A Funai, em parceria com o Museu do Índio e a Unesco no Brasil, está desenvolvendo uma ação cujo objetivo é formar pesquisadores indígenas e não indígenas e criar arquivos digitais e centros de documentação em aldeias e museus, a fim de preservar a cultura e manter os idiomas indígenas vivos. Nesta segunda-feira (21), os kits do Programa de Documentação de Língua e Culturas Indígenas foram distribuídos em diversas aldeias.
O material estará disponível para comunidades e escolas indígenas, como fonte de pesquisa e aprendizagem. O trabalho de registro e salvaguarda do patrimônio cultural indígena durou sete anos e envolveu 30 mil indígenas de 35 etnias e 14 estados. Trabalharam no projeto 200 pesquisadores, que fizeram 331 oficinas e produziram 70 mil fotografias digitais, 1,6 mil horas de filmagem e 425 horas de gravações em áudio. O produto final rendeu 32 filmes, 42 publicações, 14 dossiês linguísticos, 30 galerias virtuais e 25 exposições temporárias.
De acordo com a coordenadora do projeto, professora de linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Bruna Franchetto, ainda são faladas no Brasil cerca de 160 línguas indígenas, mas 20% “estão agonizando”, já que não são mais passadas de uma geração para outra.
“Estamos fazendo um enorme trabalho, com se diz no Brasil, de enxugar gelo; continuamos num certo desespero para tentar salvar essas línguas e mantê-las vivas. As línguas são veículos de culturas, de conhecimentos riquíssimos. Então, nós temos essa responsabilidade enorme, que pesa nos ombros, para manter esse patrimônio, que é patrimônio do país e da humanidade”.
Para o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o trabalho mostra a força da cultura indígena como parte integrante do Brasil: “Isso desconstrói um pouco uma hierarquia cultural que o Brasil construiu, onde coloca os índios numa invisibilidade ou numa secundariedade. Então, chamar a atenção, dar visibilidade, mostrar a importância, como a sociedade brasileira ganha quando incorpora de forma generosa os índios, eu acho que é muito importante, principalmente nesse momento que nós estamos vivendo”, diz o ministro, referindo-se aos conflitos fundiários no Mato Grosso do Sul.
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, ressalta que as línguas indígenas são um patrimônio da humanidade e precisam ser preservadas, em uma luta pelos direitos humanos e pela diversidade: “Neste mundo de globalização e conectividade, estamos cometendo um crime se não nos esforçamos para proteger a diversidade cultural da humanidade criada com a engenhosidade de muitas mulheres e homens”.
Líder da nação kayapó, Akiaboro Kayapó, de Moikaraku, no Pará, considera o projeto importante: “São os próprios índios que estão fazendo [a pesquisa], para nós preservarmos nossa tradição, a língua, essas coisas todas. Um pouco [do material] vai ficar guardado aqui e um pouco vai para as aldeias, para os jovens aprenderem a dança, a língua, como escrever”.
O presidente da Funai, João Pedro Gonçalves da Costa, diz que a ideia é continuar com o trabalho, já que ainda não foram registradas todas as línguas indígenas do país. “Nós consideramos um trabalho estratégico, no sentido de garantir a língua, mas também de reproduzir textos, livros, cartilhas, retratando culturas importantes dos povos indígenas do Brasil. O trabalho precisa ser feito com outros povos, afinal nós temos 305 povos indígenas no Brasil e conseguimos envolver 135 povos ao longo desses sete anos de trabalho, mas nós precisamos avançar”, disse João Pedro.
Do Portal Vermelho, com Agência Brasil