Ernesto Araújo é evasivo, não responde a perguntas e é criticado pelo autoritarismo do governo

A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados (CCULT) recebeu nesta quarta-feira (27) o ministro das Relações Exteriores, Embaixador Ernesto Araújo, para tratar da política de divulgação da cultura brasileira no exterior e do papel do Instituto Guimarães Rosa. A reunião no colegiado foi comandada pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ), presidenta do colegiado.

Durante o debate, o ministro Ernesto Araújo explicou as ações que atualmente estão sendo executadas pelos setores culturais das Embaixadas e Consulados do Brasil no exterior. Ele ainda explicou que o Instituto Guimarães Rosa será criado nos próximos dias, via decreto, com o objetivo de criar uma marca que represente a cultura brasileira no exterior. Porém, ele reconheceu que existe escassez de recursos para ampliar ações culturais brasileiras no exterior.

Logo após a explanação do ministro, a deputada Benedita da Silva perguntou quais ações específicas (programas e incentivos) o ministério tem adotado para promover a música e produções audiovisuais brasileiras no exterior. Em uma reposta genérica, Ernesto Araújo disse apenas que “a música e a produção audiovisual brasileira é prioridade do ministério, e será destaque da agenda do Instituto Guimarães Rosa”, que sequer foi criado.

O ministro também respondeu perguntas que não tratavam especificamente sobre a cultura. Ernesto Araújo, por exemplo, negou que houve invasão à embaixada da Venezuela, ocorrida há poucas semanas durante a conferência dos BRICS, em Brasília. Segundo ele, o que houve foi uma autorização de funcionários da embaixada para que entrassem no prédio apoiadores do autoproclamado presidente venezuelano, Juan Guaidó.

Invasão

Em resposta ao ministro das Relações Exteriores, a deputada Erika Kokay (PT-DF) lembrou que o próprio presidente Jair Bolsonaro reconheceu que houve uma invasão à embaixada. A parlamentar petista criticou ainda o ministro por defender uma série de palestras realizadas no exterior com apoio do ministério que, segundo o ministro, “corrigiam distorções sobre o período entre 1964-1985”, quando houve a ditadura militar.

“O senhor acha distorções da história a ditadura militar? Assim se relativiza a tortura que houve naquele período, e a ameaça que hoje sofre a democracia brasileira com a defesa do AI-5, feita pelo presidente Bolsonaro, seu filho e recentemente pelo ministro Paulo Guedes”, disse a petista.

Já a deputada Maria do Rosário (PT-RS) destacou que o atual governo, por meio da sua diplomacia, tem ferido todas os princípios que o art. 4º da Constituição aponta que devem ser seguidos pelas nossas relações exteriores. Dentre eles, citou os princípios da independência nacional e a autodeterminação dos povos.

“O que estamos vendo é uma submissão aos interesses dos Estados Unidos, principalmente ao governo Trump, que é questionado pelo próprio povo norte-americano. E o governo de Vossa Excelência tem atacado povos e governos, violando o princípio da não intervenção, estimulando conflitos por exemplo entre árabes e judeus, no caso da embaixada em Jerusalém, e o apoio ao golpe na Bolívia”, ressaltou.

Por sua vez, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), disse que ao ouvir o ministro fica em dúvida se Ernesto Araújo “é um diplomata ou ocupa o cargo para fazer guerra ideológica”. Como exemplo, ele leu postagens realizadas pelo ministro no Twitter criticando a eleição de Alberto Fernandéz e Cristina Kirchner na Argentina, e parabenizando a autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, que segundo Ernesto Araújo “assumiu constitucionalmente o governo”.

O parlamentar ainda criticou as opiniões do ministro sobre as questões climáticas. Paulo Teixeira leu, por exemplo, postagem de Ernesto Araújo no Twitter na qual afirmou que “o aquecimento global é uma conspiração marxista”.

“Então quer dizer que é uma conspiração marxista que os ursos polares não tenham mais seus habitats? Assim com a elevação do nível dos mares, ou aumento dos extremos climáticos, com mais enchentes e períodos de seca? Isso é conspiração marxista? Barão do Rio Branco deve revirar no túmulo vendo no que se transformou a diplomacia brasileira”, lamentou Teixeira.

Em resposta ao deputado, o ministro das Relações Exteriores disse que existem artigos científicos que questionam o aquecimento global, porém não especificou quais estudos seriam esses.

 

Heber Carvalho

Atualizada às 15h50

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