O desmatamento e os incêndios tem prejudicado o regime de chuvas no centro sul do País. A diminuição das precipitações tem impactado a agricultura e a sociedade como um todo. Essas são conclusões apresentadas por pesquisadoras que participaram de audiência, nesta quinta-feira (12), na Comissão Externa da Câmara destinada a acompanhar e promover estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros. A atividade foi coordenada pela deputada federal Professora Rosa Neide (PT).
A audiência contou com palestras do representante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Fabiano Morelli; da coordenadora-geral de Conservação de Solo e Água do Ministério da Agricultura, Soraya Carvalho Barrios de Araújo; da pesquisadora da Universidade Federal do Acre (UFAC), Sonaira Souza da Silva; e da diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar.
Sonaira Silva explicou que o desmatamento e as fumaças dos incêndios têm inibido formações de chuvas e prejudicado a formação dos chamados rios voadores, que trazem chuvas da Amazônia para o centro sul do País. “A evapotranspiração nas áreas de pastagens, que tem avançado no bioma amazônico, é menor e compromete a formação de chuvas. As fumaças também tem potencial para inibir as precipitações”, disse.
A diretora do Ipam, Ane Alencar, apresentou dados da degradação da Amazônia no último período. Entre 2016 e 2021, houve um aumento de 80% no desmatamento no bioma, consequentemente aumentaram os incêndios.
De acordo com Ane, o fogo no bioma tem ocorrido por dois motivos: limpar as áreas desmatadas ilegalmente para expandir pastagens; e fazer limpeza das pastagens existentes. Ela destacou que 54% dos desmatamentos e incêndios na Amazônia são em terras públicas não destinadas, ou seja, que estão ocupadas por grileiros. “De 2020 para 2021 houve aumento de 32% de focos de incêndio em florestas públicas”, acrescentou.
Desenvolvimento sustentável
A deputada Professora Rosa Neide destacou a importância de o País voltar a priorizar o desenvolvimento sustentável. “Entendemos a importância do agronegócio brasileiro para o equilíbrio da balança comercial, por isso nossa produção precisa primar pela sustentabilidade. Qual o impacto do avanço da fronteira agropecuária na Amazonia? Qual impacto sobre nossos rios e solo?”, questionou.
A representante do Ministério da Agricultura, Soraya de Araújo, concordou com a deputada e informou que o Ministério lançará em breve um programa que visa implementar boas práticas no agronegócio do País. Denominado Águas do Agro, o programa visa promover “o desenvolvimento sustentável com manejo eficiente para preservar solo e água”, disse.
Segundo Soraya, dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que até 2050, o mundo precisará produzir 50% mais alimentos e 40% mais água. “Como fazer com que o produtor de alimentos também produza água”? A coordenadora citou que o programa do Ministério pretende trabalhar com tecnologia, ciência e educação, com o intuito de promover a recuperação de nascentes de córregos e rios e promover o manejo adequado do solo.
O representante do Inpe, Fabiano Morelli, cobrou mais investimentos em pesquisas científicas. “O Inpe tem pesquisas de impacto do fogo e da seca nas áreas agrícolas, mas precisa de investimentos para produções sistemáticas. Temos capacidade técnica e pesquisadores, mas precisamos de investimentos para investigação sobre o crescimento das áreas do agro e os impactos causados”, afirmou.
A audiência contou com participação dos deputados Paulo Teixeira (PT-SP), Camilo Capiberibe (PSB-AP) e Airton Faleiro (PT-PA).
Assessoria Parlamentar