A CPMI do Golpe ouviu nesta quinta-feira (24), o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, integrante da equipe de Ajudância de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Reis é suspeito de ter praticado vários crimes, dentre eles o de ter participado do fatídico 8 de janeiro e de ter participado do esquema de fraude dos cartões de vacina do ex-presidente e seus familiares — razão pela qual está preso desde maio deste ano.
Antes da oitiva, a Comissão ainda aprovou 57 requerimentos. Dentre eles, as quebras de sigilos telefônicos e telemáticos da deputada bolsonarista Carla Zambelli; e a quebra de sigilos bancários, fiscais, telefônicos e telemáticos do hacker Walter Delgatti Neto. Também foi aprovada a reconvocação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O sargento Luís Marcos dos Reis também é suspeito de ter realizado movimentações financeiras consideradas atípicas no valor de R$ 3,3 milhões para o então ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid. As informações constam no relatório de inteligência financeira (RIF) produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ainda, segundo o Coaf, Reis é suspeito de sacar dinheiro vivo para pagar contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Questionado sobre os valores movimentados, o sargento disse que são verbas referentes a consórcios entre colegas. “A gente de situação financeira mais baixa começa em um consórcio”, afirmou.
O deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA) afirmou que não acredita que a movimentação de R$ 3,3 milhões era da participação de consórcio entre “amigos”. “Essa história de que um sargento do Exército, que tem um salário entre R$ 10 mil, R$ 12 mil, R$ 13 mil – já no avançar da carreira – movimenta R$ 3,3 milhões, entre entradas e saídas da sua conta, fora o dinheiro vivo lá da ajudância de ordem, e o senhor disse que parte disso era equivalente a um consórcio, é uma história incrível, difícil de se acreditar”.
Para o parlamentar a ajudância de ordem se transformou em “ajudância do crime”. “Infelizmente, a ajudância de ordem se transforma em ajudância do crime, que participou de acampamento, de minuta golpista, de fraude no cartão de vacina, com dinheiro vivo e invasão aos Três Poderes. Essa foi a sua participação, com a sua história incrível e esdrúxula na manhã de hoje, nesta CPMI”, lamentou Rubens Pereira Jr.
Atos golpistas
Sobre o dia 8 de janeiro, o sargento do Exército observou que estava assistindo de casa os atos terroristas contra as sedes dos Três Poderes e resolveu, por curiosidade, ir à Esplanada. Ele disse que quando chegou a quebradeira já havia acabado, mas que subiu a rampa do Congresso Nacional, tirou foto e foi embora.
Mas mensagens encontradas em seu celular contrapõem as declarações dadas à CPMI. “Olha a história incrível do senhor, mais uma vez: ‘Estou em casa assistindo televisão’. Eu também estava em casa e estava acompanhando. O senhor olha o pessoal invadindo os Três Poderes. O que o senhor faz? ‘Estou curioso. Eu vou lá olhar’. Foi o que o senhor disse aqui. Ninguém consegue acreditar nessa versão, ninguém consegue acreditar”, apontou Rubens Pereira.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG) a situação de Reis é grave. “A situação do senhor é grave, as denúncias são graves e a denúncia é de participação nos atos golpistas do dia 8, querendo abolir a democracia e o Estado de Direito de forma violenta. O senhor participou desses atos”.
O parlamentar completou dizendo que o militar não “estava lá à toa, passeando aqui, não. O senhor estava ali engajado no golpe, não é? O senhor é um dos militares golpistas”.
Pequenos pagamentos
Rubens Pereira Jr. colocou o sargento contra a parede ao questionar se ele fazia serviços de pagamento para a família Bolsonaro. Ele tentou negar, silenciar, mas acabou dizendo que fazia pequenos pagamentos e que pagou a escola da filha de Bolsonaro. “Já fiz (…) eu fiz um pagamento de boleto da filha do presidente, do colégio que ela estudava”, admitiu Luís Reis.
O parlamentar perguntou se era em dinheiro em espécie, e o militar preferiu o silêncio. “Tem três formas de fazer pagamento: a primeira é cartão corporativo; a segunda é débito na sua conta, o senhor já disse que não fez; a terceira é com dinheiro em espécie. O senhor pode ficar em silêncio, é um direito seu, e eu defendo o seu direito, mas, na inteligência da investigação, só sobra ter sido em dinheiro vivo”, constatou Rubens Pereira.
O deputado Rogério Correia apontou que Vanderlei Cardoso de Barros – o dono da Cedro do Líbano – e que Luís Reis chama de ‘Derlei’ fez depósitos na conta do ex-ajudante de ordens para pagamento das contas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. “O dinheiro entrou na conta do senhor e, no dia seguinte, o senhor pagou contas da Michelle Bolsonaro. Então, o senhor está em apuros”.
Para o parlamentar mineiro, o sargento do Exército “contribuiu muito pouco” para a Comissão e “mentiu muito”.
Fraude no cartão de vacinação
Quando perguntado sobre a fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro e de pessoas próximas ao ex-presidente, Reis falou que iria ficar calado. Para o deputado Rubens Pereira Jr. o sargento é o principal responsável pela fraude. “Na minha linha de raciocínio investigativa, o senhor foi o principal responsável pela fraude no cartão: pelo local que aconteceu, pelas pessoas relacionadas, porque o senhor era quem executava operacionalmente as ordens”, destacou o deputado maranhense.
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Lorena Vale