Professores e especialistas que participaram do 1º Seminário Nacional de Cultura realizado em conjunto pelas comissões de Cultura e de Legislação Participativa, nesta terça-feira (13), demonstraram preocupação com os ataques e retrocessos impostos pelo governo autoritário e golpista de Michel Temer ao povo brasileiro. O seminário atende a requerimento dos parlamentares Chico D´Ângelo (PT-RJ) – presidente da Comissão de Cultura -, Maria do Rosário (PT-RS) e Erika Kokay (PT-DF).
A escritora e filósofa Márcia Tiburi disse que não se pode pensar a importância da cultura dissociada do momento político que o país vive. “O conceito de cultura define justamente o caráter mais profundo do projeto de país que a gente puder imaginar. Hoje, a gente vive um projeto de Brasil ou para falar assim, nesses termos, um projeto de destruição do nosso país”, sentenciou a filósofa que usou como exemplo a proposta de emenda à Constituição (PEC 55/16) que foi aprovada hoje pelo Senado Federal.
“É a PEC da morte do Brasil. Ela é uma decisão que podemos dizer que é tanatopolítica – uma decisão de destruição, aniquilação vagarosa, silenciosa e legalizada das populações ou de camadas da população que mais precisam da atenção do Estado”, afirmou.
No decorrer da sua explanação, Márcia Tiburi frisou que cultura não significa impor ideias, e sim, abrir espaços para as ideias. Para ela, não se pode fazer crescer a cultura em um ambiente onde predomina o autoritarismo. “Esse é o problema. A gente tem, neste momento, um governo ultra autoritário, um governo que para não dizer fascista, beira ao fascismo. Estamos todos debaixo de um trauma e esse governo golpista não tem a menor noção do que é cultura, se não como algo ou uma coisa que deve ser aniquilada”, lamentou a filósofa.
Criticou ainda a escritora a transformação que vem passando os bens culturais, onde o produto não passa de mercadoria. “As pessoas escutam, por exemplo, sertanejo universitário ou música ruim, assistem novelas idiotizante, assistem jornais idiotizante, compram revistas estupidificante que são produzidas apenas para que elas emburreçam”, lembrou Marcia Tiburi, que ainda pediu para que as pessoas se lembrem sempre de suas formações.
“A gente vive dessa formação. A gente é o que a gente contempla. Não nos tornemos otários no Brasil porque esse é o projeto neoliberal que nos toca nesse momento”, alertou.
Ao discorrer sobre o tema, o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Albino Rubim, parabenizou o deputado Chico D´Ângelo pela realização desse debate em um momento grave que o país vive. “Vivemos um momento dramático, onde são ameaçados o Ministério da Cultura e as Secretaria de Cultura, onde há uma clara limitação das liberdades democráticas e a disseminação de um clima extremamente preocupante de ódio no país”, observou o professor.
Rubim disse que, apesar de todas as contradições, a sociedade brasileira deve buscar o melhor caminho para enfrentar as adversidades. “Nós temos que fazer prevalecer uma cultura cidadã, uma cultura de respeito às pessoas, respeito às divergências política, cultural e a diversidade de opções sexuais. A cultura pode nos dar isso, mas desde que seja uma cultura realmente cidadã, uma cultura comprometida com esse país e com o mundo que nós queremos”, defendeu o professor.
O deputado Chico D´Ângelo disse que o ano de 2016 foi um ano triste para a cultura brasileira. Ele destacou a luta e a resistência dos agentes que atuam no setor. “A primeira iniciativa do governo golpista foi extinguir o Ministério da Cultura. Isso tem um significado, uma dimensão muito simbólica do que representa esse governo golpista. O papel da comissão junto com milhares de artistas e agentes culturais na resistência democrática fez com que a decisão do governo golpista fosse revertida”, disse Chico D´Ângelo, que ainda lembrou que a história do MinC nos últimos tempos foi fundamental para implantação de políticas relevantes para o setor.
Benildes Rodrigues
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