Especialistas ouvidos nesta quinta-feira (23) durante audiência pública da CPI que investiga a violência praticada contra jovens negros e pobres no Brasil afirmaram que as instituições de segurança pública do País estão entre as mais letais do mundo. Segundo eles, a causa do problema é a falta de políticas efetivas de combate ao crime, o despreparo dos policiais, e a falta de suporte para a atuação dos profissionais da segurança pública.
A reunião, que contou com a presença de representantes da juventude negra, foi presidida pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), presidente do colegiado.
Para o representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, a polícia brasileira é uma das mais letais do mundo, e também uma das que sofrem mais baixas. “Nosso país aceita o padrão onde a polícia mata e, ao mesmo tempo, deixa o policial morrer”, acusou Lima.
Segundo dados apresentados por ele, levantamento realizado em 2013 apontava que seis pessoas eram assassinadas por dia no país. “E o policial brasileiro tem três vezes mais chances de ser assassinado do que um cidadão comum”, lembrou Lima.
Entre as causas dessa violência o especialista também listou a formação deficiente dos profissionais de segurança pública. “Existem cursos de formação de praças onde o candidato treina tiro disparando apenas 10 vezes no ano. E ainda colocam na cabeça do policial que ele é um super-herói, e o posicionam na rua com equipamento defasado e sem colete”, afirmou.
Segundo ele, isso se reflete na forma violenta como os policiais acabam agindo nas ruas do País, vitimando muitas vezes o segmento mais vulnerável da população. “As forças policiais brasileiras mataram em cinco anos o equivalente ao que a polícia de todos os Estados Unidos da América mataram em quase três décadas”, alertou Renato Sérgio Lima.
De acordo com informações do especialista, de 2009 a 2013 foram 11.197 mortes praticadas por policiais no Brasil, enquanto nos EUA ocorreram de 1983 a 2012 cerca de 11.090 mortes.
Entre essas mortes ocorridas no país, o representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública disse que as maiores vítimas são os jovens homens negros. Levantamento apresentado por ele aponta que entre todas as vítimas mortas em contexto de violência, 53,3% são jovens entre 15 e 29 anos, 68% são negros, e 93,8% são homens.
Como uma das alternativas para reduzir a violência e mortes existentes no país contra jovens negros e pobres, o representante do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Batista Nery, defendeu o planejamento baseado em dados confiáveis. “Mesmo após a Lei de Acesso à Informação é difícil obter dados sobre a violência em muitos estados brasileiros. E quando se obtêm, são questionáveis. Sem transparência nas informações é difícil realizar um diagnóstico preciso para resolver os problemas”, explicou.
Os especialistas também concordaram que os órgãos de segurança precisam investir mais em inteligência para resolver os problemas da violência, mas sem esquecer a questão social. “Para muitos jovens o crime é uma das poucas opções de ascensão social, senão a única”, alertou Marcelo Batista Nery.
“Uma política de redução da violência tem que ser territorial, e não com um fim em si mesmo, mas com a perspectiva de garantir direitos com foco nos jovens, principalmente pobres e negros”, ressaltou Renato Sérgio Lima.
Foto: Antônio Augusto / Câmara dos Deputados
Héber Carvalho