Deputados da bancada petista dimensionaram, nesta terça-feira (20), a gravidade da interrupção do programa Mais Médicos que deixará quase 30 milhões de brasileiros sem atendimento. A suspenção ocorreu depois que o presidente recém-eleito, Jair Bolsonaro, anunciou exigências que extrapolavam o acordo de cooperação firmado com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Cuba. Como consequência à decisão de Bolsonaro, o governo cubano decidiu retirar seus médicos do Brasil.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS), que também é médico comunitário, lembrou que, antes do programa, havia um problema crônico de falta de médicos em regiões distantes dos grandes centros e, também, em periferias de grandes cidades. E que, para solucionar a questão, a presidenta Dilma Rousseff lançou o Mais Médicos, dando aos profissionais brasileiros a prioridade de escolher as vagas oferecidas. Somente as vagas remanescentes eram oferecidas a estrangeiros, incluindo cubanos.
“Mas, à época, como agiu a oposição que hoje está eleita para assumir o governo do País? Tratou de fazer desse debate um debate ideológico, atacando os médicos cubanos, disseminando preconceito, dizendo que eles eram despreparados, que a população iria ser mal atendida. Bolsonaro dizia, inclusive, que esses médicos vinham para cá para roubar o dinheiro brasileiro, para espionar dentro do Brasil. Disse uma série de absurdos”, recordou Fontana.
Com a saída de Cuba do programa, o deputado questionou o que será feito para suprir a demanda por atendimento no Brasil. “Como vão repor esses médicos? Porque aqui não estamos tratando de ideologia, de esquerda ou de direita. Estamos dizendo que milhões de brasileiros vão ficar sem atendimento médico por essa agressão gratuita, desnecessária e irresponsável que o presidente eleito cometeu ao longo da campanha e ao longo do período de implementação do programa”, argumentou.
O deputado paraense Zé Geraldo (PT) – eleito por um dos estados que tinha mais dificuldade de fixar médicos em localidades distantes e de difícil acesso – também criticou a inabilidade e a irresponsabilidade política de Bolsonaro. “Não adianta dizer que vão substituir os cubanos, porque [os novos médicos] poderão ir aos lugares mais fáceis, mas eu quero ver se eles irão lá para o interior de São Félix do Xingu. Quando se chega à cidade, ainda se andam uns 200 quilômetros para chegar a um distrito que tem um médico cubano, aplaudido pela população”, detalhou.
O parlamentar reforçou que a falta de médicos será agravada por outros programas de saúde que foram interrompidos após o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, citando a falta de funcionamento de muitas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “Elas estão praticamente paradas. Depois que tiraram a Dilma, são centenas e centenas de UBSs sem funcionar em todo o Brasil. Muitas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) também estão fechadas, porque nem o governo federal nem o governo dos estados liberam dinheiro para seu aparelhamento, e os municípios naturalmente não têm dinheiro”, denunciou.
Ao falar sobre a desarticulação do Mais Médicos, o deputado João Daniel (PT-SE) fez um agradecimento aos médicos e médicas cubanas, pelos serviços de valor humanitário prestados no Brasil, e se solidarizou com os brasileiros que ficaram sem atendimento, ao citar diretamente populações indígenas. “Mais de 300 médicos estão deixando as aldeias. É lamentável e triste o que um governo que se elegeu e ainda não tomou posse faz, em especial, contra os pobres, contra os trabalhadores, contra as comunidades rurais, quilombolas e indígenas”, lamentou.
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) disse ser “inaceitável” o que o futuro governo Bolsonaro está fazendo com a população de centenas e centenas de municípios. “O novo governo brasileiro não quer cuidar de pessoas, não quer saber dos pequenos municípios. Essa é uma situação em pleno dia 20, quando se homenageia Zumbi. A população mais pobre deste País é a população negra, e é ela quem vai sofrer nos municípios sem médico, sem apoio da saúde. Ao mesmo tempo, os prefeitos não têm condições de pagar os médicos brasileiros para atender onde quer que seja, no interior”, avaliou.
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