Deputados do Parlamento Europeu podem lançar campanha em defesa dos índios brasileiros

CDH

Deputados do Parlamento Europeu poderão lançar em breve uma campanha internacional em defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil. O aviso foi dado nesta segunda-feira (5) pelo eurodeputado português Francisco de Assis, líder da comitiva de parlamentares do Parlamento Europeu, ao participar da audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, que debateu a causa indígena no País. O evento aconteceu por iniciativa dos deputados petistas Padre João (PT-MG) – presidente da CDHM- e Paulo Pimenta (RS) – 1º vice-presidente do colegiado. 

Segundo os parlamentares europeus, o lançamento da campanha em defesa dos povos indígenas vai depender da observação que o grupo fará- conjuntamente com deputados da CDHM da Câmara- das condições de vida de comunidades indígenas ameaçadas por conflitos agrários com fazendeiros. Nesta terça-feira (6) a comitiva embarca para o Mato Grosso do Sul (MS), e vai verificar a luta do povo Guarani-Kaiowá.

“O Parlamento Europeu preocupa-se com a garantia dos direitos humanos, tanto na Europa quanto em outros países do mundo. Nossa presença aqui não é uma intromissão em assuntos internos que, aliás, devem ser resolvidos pelos brasileiros. Mas nós também não podemos virar a cara para problemas nos quais historicamente temos responsabilidade”, destacou.

Sobre esse ponto, o eurodeputado disse que algum dia o próprio parlamento europeu deverá pedir desculpas aos povos indígenas brasileiros.

“Sentimos essa responsabilidade porque os problemas dos índios, e de outros povos nativos, começaram logo após a chegada dos nossos antepassados”, reconheceu.

A declaração do líder da delegação europeia foi bem recebida pelo presidente da CDHM, deputado Padre João. Ele, inclusive, elogiou recente resolução aprovada no plenário do Parlamento Europeu, que condena a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 215) que transfere do poder executivo para o legislativo a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas no País.

“Além da PEC 215 pairam outras ameaças contra os direitos indígenas, como a decisão do STF que delimita um marco temporal para demarcação de territórios, a recriação da CPI do Incra/Funai e o sucateamento da Funai, representado pela redução em 70% do orçamento da entidade para 2017”, enumerou.

Para a representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Valéria Paye, o apoio do Parlamento Europeu chega em um momento crucial da luta indígena.

“Estamos sofrendo graves agressões em direitos que conquistamos. E diante do momento político tende a se agravar. Somos atingidos por fazendeiros que nos expulsam de nossas terras e nos jogam na beira das estradas, e ainda temos a ameaça da PEC 215, que esse Congresso quer decidir sem nos ouvir, porque quando queremos entrar aqui barram a nossa entrada”, denunciou.

Apoio– A possibilidade da campanha internacional em defesa dos povos indígenas brasileiros, especialmente os Guarani-Kaiowá, também recebeu o apoio do Ministério Público Federal e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Para o Procurador da 6ª Câmara- responsável pelas Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF- Gustavo Alcântara, a violência contra os Guarani-Kaiowá no MS pode ser considerada um etnocídio. Segundo ele, cerca de 70 mil indígenas vivem confinados em 0,2% do território do Estado.

“Temos uma força tarefa atuando no estado que já indiciou 17 pessoas, e pediu a prisão preventiva de cinco envolvidos no último ataque aos índios. Mas não queremos exclusividade para resolver o problema, se o Estado brasileiro sozinho não está conseguindo resolver”, declarou.

Também participaram da audiência pública o representante da Funai, Agostinho Netto, e o Secretário-Executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Cleber Buzzato.
Os deputados petistas Erika Kokay (PT-DF) e Luiz Couto (PT-PB) também estiveram presentes à audiência pública.

Héber Carvalho
Foto: Salu Parente

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