Um clima tenso dominou, mais uma vez, a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai. A bancada ruralista, representada pelo deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) apresentou três requerimentos em que pedia a quebra de sigilos bancário e fiscal do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do Instituto Socioambietal (ISA) e da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) – entidades que atuam em favor da demarcação de terras indígenas e quilombolas. As proposições não foram aprovadas por que os parlamentares da bancada de oposição obstruíram a sessão, que após debate acirrado, foi encerrada por falta de quórum.
“Por má-fé, se usa muito a questão dos recursos que vêm da cooperação internacional para essas entidades como o porquê de quebra de sigilo de algumas organizações. Na realidade, esta CPI quer criminalizar as entidades favoráveis aos índios”, denunciou o deputado Nilton Tatto (PT-SP), que ainda alertou para o uso político da CPI que, segundo ele, revela a intenção dos ruralistas, de criminalizar as entidades que lutam em defesa dos povos indígenas e blindar grileiros e ruralistas.
“Esses deputados não querem entender que esses recursos da cooperação internacional são fruto de acordos internacionais onde o próprio governo brasileiro e governos de outros países promovem apoio para a cooperação aos países em processo de desenvolvimento”, esclareceu Tatto.
Para o deputado Paulão (PT-AL), o presidente da CPI, Alceu Moreira (PMDB-RS), usa o colegiado para fazer “operação abafa”. “Na realidade, vossa excelência faz um processo de operação abafa, de não querer discutir os requerimentos que foram apresentados e que a Polícia Federal já apontou, de grileiros, de pessoas envolvidas em violência. E esta Casa não apura essas denúncias e quer apurar logo o CIMI, que tem uma história bonita em defesa dos povos indígenas”, afirmou o deputado alagoano. Ele citou os requerimentos extra-pauta apresentados pela bancada do PT que foram atropelados de forma tendenciosa pelo presidente da comissão na condução do debate.
Na mesma linha, o deputado João Daniel (PT-SE) afirmou que os requerimentos do ruralista mato-grossense têm como único objetivo “criminalizar, denunciar bispos, padres missionários, lideranças, entidades e organizações que lutam no Brasil”.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) acusou o presidente da CPI de modificar o papel do colegiado.
“Acho que está muito clara a intenção dessa presidência, que, aliás, não deveria ser ocupada por vossa excelência. Porque vossa excelência é de uma parcialidade vergonhosa e está transformando esta CPI em um bunker de defesa dos ruralistas e de ataque aos povos indígenas e quilombolas”, acusou a petista.
Benildes Rodrigues
Foto: Luiz BErnardo Jr