A partir desta semana, dia 1º de junho, o Governo Estadual começou a flexibilizar as medidas de isolamento social, autorizando o funcionamento de parte das atividades comerciais e de serviços não essenciais. Porém, essa medida preocupa, com a possibilidade de uma nova onda da pandemia do coronavírus.
Desde dia 23 de março, pelo Decreto 42.101/2020, estava suspenso o funcionamento de todos os estabelecimentos comerciais e de serviços não essenciais, como medida necessária para evitar a circulação do vírus, no território do Estado do Amazonas. No dia 21 de março, pelo Decreto 42.099/2020, já havia sido suspenso o atendimento ao público dos restaurantes, bares, lanchonetes, praças de alimentação e similares, bem como funcionamento de boates, casas de shows, casas de eventos, recepções, salões de festas, parques de diversão, circos, e ainda, de igrejas, templos religiosos, lojas maçônicas e estabelecimentos similares.
A proposta é uma reabertura gradual. Desde o dia 1º de junho, estão liberados alguns tipos de comércio e serviços, incluindo, os que funcionam nos shoppings. Mas precisam atender medidas de proteção, protocolos com critério de prevenção, tais como: aferição de temperatura de funcionários e clientes, garantias de higiene e equipamentos de proteção para os funcionários, uso de máscaras e luvas, disponibilidade de álcool em gel e de pia para lavar as mãos, restrição de ocupação de espaço, distanciamento entre os clientes, limpeza reforçada e desinfecção do local, liberação de funcionários do grupo de risco. Tudo isso.
A partir do dia 15 de junho, serão outras atividades liberadas, inclusive, restaurantes, cafés, padarias para consumo local. No dia 29 de junho, outros setores também funcionarão, incluindo, salões de beleza, barbearias, cabeleireiros, academias e parques públicos e atrações turísticas. E a partir de 6 de julho, será liberado o funcionamento de creches, escolas e universidades da rede privada, cinemas. Ainda não tem data para as escolas públicas municipais e estaduais, bem como para os bares e casas de show.
A grande surpresa foi a liberação das igrejas e templos religiosos a partir do dia 1º de junho. Não estava previsto. Mas a bancada evangélica pressionou. O deputado Silas Câmara, coordenador da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, chegou a se manifestar em vídeo. Deu certo. Não sei por que a pressa. Mas a Igreja Católica não embarcou nessa. Dom Leonardo, arcebispo de Manaus, disse que as igrejas ficarão fechadas até dia 23 de junho. Está certo, a vida em primeiro lugar.
Mas muita gente está preocupada com esse retorno apressado do comércio. Especialistas dizem que nos países que tiveram alta contaminação e morte, como na Europa, e tomaram medidas de paralisação de atividades e isolamento social, somente voltaram após duas semanas de queda do número de vítimas.
Aqui no Brasil e no Amazonas, neste momento, estamos na curva ascendente dos casos. Não chegamos ao pico. No Brasil, foram 30 mil casos novos nos dois dias de junho e foram quase 1.900 mortes a mais em dois dias. No AM, tem até dia 02 de junho, 43 mil casos e 2.102 mortes. Foram mais de 1.800 casos em dois dias e 50 mortes a mais. O interior do Estado agora está em fase crescente, representando aproximadamente 57% dos casos. Ou seja, o AM não chegou ao pico, e o governo já libera a movimentação da população.
No primeiro dia de liberação, teve filas, aglomerações e engarrafamentos. O perigo de uma nova fase de contaminação é grande, principalmente, se o Governo não dispuser dos instrumentos de fiscalização para que sejam cumpridos os protocolos de segurança para garantir a saúde da população. Como fiscalizar todas as lojas? Haverá máscaras e álcool em gel à disposição de todas as pessoas.
Outra questão fundamental envolve o transporte coletivo. As empresas estão operando com apenas 50% da frota. O resultado é ônibus lotado, paradas de ônibus e terminais lotados e com aglomerações. Será que a Prefeitura não vai fiscalizar, cobrar que 100% da frota circule, e garantir a higiene dos veículos, bem como o distanciamento entre passageiros?
Acredito que a medida do Governo seja precipitada. Espero que os estudos de pesquisadores não se confirmem, e Manaus não tenha uma nova onda mortal da doença. Caso contrário, a responsabilidade será de quem tomou e apoiou essa medida. A vida deve estar em primeiro lugar. A empresa, a economia se recupera depois.
José Ricardo é deputado Federal (PT-AM)
Artigo publicado originalmente no site Amazonas Atual