O número de casos de Aids no Brasil tem aumentado entre os homens. Em 2006, a razão era de 1 caso em mulher para cada 1,2 caso em homens enquanto que, em 2015, o cenário passou a ser de 1 caso em mulher para cada 3 casos em homens. Os dados são do Ministério da Saúde e foram divulgados ontem (30), um dia antes do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado nesta quinta-feira, 1º de dezembro. Ainda, de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV e Aids de 2016, 827 mil pessoas vivem com a doença no Brasil.
O mais preocupante é que o crescimento é ainda maior entre jovens do sexo masculino. A estatística mostra que houve um incremento de casos em todas as faixas etárias. Dos 20 aos 24 anos, por exemplo, a taxa de detecção subiu de 16,2 casos para cada 100 mil habitantes, em 2005, para 33,1 casos em 2015. Os jovens de 18 a 24 anos permanecem também como o grupo mais vulnerável à Aids no País.
O deputado Jorge Solla (PT-BA) e a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) alertaram para a necessidade de o governo Temer manter as políticas públicas dos governos do PT de prevenção e tratamento da doença, que ainda mata no mundo inteiro. “Os governos Lula e Dilma sempre desenvolveram um conjunto de ações que garantiam, gratuitamente, ações de prevenção, medicamento e tratamento adequado. Infelizmente não temos essa mesma garantia com esse governo conservador e golpista de Michel Temer”, afirmou o deputado Solla. Ele disse que a situação se torna ainda mais preocupante com o avanço da proposta (PEC 55, antiga PEC 241) que congela investimentos públicos por 20 anos.
“Conhecemos a disposição deste governo sem voto em cortar recursos para políticas públicas para enfraquecer o Sistema Único de Saúde. Mas, com essas estatísticas, o governo precisa compreender que é preciso investir no enfrentamento da Aids, que demandará mais serviço, mais profissional, mais medicamentos”, observou o deputado do PT baiano.
Retrocessos – A deputada Benedita da Silva lamentou o visível retrocesso no setor saúde desde que o governo golpista de Temer assumiu a Presidência. “E, com o congelamento de gastos por 20 anos, faltarão recursos não só para as políticas de combate à Aids, como também para o combate à tuberculose e hanseníase”, lamentou. Benedita destacou que nos governos Lula e Dilma a comunidade LGBT era assistida com transversalidade nas áreas de saúde e educação. “E, como as estatísticas mostram que a Aids cresceu entre essa população, em especial entre os jovens, o governo não pode fechar os olhos para essa realidade”, defendeu.
A revista Brasileiros traz em sua página, na seção Saúde!Brasileiros desta quinta-feira o artigo “Aids, seus novos dilemas e o avanço do conservadorismo”, no qual trata da estatística apresentada pelo Ministério da Saúde, fala da dificuldade do governo em aumentar a adesão de jovens ao tratamento e da epidemia concentrada em populações mais vulneráveis (homens que fazem sexo com homens, travestis, mulheres trans, profissionais do sexo e usuários de drogas).
“A primeira questão (do não tratamento) foi colocada explicitamente pelo Ministério da Saúde em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (30). Já o segundo dilema – da epidemia concentrada nos mais vulneráveis – foi deixada de lado. A população gay desapareceu do discurso da apresentação: o foco foi a transmissão de mãe para filho – que realmente baixou 36% nos últimos seis anos. E o fato de que as mulheres estão se infectando menos (são três homens para cada uma)”, diz o texto da reportagem.
ONU – A Revista cita ainda que, embora o governo Temer tenha deixado de lado na apresentação dos números essa questão, o mesmo não aconteceu na ONU. Em pronunciamento hoje, pelo Dia Mundial Luta contra a Aids, Ban Ki-moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, chamou atenção para esse aspecto.
“Populações-chave continuam a ser desproporcionalmente afetadas pelo vírus. Novas infecções estão crescendo entre pessoas que usam drogas injetáveis assim como entre homens gays e homens que fazem sexo com outros homens”, disse Ban Ki-moon. “Apoiar as pessoas jovens, vulneráveis e marginalizadas mudará o curso da epidemia” completou. A meta da ONU e da Unaids é eliminar, no mundo inteiro, a epidemia de Aids em 2030.
A deputada Benedita da Silva disse que se o Brasil quiser alcançar nessa meta vai ter que olhar mais atentamente para essa população e dar continuidade às políticas implementadas pelos governos Lula e Dilma para o combate à Aids.
Em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal Estado de S.Paulo, o especialista em planejamento e gestão em saúde e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Scheffer, afirmou que “forças moralistas e gestores covardes interditaram ações contra Aids”.
No texto, Scheffer critica o Ministério da Saúde, que segundo ele, “tortura dados para mostrar avanços no combate à epidemia”. “Os dados gerais positivos ocultam retrocessos: a Aids ressurgiu no Brasil com força total nas novas gerações e existem milhares de infectados que não sabem que têm HIV”, alerta.
“Forças moralistas e gestores covardes interditaram ações dirigidas aos gays, varreram a sexualidade para debaixo do tapete e deixaram de incorporar na prevenção novos modos de vida. Do preservativo como recurso único passou-se à lógica de prevenção que combina o teste, o começo do tratamento logo após o resultado positivo, os antirretrovirais tomados antes ou depois de relações sexuais desprotegidas. Mas essas tecnologias ainda não estão facilmente disponíveis a todos que precisam”, lamentou Scheffer.
Ele encerra o artigo alertando que tudo isso, “junto ao desmonte do SUS, que virá com o congelamento dos recursos públicos, pode determinar a escalada da Aids no Brasil”.
http://brasileiros.com.br/2016/12/aids-seus-novos-dilemas-e-o-avanco-conservadorismo/
Vânia Rodrigues, com agências
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