesta época o Brasil viveu um período sombrio, um período de arbítrio, de torturas, de assassinatos. Centenas de brasileiros e brasileiras pagaram, com a própria vida, por lutar contra a ditadura, um regime corrupto, um regime autoritário”, afirmou indignado.
Na avaliação do líder, em pleno século XXI, com o processo de redemocratização do Estado brasileiro, com os 200 anos de comemoração da nossa independência, as Forças Armadas deveriam estar pautando a luta por um País mais igual, a luta pelo enfrentamento das desigualdades, e não sonhando com um passado de autoritarismo.
“É inaceitável que alguém que ocupe um ministério venha fazer apologia a um sistema que matou centenas de brasileiros e de brasileiras, que matou jovens porque sonhavam com um País mais justo. É inaceitável que um chefe do governo venha defender um regime corrupto e autoritário. Portanto, nós queremos aqui repudiar e vamos estudar se esse ministro juntamente com o seu chefe, que sempre fizeram apologia à ditadura, não têm que ser indiciados através de uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal”, destacou.
Governo autoritário
“Portanto, nós queremos aqui repudiar e dizer que vamos continuar na luta. O nosso partido, o Partido dos Trabalhadores e das trabalhadoras, sempre foi sinônimo de resistência, de enfrentamento em defesa da liberdade, em defesa da democracia”, observou o líder. Na sua avaliação, as eleições de outubro serão um grande movimento do povo brasileiro contra este governo autoritário. “E nós sabemos muito bem que governos autoritários, quando são reeleitos, implementam ditaduras”, alertou.
Reginaldo Lopes reforçou que, por isso, “nós vamos transformar esta campanha de 2022 num amplo movimento da sociedade civil pela redemocratização do Brasil, pela redemocratização dos direitos do povo brasileiro e também de luta pela verdadeira independência do nosso País”. Ele frisou que um país independente, um país soberano é um país que cuida da sua gente, que cuida do seu povo, que tem planejamento para superar as injustiças, que tem planejamento para pensar num modelo de reconstrução.
Marca da destruição
A reconstrução do País, conforme o líder, é necessária porque o governo do Braga Netto, do Paulo Guedes (ministro da Economia) e do próprio Bolsonaro significou a marca da destruição. “Eles promoveram destruições em todas as áreas. Nós chegamos a ser a sexta maior economia do planeta Terra, e, hoje, somos a décima quarta economia. Perdemos riquezas, perdemos poder de compra”, lamentou o líder, citando que, segundo uma série histórica de publicações do IBGE, a massa salarial do povo brasileiro, da classe trabalhadora, é a menor da história.
O Brasil no governo Bolsonaro também atingiu a marca de ter mais da metade da população brasileira em situação do subemprego, de subocupados, subutilizados, precarizados, informais, desalentados e desempregados. Mais de 51% da população se encontram nesta situação e com o estado de proteção social cada vez menor e com a volta daquilo que é mortal para a classe trabalhadora, que é o descontrole da inflação.
A inflação, afirmou Reginaldo Lopes, tem corroído o poder de compra dos trabalhadores brasileiros, da classe média, do servidor público. A inflação para os mais pobres, para os de menor poder econômico, que ganham até 2 salários mínimos — e são aproximadamente mais de 70% dos trabalhadores no Brasil —, é três vezes superior à inflação do País no ano de 2021, que foi de 10,26%. Ela chegou a 30%.
“Essa comunidade, esses trabalhadores gastam 100% no consumo, na alimentação. Portanto, são prejudicados com o sistema tributário injusto, que penaliza o consumidor e, ao mesmo tempo, são vítimas de uma inflação que é três vezes superior a dos outros setores da sociedade brasileira, porque a inflação de alimentos — e a classe trabalhadora gasta 100% na sua alimentação — foi de, aproximadamente, 30%”, criticou.
Um novo País
Reginaldo Lopes disse que o PT quer debater com a sociedade brasileira e criar um amplo movimento pelo Brasil. “O nosso pré-candidato a presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não é um candidato do PT, é um candidato dos homens e das mulheres que sonham com um novo País, sonham com a verdadeira independência”, afirmou, ao acrescentar que nós não temos muito o que comemorar nos duzentos anos da independência do País.
“O Brasil deveria estar comemorando a justiça social, a eliminação das desigualdades. Mas não, nós aprofundamos, depois do golpe na presidenta Dilma, o aumento das desigualdades sociais no País. E, quando falamos em enfrentar as desigualdades, precisamos ter lado, precisamos ter posição. Ter lado e ter posição é dizer que, em um novo programa de País, nós precisamos olhar para os coletivos da sociedade brasileira que mais pagam pelas desigualdades, que são os coletivos dos jovens, das mulheres, dos negros e das negras, das comunidades indígenas, dos quilombolas, das comunidades tradicionais”, frisou o líder. Ele acrescentou que são esses os coletivos que vivem na pele um modelo excludente, um modelo concentrador de riquezas e que não produz riqueza para distribuir para esses coletivos.
Reginaldo Lopes concluiu afirmando que tem convicção de que fora da democracia é a barbárie. Fora da democracia é a corrupção. Fora da democracia é o autoritarismo. “Fora da democracia não é possível construir um pacto civilizatório. Em nome desta democracia, em nome da liberdade de imprensa, em nome da liberdade de todos, de todas, é que nós queremos construir um novo País”.
Vânia Rodrigues