Máquina de destruição
(*) Zeca Dirceu
Passados quarenta dias da posse do presidente Lula, já é possível fazer uma radiografia completa do legado do governo militarista anterior. Foi um desastre descomunal, com a implantação de uma máquina de destruição do país em todos os setores, atingindo frontalmente políticas sociais, saúde, educação, meio ambiente, proteção aos povos indígenas, geração de emprego e renda.
O desmantelamento de instituições de Estado ocorreu junto com a política genocida que provocou a morte de quase 700 mil pessoas durante a pandemia de Covid-19 por falta de vacinas e descaso com a proteção do povo brasileiro.
O desafio do governo Lula e da frente democrática que o apoia é reconstruir o país depois do rolo compressor de um ex-capitão que disse um dia que sua especialidade era a morte.
De 2019 a 2022, os números revelam absurdos ataques a conquistas civilizatórias de décadas. Na educação, por exemplo, nos últimos três anos o número de crianças que não conseguem ler ou interpretar textos cresceu de 50% para 70%, o pior resultado em dez anos. Na área de cultura, o orçamento foi reduzido em 85% e o número de servidores da área cortado em 66%.
Na saúde, um quadro dantesco: Com 2,7% da população mundial, o Brasil registrou 11% do total de óbitos por Covid-19 no mundo, o 2º lugar do ranking mundial de vítimas. Perderam-se 3 milhões de doses de vacina contra a Covid-19, por incompetência de Bolsonaro, e 34 milhões de pessoas não receberam nenhuma dose do imunizante.
Outros dados são horripilantes. A violência contra a mulher, por exemplo, bateu recorde no ano passado, havendo 700 casos de feminicídio em apenas seis meses. Mais da metade da população brasileira – 58,7%, cerca de 125,2 milhões de pessoas – vive com algum tipo de insegurança alimentar. Desse universo, 33 milhões passam fome. A hospitalização de crianças por carência alimentar aumentou em 11%. Inadmissível essa situação num país que é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo.
Na área de meio ambiente, o Brasil virou o grande vilão mundial. O índice de desmatamento na Amazônia aumentou 59% entre 2019 e 2022. Recordes de incêndios foram registrados, com destruição de florestas, da biodiversidade, com milhares de espécies vegetais e animais dizimados. Os povos indígenas sofreram ataques inomináveis, com o escárnio com que o ex-capitão os tratava. A tragédia Yanomami, que horrorizou o planeta, é o exemplo mais sinistro de prática de um governo cruel e genocida.
A incompetência generalizada chegou à área de infraestrutura. Da malha rodoviária federal, 93,66% foram deixadas sem contratos de serviços de prevenção e restauração, sendo servidas apenas por tapa-buracos. O governo federal zerou as contratações para a construção de moradias para famílias com renda até R$ 1.800,00. O programa de cisternas foi destruído, igual ao de aquisição de alimentos. Uma catástrofe.
O povo precisa se conscientizar de que diante da terra arrasada deixada por Bolsonaro o esforço do atual governo será hercúleo. O desafio agora é criar condições para a implementação dos projetos que impulsionarão o desenvolvimento econômico e social do país.
Reposicionar o Brasil na trilha do crescimento com reindustrialização, em modelo baseado na transição digital e no desenvolvimento sustentável com respeito ao meio ambiente, que combata as desigualdades sociais e seja verdadeiramente justo, soberano, democrático.
É um momento de união de todos para tirar o Brasil do desastroso quadro econômico e social deixado por Bolsonaro. O povo brasileiro precisa voltar a ter esperança, acreditar no futuro e ser feliz de novo.
(*) Deputado federal pelo Paraná e líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados
Artigo publicado originalmente na Revista Focus (FPA)