A maior evidência, até agora, de que o governo Bolsonaro teme as revelações que podem sair da CPI da Covid é a fuga do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, do depoimento presencial perante a Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no Senado.
Nesta terça-feira (4), Pazuello solicitou que prestasse esclarecimentos de forma remota. A desculpa: teria tido contato com assessores infectados com o novo coronavírus. A estratégia não deu muito certo. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que, se fosse esse o caso, esperaria o general se certificar de que não representaria risco aos membros da comissão. “Se o general Pazuello se sente preocupado, e nós também estamos preocupados de que ele venha para cá com coronavírus, não tem problema. A gente espera”, afirmou Aziz. A audiência foi remarcada, então, para 19 de maio.
Segundo apuração da colunista Malu Gaspar, de O Globo, o comunicado de Pazuello é uma desculpa inventada para fugir da CPI. “O ex-ministro da Saúde já planejava não comparecer à CPI da Covid desde o final de semana, quando participou de um media training para se preparar para o depoimento. De acordo com pessoas que estiveram com ele, Pazuello estava muito tenso e preocupado com a possibilidade de ser preso logo após depor. ‘Ele tremia’, contou uma testemunha do treinamento”, informa a jornalista.
Ainda segundo ela, devido à resistência de Pazuello a depor, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, propôs que ele alegasse preocupação com os protocolos de distanciamento. A sugestão, porém, foi descartada, uma vez que o general foi flagrado recentemente andando sem máscara por um shopping de Manaus. “O ministro, afinal, encontrou outra justificativa para enviar à CPI: a de que teve contato com coronéis contaminados no final de semana e precisaria ficar em quarentena”, escreve a jornalista.
A fuga de Pazuello se transformou em mais um capítulo vexaminoso de um governo desesperado por encobrir seus crimes durante a pandemia. Logo após a divulgação do pretexto dado pelo general, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, apontou o quanto a desculpa era fraca: “Quer dizer que Pazuello pode não ir à CPI da Pandemia amanhã por suspeita de covid? E ele acredita em covid? Não estava desfilando sem máscara no shopping? Vamos providenciar o teste para ele. Se der positivo, faz interrogatório virtual. Se der negativo, ele comparece amanhã!”, sugeriu pelo Twitter Gleisi, que foi acompanhada nas críticas por outros integrantes da bancada do PT na Câmara.
Quer dizer que Pazuello pode não ir à CPI da Pandemia amanhã por suspeita de covid? E ele acredita em covid? Não estava desfilando sem máscara no shopping? Vamos providenciar o teste para ele. Se der positivo, faz interrogatório virtual. Se der negativo, ele comparece amanhã!
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) May 4, 2021
É pra ter medo mesmo
Pazuello tem mesmo motivos para tremer de medo. Após Jair Bolsonaro — cuja omissão foi confirmada por seu ex-ministro Luiz Henrique Mandetta na CPI —, o general pode ser apontado como o principal responsável pela gestão criminosa da pandemia que já levou mais de 408 mil brasileiros à morte. Tanto que saiu do governo investigado pela Polícia Federal devido a uma de suas omissões mais claras: a de inação diante da falta de oxigênio para pacientes em Manaus.
Como ressaltou o senador Rogério Carvalho na sessão desta terça-feira, a gestão federal da pandemia não foi um erro sem intenção: “Uma tese prevaleceu desde o início da pandemia. A tese de que era preciso deixar as pessoas expostas para adquirir naturalmente imunidade e resolver, rapidamente, o problema econômico. E isso foi feito de forma intencional”.
PTNacional