*Irmãos Verá, regra e exceção* – Por Vander Loubet

vander_artigoA sociedade cobra e aguarda das autoridades responsáveis os esclarecimentos sobre o que aconteceu com dois professores indígenas guarani-kaiowá que moravam em Paranhos, Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Já me havia manifestado outras vezes sobre o assunto. Insisto, porém, indignado diante da falta de respostas e do aparente esvaziamento da importância do caso na ordem de prioridades das autoridades institucionalmente encarregadas dessa tarefa.

Praticamente não restam mais dúvidas que os dois índios foram assassinados num cenário de conflitos pela posse da terra. Os professores Genivaldo e Rolindo Verá desapareceram na madrugada de 31 de outubro deste ano, depois de participar de mobilização de seu povo para reivindicar terras que, historicamente, pertenceriam a seus ancestrais.

No dia sete de novembro, uma semana depois, foi encontrado o corpo de Genivaldo boiando num córrego a 30 quilômetros do perímetro urbano de Paranhos e a quatro quilômetros do local do conflito. Havia, segundo a Polícia, sinais de agressão física. E até agora ainda não se sabe do paradeiro de Rolindo, irmão de Genivaldo, cuja sorte parece não ter sido diferente.

Eram dois professores, lutavam pelos direitos que consideravam justos e pela sobrevivência de sua gente, mas, acima de tudo, eram dois seres humanos, duas almas preciosas. Eram pedaços remanescentes de um corpo de várias nações que já foi imensamente maior um dia, antes da chegada da civilização envolvente.

Esse corpo, com o passar dos séculos, no saldo do genocídio e das violências físicas, culturais, territoriais e sociais, hoje se vê reduzido a frações residuais, em alguns lugares do país caminhando para a extinção pura e simples ou para a brutal e implacável diluição produzida pela pressão de uma sociedade sem limites para suas ambições.

Rogo por justiça a Deus e aos homens, importando que na seara terrena todas as responsabilidades sejam acionadas e exigidas em favor do esclarecimento desses crimes e, ainda, na busca de soluções para conflitos de consequências imprevisíveis, haja vista o registro de confrontos armados entre índios e fazendeiros nas áreas conflagradas.

A sociedade civil tem representações acreditadas e mobilizadoras para buscar essas respostas. A OAB, por exemplo, é instituição capital para pressionar as autoridades e exigir a apuração completa e ágil dos fatos. Estamos diante de mais um capítulo do genocídio secular que expurga do cenário brasileiro a presença de seus primeiros habitantes, os originais
moradores e benfeitores do solo que pisamos.

Não se pode conciliar o ciclo de crescimento econômico e de conquistas sociais que vivemos, muito menos comemorar o reconhecimento mundial a esses avanços, enquanto continuarmos provando o sabor amargo do atraso cultural e social que nos impõe a barbárie fomentada nas lutas intermináveis pela posse da terra.

O Brasil está provando ao mundo que é grande, mas não será maior enquanto seus índios e suas crianças continuarem sendo pisoteados pela ganância e pela falta de escrúpulos de meia dúzia de especuladores e aproveitadores. O que aconteceu com Genivaldo Verá e Rolindo Verá não pode mais ser a regra, e nem mesmo uma triste, brutal e revoltante exceção, que não terá fim se os fatos não forem devidamente apurados, os responsáveis identificados e punidos.

Vander Loubet é deputado federal do PT-MS

 

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