Dono de blog bolsonarista se recusa a responder perguntas e não esclarece esquema de disseminação de fake news

Os deputados petistas Rui Falcão (SP) e Luizianne Lins (CE) acusaram o autointitulado jornalista Allan dos Santos, do blog Terça Livre, de fugir das perguntas durante a CPMI das Fake News e não esclarecer o esquema de disseminação de notícias falsas pela internet. Durante o depoimento, que durou mais de 5 horas, Allan dos Santos tentou se desvencilhar das acusações ao dizer que parte das fake news foram produzidas por outras pessoas ou que não poderia explicar a suposta origem da informação alegando “sigilo da fonte”. Ele ainda se negou a autorizar a quebra de seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático. O requerimento de convocação de Allan dos Santos foi apresentado pelo deputado Rui Falcão.

O depoente, que compareceu à CPMI na condição de investigado reconheceu, porém, que mantém encontros semanais com assessores lotados na Presidência da República, acusados pelo deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) e pela ex-líder do Governo, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), de pertencerem ao denominado “gabinete do ódio”. Os parlamentares afirmam que Tércio Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos, desde a época da campanha eleitoral são responsáveis por difundir fake news contra adversários de Bolsonaro na internet.

Apesar da revelação, Allan dos Santos se recusou a responder se os assessores da Presidência frequentam a mansão onde reside e funciona o Terça Livre, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. “Como era de se esperar ele tergiversou na maior parte das respostas, e em outas mais críticas usou direito de não falar. Mostrou que além de veicular fake news, também é um jornalista fake”, disse Falcão. Perguntado, Allan Santos disse que embora se identifique como jornalista, não tem formação na área e nem registro no Ministério do Trabalho para exercer a profissão.

Durante o depoimento, vários casos de fake news difundidas pelo blog Terça Livre foram apresentados. Inclusive uma suposta internação do jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, por “uso excessivo de cocaína”.

A relatora da CPMI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), lembrou ainda de outras falsas notícias difundidas pelo blog, como a venda de uma reserva indígena em Rondônia para uma empresa Irlandesa; a suposta ligação de uma quadrilha na Bahia com a campanha de Fernando Haddad; a “informação” de que pedófilos estariam pedindo para entrar em comunidades LGBT; e ainda a “notícia” de que o músico Roger Waters (Ex-Pink Floyd) estaria envolvido em um suposto “esquema de corrupção do PT”.

Ao ser indagada pela relatora o que levou o blog a divulgar esse tipo de notícia falsa, o autointitulado jornalista disse que não “escreveu a notícia” e que, em outros casos, “apenas reproduziu informações obtidas com fontes”. Perguntado quais eram as supostas fontes, Allan dos Santos alegou sigilo e não respondeu à pergunta. Allan Santos ainda declarou que quem se sentisse ofendido deveria recorrer à justiça.

Mesmo tentando escapar das perguntas mais incômodas, Luizianne Lins destacou que as poucas informações obtidas no depoimento de Allan Santos permitem a CPMI aprofundar as investigações sobre a disseminação de notícias falsas. “Começou a ser desvendado o esquema profissional de disseminação de fake news, com a materialização de nomes que inclusive já está convocado para vir à CPMI. O importante é que conseguimos trazer à tona o que estava no submundo de um esquema que está atuando a pleno vapor já há alguns anos”, informou.

Perguntado se concordava com a quebra de seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático, Allan dos Santos a princípio concordou. Porém, alertado pela advogada que o acompanhava voltou atrás e disse que somente autorizaria mediante ação judicial.

Dono do Terça Livre

Embora tenha alegado ser o proprietário do Terça Livre, e outras empresas ligadas ao grupo, Allan Santos não esclareceu porque o e-mail cadastrado para contato das empresas pertença a um empresário que mora em Miami (USA), João Bernardo Barbosa, dono de várias empresas, entre elas a Rede de Lanchonete Giraffas. Segundo Allan dos Santos, o empresário apenas ajudou a fundar o Terça Livre, mas hoje não tem participação alguma no grupo. Não satisfeita com a resposta, Luizianne Lins disse ao presidente da CPMI, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que irá apresentar requerimento para o empresário esclarecer o fato no colegiado.

Condenações na justiça

A relatora da CPMI informou ainda que Allan dos Santos já sofreu duas condenações na justiça por disseminar notícias falsas na internet. No primeiro caso, o “jornalista” foi condenado a dar direito de resposta ao Instituto Alana por difundir fake news envolvendo a entidade que cuida dos direitos das crianças.

Em outro caso, Allan dos Santos foi condenado – em primeira instância e por danos morais – por ter disseminado inverdades sobre o delegado que investigou o caso da facada em Jair Bolsonaro, ocorrido durante as eleições. Segundo o jornalista sem diploma, o delegado teria considerado Adélio Bispo incapaz de responder pelo crime porque seria “ligado ao PT”.

Os deputados petistas Carlos Zarattini (SP) e Natália Bonavides (RN) também participaram da reunião da CPMI.

 

Veja a audiência:

 

 

Héber Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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