A política econômica do governo se tornou espectadora da atual situação do país. Os preços dos alimentos estão impraticáveis, o salário mínimo não consegue alcançar as sucessivas altas da cesta básica. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a inflação dos últimos 12 meses (IPC) registrou índice de 10,5%.
Mas os mais pobres sentiram muito mais no bolso, itens como o pão francês subiu 12%; ovos 18,6%; carne bovina 33,8%; óleo de soja 35,7%; frango 49,9% e açúcar 54,2%. A moradia seguiu a mesma dinâmica, acumulando 37,04% de inflação em 12 meses, a maior alta em 26 anos.
Com desemprego, renda menor, o Brasil hoje está com 20 milhões passando fome. As políticas governamentais que poderiam reduzir esse quadro desolador como aquisição de alimentos (PAA) e de armazenamento de grãos, por meio do Conab, para regular preço interno foram abandonadas ou mesmo cortadas pelo atual governo. Outro exemplo disso, é que Bolsonaro também extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), que monitorava e formulava medidas de controle sobre a alimentação no país.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, manteve a linha de que o Estado não deve intervir no mercado e acha que a população não pode “chorar” com inflação que castiga os brasileiros. Não vimos o mesmo tipo de tratamento quando se fala de iniciativa privada, incentivos às grandes empresas e para seus investimentos em paraísos fiscais.
A falta de planejamento e má gestão das hidrelétricas e recursos hídricos também resultaram em energia mais cara. A dolarização eleva o preço dos combustíveis a cada semana gerando um aumento em cadeia em toda nossa produção. De setembro de 2020 a agosto de 2021, o botijão de gás subiu 31,58% e a energia elétrica é de 20,40%.
Afinal, a quem interessa manter uma política que não age na alta do dólar?
Mesmo como todos esses problemas, a equipe econômica não dá qualquer previsão de plano ou ações para recuperar os números negativos do país.
A inflação continua sendo um instrumento de concentração de riqueza. Tira do trabalhador, que só tem a sua força de trabalho para sobreviver, e transfere a riqueza para a mão dos que têm as mercadorias, leia-se, desde o arroz e feijão até o preço dos veículos. E quem sofre mais são os trabalhadores, a dona de casa, o aposentado, o pequeno produtor rural. E essa crescente situação de extrema pobreza está colocando muitas pessoas nas ruas.
O que é preocupante apenas incentivar a exportação e deixar que o mercado se ajuste, fortalece uma “inflação de oligopólio ou de monopólio”. Na qual as empresas querem ter lucro, e mantém o preço com baixa e alta demanda no mercado. Nosso país está a mercê dessa política dita de “livre mercado”, que concentra riqueza, somada a uma inabilidade da gestão pública de fazer esse enfrentamento.
A política econômica do governo não foca no que precisa ser feito. Está comprovado que política de aumentar as taxas de juros para diminuir a inflação é ultrapassada e insuficiente.
Faltam investimentos e incentivos em áreas da economia que podem gerar mais postos de trabalho. Manter o poder de compra da população, garantir o consumo para indústria e comércio. São medidas que vão gradativamente aquecer a economia e gerar renda para quem está na base da pirâmide da população.
Enio Verri é deputado federal (PT-PR)
Artigo publicado originalmente no Brasil 247