A participação e o discurso de Jair Bolsonaro em ato golpista, no dia 20, em frente ao quartel general do Exército, em Brasília, têm duplo sentido. É um atentado à vida e à democracia.
Precisamos entender, de uma vez por todas, que Bolsonaro não está em guerra contra a Covid-19. Portanto, não podemos esperar dele urgência, prioridade ou mobilização para qualquer ação que diga respeito à pandemia do coronavírus.
Os atos do governo, até aqui, são, na sua maioria, uma reação às iniciativas do Congresso Nacional ou refletem a postura irresponsável e isolada de alguns membros do alto escalão do Executivo Federal.
Bolsonaro se elegeu e ficou 28 anos como deputado federal defendendo a ditadura, o obscurantismo, as medidas de força e exceção e combatendo a diversidade, a pluralidade e a democracia.
Como presidente da República, não faz diferente. O grave é que, agora, o fim da democracia significa sua permanência no poder.
Um presidente que estimula, participa e promove atos contra a democracia, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal, contra a própria Constituição, seria um paradoxo, se não fosse ele o beneficiário do golpe.
Quando o presidente promove atos que geram aglomeração de pessoas e conclama a que saiam do isolamento, ele não está preocupado com a saúde de você, cidadão. Está, simplesmente, travando sua guerra pessoal.
Bolsonaro é homem de uma guerra só. Como se vivesse ainda no período da Guerra Fria, encara “os vermelhos”, “marxistas”, cubanos, chineses e “esquerdistas” como a personificação do mal. É a sua luta permanente, contra inimigos ideológicos e imaginários.
Os presidentes da Câmara e do Senado e os governadores, ao mesmo tempo que fazem contundente defesa das instituições e da democracia, deixam claro que, neste momento, o nosso maior inimigo é o coronavírus e, portanto, é nisto que precisam estar concentrados todos nossos esforços.
Não podemos ser levianos a ponto de comprometer a guerra contra o vírus priorizando uma nova guerra com o capitão-presidente. Mas, também, não podemos ser omissos e permitir que o vírus da intolerância e do ódio se espalhe, contaminando corações e mentes, ou que milhares de brasileiros morram.
Bolsonaro pode mudar? Domingo, dia 20, vimos que, infelizmente, não. Na sua cabeça doentia, a guerra é contra ele, não contra o vírus.
É capaz de mandar divulgar posts na internet – quando o mundo todo têm adotado o isolamento como medida mais eficaz no combate à pandemia – afirmando que o isolamento é coisa de esquerdista para causar desordem nas ruas e derrubá-lo do cargo de presidente.
No domingo de Páscoa teve outro desvario. Na tentativa de levar sua guerra pessoal para as ruas, mostrou-se um presidente isolado, cada dia mais descontrolado. Veste o autoritarismo e a violência de verde e amarelo e chama a isto de patriotismo. Quer transformar sua guerra pessoal na guerra de uma nação.
É evidente que não tem mais condições de conduzir os destinos do País com imparcialidade, responsabilidade e serenidade, dentro das regras democráticas. Se tivéssemos um presidente com respeitabilidade, senso de urgência e maturidade, a situação já seria extremamente grave. Com Bolsonaro, a crise vem ganhando contornos de tragédia.
O Congresso Nacional, os partidos políticos, os governadores, os membros do Supremo Tribunal Federal, entidades da sociedade civil e dos movimentos sociais e populares, sindicatos e empresas precisam dar ao País a estabilidade que Bolsonaro está destruindo.
Juntos, podemos superar a crise, fortalecer a democracia e apresentar alternativas ao povo brasileiro
Fora, Bolsonaro!
Enio Verri é deputado federal (PT-PR) e líder do partido na Câmara dos Deputados
- Artigo publicado originalmente na Revista Fórum