CPMI do Golpe quebra sigilos de suspeitos, e petistas afirmam que Mauro Cid envergonha o Exército

CPMI do Golpe recebeu o golpista tenente-coronel Cid. Fotos: Alessandro Dantas/PT no Senado

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, ficou em silêncio durante o depoimento à CPMI do Golpe de 8 de Janeiro, nesta terça-feira (11). Ele era um dos depoentes mais aguardados pela Comissão. Para os parlamentares da Bancada do PT na Câmara, Cid “envergonha o Exército Brasileiro” e jogou sua carreira “no lixo” ao participar da tentativa de golpe contra a democracia brasileira.

A Comissão também aprovou uma série de requerimentos de quebras de sigilo, pedidos de informação e relatórios financeiros sobre os suspeitos de envolvimento nos atos golpistas. Entre os requerimentos estão os pedidos de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Mauro Cid, George Washington de Oliveira Sousa, Silvinei Vasques, Jean Lawand Júnior, entre outros.

Deputado Rubens Pereira Jr.

Em sua exposição, Mauro Cid disse que a nomeação para ser ajudante de Bolsonaro não teve “ingerência política”, que não participava de decisões de governo e que ficaria em silêncio por conta das investigações que pesam contra ele.

Para o deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA) se o ex-ajudante de Bolsonaro falasse, a Comissão acabaria. “Se o Sr. Mauro Cid falasse hoje, acabavam os trabalhos da CPMI. Não precisava investigar mais nada. Bastava que ele quisesse contribuir com a investigação, porque ele viu tudo, ele ouviu tudo e ele sabe de tudo”.

Cumpridor de ordens

O deputado Rubens Jr. afirmou que Cid era mais do que um carregador de pasta, era um “cumpridor de ordens” do ex-presidente. “É incrível como, onde havia um malfeito do Bolsonaro, lá estava Mauro Cid. É por isso que são tantos inquéritos que o senhor responde perante o STF. Rachadinha, joia, vazamento de inquérito sigiloso, lá está o Mauro Cid; milícias digitais, lá está o Mauro Cid; fake news, lá está o Mauro Cid; atos antidemocráticos, lá está o Mauro Cid”. E completou: “O ajudante de ordens se transformou no cumpridor de ordens. Ordens no sentido de executar a rachadinha, de recuperar a joia apreendida, de vazar o inquérito sigiloso. O ajudante de ordem que vira um cumpridor de ordem, é por isso que o senhor está sentado aqui, Mauro Cid”.

O militar Mauro Cid está preso desde maio apontado como um dos responsáveis pelo esquema de fraude em cartões de vacinação da sua família e de pessoas próximas a Bolsonaro. Após a prisão, foram encontrados no celular de Cid uma minuta e mensagens propondo um golpe contra a democracia brasileira.

Abandonado

Deputado Rogério Correia

Rubens Pereira Jr. alertou ao inquerido que ele foi abandonado pelo ex-presidente. “O senhor já foi abandonado – o senhor está sozinho agora. O que de fato está acontecendo é o que disse o ex-presidente Bolsonaro no dia 18 de maio de 2023: ‘Cada um siga a sua vida agora’. O senhor segue assumindo todas as culpas e as responsabilidades para não se defender, escondendo, quando o senhor poderia estar contribuindo”, apontou.

Indo na mesma linha, o deputado Rogério Correia (PT-MG) reforçou que Bolsonaro não está “nem aí” para ele. “O senhor fica em silêncio, mas o presidente, quando fez uma visita ao Senado em maio, simplesmente disse: cada um para o seu lado, ‘cada um siga a sua vida’. É claro que nós precisamos alertar o senhor, porque tem um ditado que é muito usado lá nas Minas Gerais: ‘galinha que acompanha pato morre afogada’. E o presidente Jair Bolsonaro não está nem aí para isso”.

O deputado mineiro disse ainda que o silêncio de Mauro Cid pode “acobertar o Bolsonaro”, mas que não irá “livrá-lo da prisão”. Rogério Correia também assegurou ao depoente, que o seu silêncio não ajuda seu pai – general Mauro Cesar Lourena Cid – que tem tentado tirá-lo da prisão. “Eu acho que a atitude que o senhor faz aqui em nada ajuda, porque o senhor simplesmente assume para si toda uma culpa que a gente sabe que tem alguém por trás, que seria o principal interessado nesse golpe, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro”.

“De fiel assessor, o senhor vira agora bode expiatório, onde só o senhor está respondendo por atos de que o senhor sabe que não era o autor intelectual”, afirmou Rubens Pereira Jr.

Vergonha

O tenente-coronel foi à reunião fardado. Para Rubens Pereira Jr., Cid “envergonha” o Exército Brasileiro. “Hoje, o senhor, vestido com essa farda, infelizmente, envergonha o Exército Brasileiro, após ter jogado sua carreira no lixo. O senhor, tal como seu pai, seria general”.

O deputado maranhense insiste para que Mauro Cid se defenda e ajude nas investigações da CPMI. “O que nós queremos, de fato, é que agora invertendo, tal como disse o ex-presidente ao senhor, “que cada um siga sua vida”. Siga sua vida, se defenda, diga o que o senhor fez com todas as tentativas de GLO [Garantia da Lei e da Ordem] que o senhor recebeu, diga o que de fato o senhor fez com todos esses pedidos de intervenção federal que o senhor recebeu. Diga, de fato, qual era a transação financeira feita nos porões do Palácio do Planalto por meio de rachadinha. Diga justamente quem lhe dava ordem para tentar liberar a todo custo as joias; a quem o senhor vazou em informações do inquérito. [Se] defenda, Sr. Mauro Cid. Ajude a esclarecer todos que participaram da tentativa de golpe no nosso País, do atentado à democracia. Faça valer essa farda que o senhor veste do Exército Brasileiro”.

 

Lorena Vale

 

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