No momento em que o Brasil ingressa na fase dramática da pandemia, o presidente Bolsonaro mantém sua postura de incentivar um falso confronto entre as medidas de saúde pública para conter a propagação do coronavírus e os interesses econômicos do país, como se quem defende a vida esteja contra a economia.
Ao estimular as pessoas a saírem de casa e propagandear carreatas de apoiadores — aumentam o risco de contaminação e vendem a ilusão de que o Brasil não deveria parar para conter a epidemia — ele age de forma calculada e ardilosa, muito mais preocupado em fazer a luta política e aglutinar sua base cada vez mais irracional.
A postura reiterada do presidente coloca em risco a ferramenta mais poderosa que temos para combater a covid-19, que é o isolamento social máximo possível.
Este é um consenso entre as maiores autoridades do planeta em epidemiologia, infectologia e virologia, com base na experiência do que ocorreu em vários países.
Infelizmente, devido à inoperância do governo, a pandemia está crescendo num ritmo mais rápido do que deveria no país.
Há muita carência de testes, o que gera uma subnotificação gigantesca. Não existe um plano claro e divulgado nacionalmente para nos dar a segurança de que haverá a expansão de leitos de UTI com respiradores e de leitos emergenciais para as internações que se farão necessárias em poucas semanas.
Não há dicotomia entre adotar as medidas necessárias para proteger a vida das pessoas e a retomada da economia.
As duas coisas não estão dissociadas. Pelo contrário, quanto mais eficiente for o trabalho para diminuir o número de infectados, mas rápido conseguiremos normalizar a atividade econômica.
Mas é preciso também tomar providências significativas na área econômica. A aprovação da renda emergencial de R$ 600 para os brasileiros que tiveram suas atividades bruscamente interrompidas foi um passo importante e, provavelmente, precisaremos aumentar este valor nos próximos meses.
É preciso avançar nas ações de apoio à economia. O país precisa de crédito para as empresas se manterem nesse período, recursos para garantir a manutenção dos empregos de carteira assinada.
Por que não se fala em fundo emergencial para combater os efeitos do coronavírus na economia?
Sem falar em medidas tributárias justas como o imposto sobre grandes fortunas, a contribuição sobre altos salários públicos e privados, a tributação de lucros e dividendos, e o aumento do imposto sobre o lucro das instituições financeiras.
Temos que equilibrar as duas coisas. Proteger a saúde, que deve estar no topo das nossas prioridades, conforme está escrito na nota conjunta da Organização Mundial da Saúde e do Fundo Monetário Internacional, e diminuir os impactos da redução da atividade econômica.
É hora de temperança, equilíbrio, foco e compromisso com o Brasil e a vida dos brasileiros.
Não é hora de fomentar narrativas irresponsáveis que dividem o país e enfraquecem a luta em defesa da saúde pública e dos interesses do país.
Henrique Fontana é deputado federal (PT-RS).
Artigo publicado originalmente no site VIOMUNDO