Erika Kokay: Ciro Nogueira, não haverá dia seguinte com Bolsonaro no Planalto

Deputada Erika Kokay. Foto: Gabriel Paiva

O negacionismo no governo Bolsonaro é algo estruturante. Não se nega apenas a ciência, dados e fatos. Nega-se por completo a realidade e cria-se narrativas falsas para construir uma realidade paralela. É com os fios do negacionismo e da mentira que Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, tece seu artigo intitulado “Na eleição, olhe para cima: pense no dia seguinte”, publicado no último domingo, no Jornal O Globo.

O artigo é intelectualmente desonesto do início ao fim. Não tem uma vírgula que guarde qualquer relação com a realidade brasileira atual e com o governo do qual Ciro é ministro e figura-chave. Diria que trata-se de um delírio negacionista em estado puro.

A única verdade expressa no texto é o medo de Luíz Inácio Lula da Silva voltar ao Palácio do Planalto para devolver o Brasil ao povo brasileiro.

Ciro inicia sua sofrível narrativa tendo a ousadia de falar em economia, mesmo com o cenário de terra arrasada que o Brasil se encontra por obra de Paulo Guedes e do próprio Bolsonaro.

Como não tem nenhuma condição de desconstruir o sucesso econômico dos governos de Lula, o ministro menciona o apoio do partido aos governos de esquerda da América Latina para fazer terrorismo e pregar o medo em parcelas da população que ainda caem nesse tipo de discurso falacioso.

Se Ciro não tem coragem de comparar os governos do PT com o de Bolsonaro, porque, obviamente, seus argumentos são frágeis e não ficam de pé a uma simples googlada, nós não temos medo de comparações. Com o PT, o Brasil chegou a ser a 6ª economia do mundo. Com Guedes e Bolsonaro, o Brasil saiu do ranking das 10 maiores economias do planeta e atualmente ocupa a 12ª colocação.

O ministro fala em “economia global cada vez mais competitiva” para dar um certo ar de modernidade às suas ideias, ataca a CLT e diz que a primeira proteção aos trabalhadores é criar empregos, algo que o governo Bolsonaro não fez e não vai fazer.

A reforma trabalhista, defendida pelo atual governo e que prometeu gerar mais de 6 milhões de empregos, precarizou relações de trabalho, arrancou direitos, roubou o poder de compra dos trabalhadores e tem como legado mais de 14 milhões de desempregados, um número recorde de informais e outros tantos milhões de desalentados. E o PT? Ah, o PT gerou mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada e não retirou direitos.

Ainda na esteira de tentar consolidar a ideia de que o povo brasileiro deve temer um futuro governo de Lula e do PT, Ciro diz que o partido está marcado pelo ódio da rejeição. Chega a afirmar de forma totalmente cínica que “o ódio parece ter vencido a esperança”.

São inegáveis as inúmeras injustiças cometidas contra Lula e o PT nos últimos anos, todas elas já registradas na história. Um golpe sem crime de responsabilidade, a perseguição jurídica e midiática implacável que culminou em uma prisão política injusta e numa eleição fraudada em 2018.

Não há uma única expressão de ódio em Lula, apesar dos 580 dias que Lula passou encarcerado injustamente. Felizmente, a verdade prevaleceu e apesar de todas as agruras que ele sofreu pessoalmente e o PT politicamente, Lula tem dito em alto e bom som que maior é o sofrimento do povo brasileiro nesse exato momento. E é isso que nos motiva a derrotar Bolsonaro e seu governo fascista.

Aliás, ninguém no Brasil atual destila mais ódio do que Jair Bolsonaro, o presidente que transformou o ódio e a mentira em metodologia política. Ciro Nogueira nega mais uma vez a realidade, as pesquisas e o sentimento do povo brasileiro ao falar em rejeição de Lula e do PT. Esconde que Bolsonaro, este, sim, é o mais rejeitado em todas as pesquisas eleitorais. O fato é que Lula lidera em todos os cenários de primeiro e segundo turno e o PT é simplesmente o partido que o povo brasileiro mais se identifica. Apesar da torcida em contrário, a esperança vai, sim, vencer o ódio e a mentira!

A mentira, por sinal, é elemento fundante do projeto de poder bolsonarista. Sem ela, o governo não sobrevive um dia sequer. E é com ela que Ciro afirma ser obra do governo Bolsonaro o “maior programa assistencial da história do país”.

Ora, todos nós sabemos que Bolsonaro e Guedes sempre defenderam um auxílio emergencial de R$ 200 e a oposição no Congresso Nacional foi quem arrancou os R$ 600. O tal Auxílio Brasil, tão aclamado pelo ministro, destruiu o Bolsa Família e acabou com o Auxílio Emergencial, num momento em que a pandemia ainda está forte no Brasil, deixando mais de 24 milhões de brasileiros e brasileiras sem nenhuma renda.

Ciro enaltece a “menor taxa de juros da história recente do país”, mas malandramente esconde que a retomada agressiva da taxa básica de juros em 2021 é a maior de duas décadas. Ressalta que o governo de Jair Bolsonaro criou o PIX, sendo que o PIX é fruto do trabalho de servidores e servidoras comprometidos com o desenvolvimento nacional, os quais são diuturnamente atacados pelo governo Bolsonaro, classificados como “parasitas” e vistos como “inimigos” da Nação. O maior atentado aos servidores e servidoras e ao Estado social preconizado pela Constituição de 1988 é exatamente a proposta de Reforma Administrativa, materializada na Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32).

Na inglória tarefa de dissimular o que é o governo Bolsonaro, Ciro busca associar o PT com governos e práticas antidemocráticas, quando o mundo inteiro sabe que a maior ameaça à democracia brasileira é o presidente Bolsonaro, o qual todos os dias promove fake news, ataca jornalistas e a imprensa, exalta a ditadura e a tortura, atenta contra outros poderes da República, a exemplo, do Supremo Tribunal Federal. Desde seu primeiro dia de governo, Bolsonaro testa o poder das instituições e o Estado Democrático de Direito.

O ministro da Casa Civil vende como ativo relevante, numa aguda manifestação de cinismo, “o forte apoio que Bolsonaro teria no Congresso Nacional”. Até as pedras sabem que Bolsonaro se livrou do impeachment e se sustenta no poder a partir do uso antidemocrático e inescrupuloso de um orçamento secreto bilionário, que tem o próprio Ciro Nogueira como grande coordenador e artífice.

O que Ciro classifica como “pauta-bomba econômica” de Lula e do PT é, na verdade, livrar o Brasil das mãos do mercado financeiro especulativo e recolocar o povo brasileiro no orçamento. A “pauta-bomba” do PT é combater a fome, a miséria, o desemprego e a inflação.

O cometa que Ciro tanto teme já atingiu o Brasil. Como ele e o governo negam a realidade, não conseguem enxergar que o país já está no abismo e a hora é de reconstruir a Nação depois de todos os estragos causados pela catástrofe bolsonarista. A esperança do dia seguinte é arrancar Jair Bolsonaro e sua política de morte da presidência da República!

 *Erika Kokay é deputada federal pelo PT-DF

Artigo publicado originalmente na Carta Capital

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