CPMI: Bolsonaro pediu para hacker invadir urnas e assumir autoria de suposto grampo contra Moraes, diz Delgatti

Na CPMI do Golpe, Delgatti deixa claro que Bolsonaro queria que ele fraudasse urna eletrônica. Fotos: Alessandro Dantas/PT no Senado

Durante seu depoimento na CPMI do Golpe, o hacker Walter Delgatti Neto afirmou, nesta quinta-feira (17), que o ex-presidente Jair Bolsonaro ofereceu indulto para que ele criasse um “código-fonte fake” e questionasse a legitimidade das urnas eletrônicas; assumisse a autoria de um suposto grampo realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e participasse de reuniões no Ministério da Defesa.

Segundo o hacker, a proposta para fazer uma versão adulterada do código-fonte das urnas eletrônicas – para estimular a população a questionar a legitimidade do processo eleitoral – teria sido feita pelo marqueteiro do PL, Duda Lima, em uma reunião no Palácio da Alvorada e seria apresentada ao público no dia 7 de setembro do ano passado. O encontro também contou com a presença de Bolsonaro, da deputada federal Carla Zambelli; do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid; e do coronel Marcelo Câmara.

“A ideia era, no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna, emprestada da OAB, eu acredito, para que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro (…) eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE, e nesse código-fonte eu inserisse essas linhas que eles chamam de código malicioso, porque ele tem como finalidade enganar, como finalidade colocar dúvidas na eleição”, relatou Delgatti.

Além do indulto, o hacker disse que Bolsonaro teria prometido “prender o juiz”, caso ele fosse pego em plano para deslegitimar as urnas eletrônicas. “Ele disse ‘fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu mando prender o juiz’ e deu risada”.

Fraude nas urnas

Deputado Rubens Pereira Jr.

Para o deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA) Walter Delgatti foi contratado para dar um golpe de Estado tentando fraudar as urnas eletrônicas. “O senhor está aqui hoje, Sr. Walter, para poder explicar exatamente como o senhor foi contratado para tentar dar um golpe de Estado. Fraudar as urnas eletrônicas seria uma forma de impedir que o povo manifestasse livremente a sua vontade, para ter um golpe de Estado em nosso País”.

O parlamentar também perguntou ao hacker se ele temia pela própria vida. Delgatti respondeu que “atualmente, sim”.

Grampo contra Moraes

De acordo com Walter Delgatti, Bolsonaro também pediu para que ele assumisse a autoria de um suposto grampo que teria sido plantado contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. A solicitação teria sido feita por telefone, em contato intermediado pela deputada Carla Zambelli. “Eu falei com o Presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo já tinha sido realizado, teria conversas comprometedoras do ministro e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”.

Bolsonaro teria afirmado ao hacker que “agentes de outro país” teriam feito esse grampo. “Ele disse, no telefonema, que esse grampo fora realizado por agentes de outro país. Ele me disse. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo, porque eu não tive acesso a ele. E disse que, em troca, eu teria o prometido indulto”.

Ministério da Defesa

Bolsonaro ordenou que o coronel Câmara o levasse ao Ministério da Defesa para discutir os aspectos técnicos de suas propostas. “Isso é uma ordem minha”, teria dito Bolsonaro após Marcelo Câmara dizer que era “complicado” tratar esse assunto com a Defesa. Delgatti disse ter ido cinco vezes à pasta, onde conversou com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira. “Eu falei com o ministro Nogueira, o Paulo Sérgio Nogueira, e também com o pessoal da TI”.

O deputado Rubens Pereira Jr. disse que iria pedir a cópia das câmeras de quem participou da reunião com Delgatti no Ministério da Defesa. “Eu quero saber quem no Ministério da Defesa tinha como pauta, como ordem do dia, invadir as urnas eletrônicas”.

Invasão impossível

Deputado Rogério Correia e deputada Jandira Feghali

Ao deputado Rogério Correia (PT-MG), Delgatti confirmou que é impossível invadir o código-fonte das urnas eletrônicas. “O código-fonte da urna, hoje, fica num computador que não tem acesso à internet. Então, uma invasão de fora seria impossível”.

Crimes de Bolsonaro

“Veja bem, o presidente da República [Bolsonaro à época] pede para invadir as urnas, pede para fazer uma propaganda eleitoral fake, para dar convulsão social, e o leva ao ministro da Defesa para fazer o questionamento das urnas (…) veja os crimes que o ex-presidente da República cometeu para tentar criar condições impróprias de votação, ou até anular o processo eleitoral. Isso é gravíssimo, nunca vi algo desse tipo”, apontou o deputado Rogério Correia.

O deputado mineiro acredita que a prisão de Bolsonaro está cada dia mais próxima. “Diante de tudo que está acontecendo agora – as contas do Mauro Cid, o telefone do Wassef ontem, quatro telefones deles que foram também confiscados pela Polícia Federal, as prisões de hoje da tal da ‘Festa da Selma’ -, eu realmente acho que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro está próxima, por fatos concretos de tentativo de golpe, corrupção e também pelo que fez durante a pandemia, um verdadeiro genocídio no Brasil”.

Tudo interligado

Para Rogério Correia tudo o que Delgatti denunciou está ligado ao que aconteceu no dia 8 de janeiro contra as sedes dos Três Poderes. “Alguns podem dizer que não tem nada a ver com o 8 de janeiro. E eu digo que tem tudo a ver com o 8 de janeiro, porque esses tipos de atitude levaram alguns setores da população a acreditar nos absurdos que o ex-presidente da República colocou”.

Já para o deputado Rubens Pereira Jr. “quanto mais a gente investiga, mais a gente percebe que essa tentativa de golpe aconteceu em diversas esferas diferentes”.

Carla Zambelli

Segundo Delgatti, ele conheceu a deputada Carla Zambelli em um hotel em Ribeirão Preto (SP), pediu para tirar uma foto e se apresentou. Os dois teriam trocado contato e, posteriormente, a parlamentar o contatou e ofereceu uma vaga de trabalho. Ela teria prometido a ele um emprego na campanha à reeleição do candidato Jair Bolsonaro. No entanto, a proposta não avançou e ele ficou encarregado de cuidar das redes sociais da deputada. “Ela disse que havia uma oportunidade de emprego para mim, no caso, seria na campanha do Jair Bolsonaro, do ex-presidente”, declarou.

 

Lorena Vale

 

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