O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (18) na plenária do último dia da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 15) que o Brasil está disposto a oferecer dinheiro para um fundo internacional de financiamento de medidas de adaptação e redução de emissões nos países pobres. “Se for necessário o Brasil fazer um sacrifício a mais estamos dispostos a participar do financiamento”, disse.
Lula abriu seu discurso, antes do presidente americano Barack Obama também discursar e afirmar que o mundo precisa imediatamente de um acordo, mesmo que ele não seja perfeito.
Dizendo querer chegar a um consenso, Lula afirmou que compreende que os países ricos não “serão os salvadores dos países em desenvolvimento” e que o aquecimento global pode atrapalhar o desenvolvimento do Brasil . “Passamos um século sem crescer enquanto outros cresciam muito. Agora que nós começamos a crescer, não é justo que voltemos a fazer sacrifício”
O presidente brasileiro foi enfático ao afirmar que estava frustrado com os resultados obtidos até agora. O tom de crítica dominou a fala de Lula. “Confesso que estou um pouco frustrado porque discutimos a questão do clima e cada vez mais constatamos que o problema é mais grave do que nós possamos imaginar”.
MUDANÇAS – Após participar de uma reunião extraordinária durante a madrugada desta sexta-feira com líderes de Estado para tentar chegar a um esboço do acordo, Lula se disse surpreso e que há muito tempo não participava de uma reunião como essa. “Submeter chefes de Estado a determinadas discussões como nos fizemos ontem, há muito tempo não assistia”
Lula lembrou que os compromissos de combate às mudanças climáticas devem ser compartilhados por todos os países, mas o passado de emissões de gases causadores do efeito estufa dos países industrializados não pode ser esquecido.
Segundo Lula, o problema para que os países cheguem ao acordo não é apenas o dinheiro, mas a disposição política. O presidente afirmou que os países estão “barganhando” na conferência da ONU.
“Quando pensarmos no dinheiro, não pensemos que estamos fazendo um favor, que estamos dando uma esmola. Porque o dinheiro que vai ser colocado na mesa é o pagamento das emisssões de gases de feito estufa de dois séculos de quem teve o privilegio de se industrializar primeiro”, disse.
De acordo com o presidente, o Brasil foi ousado em estabelecer metas voluntárias. “Pensando em contribuir para a discussão nessa conferência, o Brasil teve uma posição muito ousada”, disse. “Apresentamos nossas metas até 2020, assumimos um compromisso e aprovamos no Congresso nacional transformando em lei até 2020 que o Brasil reduzirá as emissões de gases do efeito estufa de 36,1% a 38,9%.
“Foi necessário para mostrar ao mundo que com meias palavras e barganhas agente não encontraria uma solução”
Dirigindo-se ao presidente da COP 15, Lars Lokke Rasmussen, e ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, Lula afirmou: “adoraria sair com o documento mais perfeito do mundo. Mas se não conseguimos fazer até agora esse documento, não sei se algum sábio ou anjo descerá nesse plenário e conseguirá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora”, disse o presidente.
Lula defendeu que seja redigido um documento que leve em consideração a soberania dos países. Os países em desenvolvimento são contrários ao monitoramento externo de políticas de mitigação por parte dos países desenvolvidos.
Obama
Após o discurso de Lula, o presidente americano Barack Obama abriu seu discurso dizendo: “o tempo de falar acabou. A questão é se vamos seguir em frente juntos ou nos dividirmos”, afirmou. “Esse não é o acordo perfeito e nenhum país vai conseguir tudo o que quer. “Vamos continuar discutindo os mesmos argumentos mês após mês, ano após anos… enquanto o perigo da mudança climática cresce de forma irreversível”.
Obama defendeu a criação de mecanismos para o acompanhamento da mitigação das emissões nos países em desenvolvimento, proposta que não agrada a países como o Brasil, Índia e China.
Para Obama, não “faz sentido” financiar projetos sem transparência. “Não sei como terão um acordo internacional se não compartilhamos informação”, disse.
DAS AGÊNCIAS