Nunca houve tantos focos de incêndio no Pantanal. Este ano já possui o maior número de queimadas registradas na região, com grande distância dos valores de outros anos. E em 16 dias de setembro, o bioma já registrou 5.603 queimadas, número quase três vezes acima da média para o mês e bem acima dos 5.498 focos de calor registrados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em setembro de 2007, até então o detentor do recorde.
Pelo ritmo diário de registro de fogo, setembro de 2020 será, com folga, o mês com o maior número de queimadas já registradas em toda a história no Pantanal, superando os 5.993 focos de incêndio observados em agosto de 2005 e os 5.935 focos de agosto deste ano. São os maiores números da série histórica da instituição, iniciada em 1998.
O Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), estima que 15% do Pantanal já foram consumidos, uma área equivalente a 2,2 milhões de hectares, ou o território de Israel.
A conjuntura gravíssima já estava no horizonte com o que foi observado nos meses anteriores. O primeiro semestre do ano foi o de maior número de queimadas na história do Pantanal, com o mesmo se repetindo em julho. Agosto ficou pouco abaixo do recorde histórico.
A Polícia Federal investiga a ala selvagem do agronegócio que pode ter iniciado os incêndios no Pantanal. Em entrevista à CNN Brasil, o delegado Daniel Rocha revelou que quatro fazendeiros estão sendo investigados e que, após sua equipe analisar focos de incêndio de junho e julho, a conclusão foi de que “não têm como não terem sido ocasionados por ação humana”.
Na segunda (14), em reunião coordenada pelos deputados Nilto Tatto (PT-SP) e Professora Rosa Neide (PT-MT), parlamentares da Frente Parlamentar Ambientalista decidiram que farão diligência a partir de sábado (19) na região de Poconé, no Pantanal. Do encontro participaram ambientalistas, pesquisadores, autoridades estaduais, federais e moradores da região afetada. A diligência será feita pelos parlamentares que compõem a Comissão Externa constituída pela Câmara dos Deputados.
O deputado adiantou que integrantes da frente irão se reunir com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para solicitar a criação de um Grupo de Trabalho (GT). Entre as ações que esse colegiado coordenará estão pedidos de audiências ao Ministério do Meio Ambiente e ao Conselho Nacional da Amazônia, presidido pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. “Nessas audiências vamos cobrar que o governo federal assuma seu papel de coordenação nos trabalhos de combate aos incêndios no bioma”, afirmou Tatto.
“Mato Grosso passa por um grave estado de alerta, calamidade e destruição em decorrência dos sucessivos incêndios e queimadas. O governo é omisso e não mobiliza forças para auxiliar no combate ao fogo”, afirmou Rosa Neide. A deputada disse que enquanto o governo asfixia os órgãos ambientais, as chamas avançam na terra indígena Urubu Branco-MT. “O programa queima Brasil não está em marcha lenta. A indústria da devastação é a única que cresce com Jair Bolsonaro na Presidência”, criticou.
Em seu perfil no Twitter a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também atacou o governo: “Estamos em meio a um dos maiores desastres ambientais já vistos. Enquanto isso, Bolsonaro nega todos os dados técnicos e faz cortes no orçamento do Ibama e ICMBio”.
Salles será convocado ao Senado
No Senado, o líder da Bancada do PT, Rogério Carvalho (SE), apresentou requerimento convocando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para explicar por que o governo está ignorando as queimadas. “Queremos que o ministro explique a falta de protagonismo do governo no combate às queimadas. O Pantanal já teve 15% de sua área queimada, as autuações por crimes ambientais caíram 22% na região. Chega de passar a boiada!”, afirmou Carvalho em seu perfil no Twitter.
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Paulo Paim (PT-RS) reforçaram as críticas, ressaltando a omissão do governo Bolsonaro com a questão ambiental, em especial, com as queimadas que devastam o Pantanal. “O bioma Pantanal é uma das regiões do mundo de maior biodiversidade. São mais de 4,7 mil espécies de plantas e animais. Mas o fogo está consumindo esse santuário da natureza, as chamas se alastram. Animais em extinção estão ameaçados, como a onça e a arara-azul”, alertou Paulo Paim.
“Enquanto as reservas naturais estão sendo destruídas pelo fogo, o governo Bolsonaro corta o orçamento do Ibama e do ICMBio para o ano que vem. O presidente joga gasolina em um país em chamas”, criticou Humberto Costa.
A preocupação dos petistas com a devastação dos ecossistemas brasileiros, em especial o do Pantanal, se revela pelos dados apresentados pelo PrevFogo Ibama 2020 que mostra que as queimadas no Pantanal já ultrapassam 2 milhões de hectares. Desse total, 1,2 milhão de área destruída encontram-se em Mato Grosso e mais de 1 milhão em Mato Grosso do Sul. Segundo avaliação de técnicos ambientais, essa área devastada em MT, por exemplo, equivale a oito cidades de São Paulo.
No entanto, o governo Bolsonaro reduzirá os orçamentos do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para o próximo ano. No caso do Ibama, o corte nas verbas é de 4%, para R$ 1,65 bilhão. Do total, R$ 513 milhões ainda dependem de crédito extra a ser aprovado pelo Congresso, ou 31%. No ICMBio, a redução foi ainda maior: queda de 12,8%, para R$ 609,1 milhões —e R$ 260,2 milhões (43%) ainda sujeitos ao aval dos congressistas.
Bolsonaro e cúmplices insistem no negacionismo
Enquanto o fogo consome Pantanal e Amazônia, na quarta (16), Bolsonaro afirmou que há “críticas desproporcionais à Amazônia e ao Pantanal”. Nesta quinta, afirmou, com a desfaçatez habitual, que “O Brasil está de parabéns na maneira como preserva o seu meio ambiente”, durante a inauguração da Usina Fotovoltaica em Coremas, na Paraíba.
Já o ministro do Meio Ambiente atribuiu a explosão de queimadas em 2020 à falta de manejo de fogo nos dois últimos anos. Sem apresentar provas, lançou acusações ao vento: “Por questões ideológicas, por questões administrativas, não se permitiu lá no Pantanal que eles fizessem o manejo adequado do fogo no momento correto. Juntou muito material orgânico, então, quando pega fogo, pega fogo de maneira descontrolada”.
Como o que Salles e seu chefe dizem não resiste aos fatos, o fato é que 2019 está entre os três anos com o maior número de queimadas já registrado no bioma, com diversos meses com focos de calor acima da média do período.
O vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão, insistiu no discurso descolado da realidade afirmando que funcionários do Inpe fazem oposição ao governo federal. Também reclamou que dados positivos sobre a diminuição de focos de queimadas não são divulgados pelo órgão. No entanto, os dados são abertos ao público geral em plataformas do Inpe atualizadas diariamente. E eles não são positivos.
As informações sobre queimadas podem ser acessadas no site do Programa Queimadas e as de desmatamento, atualizadas toda semana, na plataforma TerraBrasilis.
Da Agência PT de Notícias