Erika Kokay exige identificação dos mandantes do assassinato de Marielle durante homenagem na Câmara 

A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirmou durante sessão solene em homenagem a Marielle Franco e Anderson Gomes, realizada nesta segunda-feira (18) na Câmara, que “a sociedade e a democracia” exigem resposta sobre os mandantes da morte da ex-vereadora carioca. Vestindo uma camiseta e segurando uma placa com os dizeres: “Quem Mandou Matar Marielle?”, a petista destacou ainda que apesar de os nomes dos mandantes não serem conhecidos é possível apontar os setores de onde eles saíram. “Sabemos que os mandantes vieram do fascismo e do bolsonarismo, dos que acham que podem anular as divergências e a diversidade neste País”, acusou.

Ainda de acordo com a parlamentar, o assassinato de Marielle foi “um crime político construído com os fios do ódio”, que superou até mesmo as atrocidades realizadas durante a ditadura militar. “A ditadura torturava e matava nos porões escuros, mas buscava criar enredos. Ela ousou dizer que [Vladimir] Herzog faleceu por conta de um suicídio. No extermínio de Marielle não teve enredo. Ela foi assassinada no centro do Rio de Janeiro, junto com Anderson, com características de execução, indicando como o fascismo está ousado e como o absurdo perdeu a modéstia neste país”, observou.

Presentes à sessão solene, o pai de Marielle Franco – Antônio Francisco da Silva Neto – e a viúva do motorista Anderson Gomes – Agatha Reis – também cobraram explicações sobre os mandantes do assassinato. “Demos apenas o primeiro passo com a prisão dos assassinos de Marielle e do Anderson, mas falta saber quem mandou e porque mandou matar. Não podemos relaxar, para que outros defensores dos direitos humanos não tenham suas vidas ceifadas”, apelou Antônio Neto.

Já a viúva de Anderson Gomes disse que o assassinato do esposo deixou “um vazio irreparável” para ela e o filho do casal. Ao exigir também a identificação dos mandantes, Agatha Reis destacou ainda que a solução total do crime é parte da luta pelo direito à vida e contra a impunidade no País.

“Tiraram do meu filho a oportunidade de conviver com o pai. A morte do Anderson deixou um vazio irreparável. Os dois [Marielle e Anderson] são exemplos do que ocorre todos os dias neste País com trabalhadores mortos pela violência cotidiana e banal. Anderson e Marielle são os desencadeadores da luta pela vida, e a resolução do crime não se trata de privilégio fúnebre, mas o estopim, o início de um momento de combate à impunidade, a corrupção de grupo paramilitares, e em favor da vida, seja ela de quem for”, ressaltou Agatha.

Para a subprocuradora-geral da República Débora Duprat – Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão da Procuradoria Geral da República (PGR) – a revelação de quem mantou matar Marielle e Anderson Gomes obedece aos imperativos moral, ético, democrático e da memória.

“O imperativo moral e ético: todos os familiares e amigos devem ter direito ao luto, e o luto requer uma dose de compreensão das causas da morte. O imperativo democrático versa sobre o que representava o mandato de Marielle. Mandato esse que veiculava muitas vozes: de classe, de gênero, de orientação sexual, de raça e de território. E o imperativo de memória, que nos faz permanentemente vigilantes na busca da verdade, verdade que nos faça compreender um pouco o que vivemos nos dias atuais. E pelo exercício da memória permanente de presença, Marielle e Anderson Presentes”, frisou.

Minorias

Ao também cobrarem das autoridades públicas a identificação e punição dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, representantes de organizações da sociedade civil também destacaram a contribuição da luta de Marielle em defesa das minorias.

Para Sílvia Souza, da ONG Conectas Direitos Humanos, a morte de Marielle foi uma tentativa de ameaçar o empoderamento das mulheres negras e a luta dos defensores dos direitos humanos no País. “A vida de Marielle representa a vida de muitas de nós, mulheres negras e da periferia, que não aceitam essa lógica segregacionista do sistema, que nos nega o acesso às posições de poder. Marielle subverteu essa lógica, e foi alvo da máquina que age por trás do Estado. A morte dela também foi um atentado contra os defensores dos direitos humanos, e das pessoas que tem como missão defender a justiça e igualdade para todos”, ressaltou.

Já Valéria Payer, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), disse que a morte de Marielle, ao contrário de barrar o avanço das minorias, vai ter o efeito de multiplicá-lo.

“Nós, povos indígenas, não enterramos nossas lideranças. Quando elas tombam, dizemos que plantamos uma semente que vai gerar frutos. O mesmo podemos dizer sobre Marielle. Ela já está gerando deputadas aqui [na Câmara]: negras, indígenas e mulheres guerreiras que vão levar à frente as pautas que ela colocou”, afirmou.

Héber Carvalho

 

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