Os caos na saúde do Amazonas, principalmente em Manaus, ocasionado pela explosão de casos do novo coronavírus (Covid-19) é fruto de uma sequência de erros dos governos estadual e municipal, e também do governo federal. Essas são as observações feitas nesta quinta-feira (23) pelos deputados José Ricardo (PT-AM) e Alexandre Padilha (PT-SP), ao analisarem as falhas na gestão do sistema de Saúde do estado e de Manaus, e a omissão do governo federal no envio de recursos e equipamentos para a região.
Até a última terça-feira (21), segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 2.270 casos de coronavírus no Amazonas e 193 mortes, o quarto e quinto maiores números do País, respectivamente.
Segundo o parlamentar amazonense, as cenas de desespero por conta da falta de leitos de UTI e de filas de carros funerários esperando para desembarcar caixões para enterros coletivos em cemitérios de Manaus, ocorrem primeiramente pela opção dos últimos governantes do Estado, e do atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), de terceirizarem a administração da Saúde a organizações privadas.
“Não houve expansão da estrutura de atendimento, e agora sentimos essa falta com o avanço da pandemia, sem leitos de hospitais, sem leitos de UTIs, sem respiradores e até mesmo sem condições dos funcionários trabalharem, e que estão sendo contaminados e morrendo”, apontou.
Ainda de acordo com José Ricardo, a terceirização dos serviços de Saúde também gerou escândalos de corrupção que resultaram no caos verificado no estado e em Manaus.
“Tivemos uma sucessão de governos que terceirizaram os serviços de saúde, com escândalos de desvios de recursos, e inclusive com a cassação do governador e prisão de quatro ex-secretários de Saúde”, explicou.
O parlamentar ainda lembrou que houve demora na adoção de medidas de isolamento social, em todo o estado e, principalmente em Manaus, o que também contribuiu para a disseminação do novo coronavírus entre a população.
Para José Ricardo, o governo federal também tem parcela de culpa na falência do sistema de Saúde do estado e de Manaus porque, segundo ele, “até agora não fez praticamente nada pelo Amazonas”. “Historicamente tivemos cortes de recursos para a saúde com a emenda do teto de gastos (EC 95). Agora, o governo federal quase nada enviou”, relembrou.
Segundo o parlamentar, diante do descaso dos governos locais e do governo federal, o Amazonas vive um drama sanitário por conta da falência do sistema de saúde. “Agora o sufoco é total. Temos o colapso do sistema, as mortes diárias que são um drama para tantas famílias e estamos falando de milhares de pessoas contaminadas e internadas em unidade precárias, como no interior do estado e necessitando de leitos de UTIs que não têm mais”, lamentou.
Situação de Manaus hoje pode ser a do restante do Brasil daqui a semanas
O deputado federal Alexandre Padilha, médico infectologista e ex-ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff, disse que a situação observada atualmente em Manaus pode ocorrer nas próximas semanas em outras regiões do País. Para impedir que isso ocorra, Padilha destacou que o governo federal precisa agir com mais empenho.
“As imagens caóticas observadas em Manaus serão as imagens de outras regiões do País nas próxima semanas, caso não se mantenha a política de isolamento social. O Brasil está no início do outono, e na Europa, Estados Unidos e na China, o período de maior crescimento do vírus ocorreu no inverno nesses países”, alertou.
O parlamentar também destacou que será necessário mais ação do governo federal para evitar a falência do sistema de saúde em outras regiões do País.
“O governo federal já deveria ter mobilizado a Força Nacional do SUS, criada por portaria no governo Dilma enquanto eu era ministro, e ter garantido a ampliação de leitos de UTIs e equipamento de proteção para os trabalhadores da saúde. Também será necessário ampliar em muito a testagem, inclusive para saber se pode haver qualquer tipo de relaxamento do isolamento social”, explicou Padilha.
Índice de contaminação e mortes por Covid-19 no Amazonas e Manaus
O Amazonas tem a pior taxa de mortalidade por coronavírus, com 45 óbitos a cada milhão de habitantes. Isso é quase o dobro do verificado nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco, que tem 24 mortes por milhão.
Em Manaus, que concentra 80% dos casos confirmados no estado, a situação é ainda mais dramática. Na capital amazonense, houve até agora 762 casos por milhão de habitante, o quinto pior índice entre as capitais. Já o número de mortes é de 72 por milhão, o maior entre todas as capitais do País.
Héber Carvalho