Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) apontou que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os sindicatos brasileiros se transformaram no único exemplo de vitória no campo laboral da América Latina em um cenário de desindustrialização e perda de direitos. “Talvez tenha sido o único exemplo de resistência vitoriosa da classe trabalhadora a escala global”, cita o relatório ‘O protesto social na América Latina’, que faz uma análise das desigualdades e das lutas sociais no subcontinente.
“A CUT e os sindicatos setoriais resistiram e fortaleceram sua ação coletiva, combinando greves e protestos com negociações. A unidade e a autonomia dos sindicatos e sua crescente vinculação com a política nacional, através do Partido dos Trabalhadores, alcançaram um novo status de autonomia em um país onde a crise não provocou fortes processos de desindustrialização”, diz o texto do Pnud, que pertence à Organização das Nações Unidas (ONU).
Para o deputado Marco Maia (PT-RS), que militou durante 15 anos no movimento sindical dos metalúrgicos, o estudo comprova o acerto da política de organização sindical da CUT, que se refletiu também na vitória eleitoral do presidente Lula e, depois, da presidenta Dilma. “Os trabalhadores brasileiros souberam resistir à ofensiva neoliberal sobre os direitos trabalhistas dos anos 1990 utilizando como instrumento a CUT e voltaram a obter avanços com a retomada do crescimento econômico e social ao comandarem o País. É um orgulho muito grande ter vivido e participado desse processo”, declarou Marco Maia, que presidiu a Câmara dos Deputados entre 2010 e 2012.
Opinião semelhante tem o deputado Amauri Teixeira (PT-BA), que ajudou a fundar a CUT na Bahia. “O processo neoliberal de privatizações e desindustrialização foi menos agudo no Brasil do que em outros países da América Latina e isso se deu também por conta da CUT. O sindicalismo europeu foi desarmado e o americano nunca foi exatamente classista, mas aqui continuamos avançando nas conquistas dos trabalhadores e isso se deve ao papel que a CUT desempenha”, avalia o parlamentar baiano.
O relatório, divulgado na terça-feira (16) em Nova York, analisou 54 jornais de 17 países latino-americanos entre outubro de 2009 e setembro de 2010, para avaliar e registrar a ocorrência dos conflitos sociais, retratados no estudo como mobilizações de grupos sociais para reivindicar direitos. Na visão do Pnud, a desigualdade continua sendo a principal causadora destes episódios, que ocorrem com frequência única na América Latina se comparada a qualquer outra área do planeta.
Ao analisar a questão trabalhista, o estudo do Pnud traça um retrospecto desde a década de 1980 até o momento atual, de economias afetadas pela crise global. Na visão do programa das Nações Unidas, houve um primeiro momento comum, na redemocratização do pós-ditaduras, em que as entidades de representação dos trabalhadores passaram por instabilidades. Na década de 1990, com o avanço de políticas neoliberais, foi necessário que os sindicatos passassem a uma atuação defensiva na qual simplesmente se podia evitar a perda de direitos.
Além da luta dos trabalhadores, o estudo destaca que, no período analisado, também houve conflitos para melhorar a qualidade de vida urbana e a descentralização do poder e os conflitos por terra, nos quais os campesinos brasileiros, “apesar de terem lutado de modo intenso por terra não tiveram o êxito nem o posicionamento estratégico no sistema político que os trabalhadores alcançaram”.
Rogério Tomaz Jr. com Rede Brasil Atual